Fátima: “Jogar o futuro do Brasil nesse arranjo é ultrapassar todos os limites”Se a presidenta Dilma, governante eleita por mais de 54 milhões de brasileiros, enfrenta dificuldades para superar a crise atual, não será o governo fruto de um golpe – e que já nasce sob o signo da rejeição da maioria – que vai ter condições de encontrar o caminho da retomada do crescimento e da superação das dificuldades, afirma a senadora Fátima Bezerra (PT-RN).
“Sejamos razoáveis. O consórcio Temer e Cunha é um consórcio duro de engolir. Jogar o futuro do Brasil nesse arranjo é ultrapassar todos os limites”, resumiu a senadora, em pronunciamento ao plenário nesta quarta-feira (27). Ela lembrou que mesmo com a atual exposição na imprensa, o vice-presidente Michel Temer aparece nas pesquisas de opinião com 3% de intenções de voto em uma possível disputa presidencial.
Além da imensa rejeição popular — que garante que nem Cunha nem Temer sequer passariam perto de serem eleitos para a os cargos que tentam açambarcar pelo golpe — os dois comandantes da trama são acusados de corrupção. Temer citado em delações da Lava Jato e Cunha já réu em processos no Supremo Tribunal Federal.
Sem popularidade e sem ficha limpa, o golpe completa seu “espetáculo de horrores” com um programa apresentado com o nome pomposo de “Uma Ponte para o Futuro”, na verdade “uma tosca e mal redigida reedição da do modelo que o povo brasileiro vivenciou, de forma trágica, no período FHC”. Um modelo, aliás, derrotado sucessivamente em quatro eleições presidenciais nas quais o escolheu Lula e Dilma.
“O povo tem razão em não colocar fé nessa armação, nessa farsa. Ele sabe que essa conversa bonita e esse jogo representam um retrocesso para o nosso País, representam a volta para uma etapa da nossa história que foi superada. A população sente cheiro de retrocesso e de perda de direitos e não está disposta a pagar esse preço”, ressalta Fátima.
A possibilidade de impedimento de um presidente está prevista na Constituição para casos extremos. Um regime presidencialista está assentado na ideia da responsabilidade e do respeito à soberania popular. Mas o Estado brasileiro não foi organizado para vivenciar trocas de comando sem as urnas, a não ser em situações absolutamente excepcionais, como o cometimento por parte do gestor público do chamado crime de responsabilidade. “E isso já está absolutamente claro: a presidenta Dilma não cometeu”.
Essa clareza é compartilhada não só pelo PT e os demais partidos no campo popular e progressista. “Está claro para todos que têm compromisso com a defesa da democracia, como os movimentos sociais, a intelectualidade, a maioria dos juristas, a imprensa ao redor do mundo e diversas lideranças internacionais importantes”.
Cada debate sério contribui para consolidar essa a convicção de que está em curso um golpe parlamentar contra a presidenta da República, “muito semelhante ao que foi dado contra o presidente João Goulart na sessão do Congresso Nacional da madrugada do dia 2 de abril de 1964, quando foi declarada vaga a Presidência e Jango foi deposto”, recorda a senadora.
“Sei que é incômodo falar em golpe para alguns que apoiam o impeachment, pela história de vinculação às lutas democráticas no passado. Mas não há outro nome para uma articulação cujo objetivo é depor uma presidenta legitimamente eleita e que não conseguiu governar até agora porque os derrotados, os perdedores resolveram desconsiderar o resultado legítimo do pleito de 2014”, pondera Fátima, apontando a postura de boicote sistemático ao governo movido pela oposição. “Apostaram no quanto pior, melhor. Pior para o Brasil e melhor para eles, do ponto de vista da obsessão que têm do poder pelo poder”.
Esse comportamento irresponsável contribuiu fortemente para agravar os efeitos da crise global sobre a economia do Brasil. Criaram o problema para vender sua solução: usam os efeitos de sua campanha nociva para justificar a deposição de Dilma. “Já o argumento do crime de responsabilidade decorrente de pedaladas revelou-se uma fraude, mudam as justificativas, falando em ‘governabilidade’, ‘crise econômica’ e a expressão da: o tal ‘conjunto da obra’.
Fátima lembra que se o critério para manter um governante no posto para o qual foi eleito fosse a popularidade, seriam inúmeros os prefeitos e governadores que teriam de ser afastados imediatamente, inclusive integrantes dos partidos que estão tramando o golpe. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, deveria ter sofrido impeachment, dada a enorme rejeição no segundo mandato. Ou o governador paranaense Beto Richa (PSDB), já teria sido deposto, especialmente depois de mandar a polícia massacrar os professores daquele estado.
“Em protestos contra governantes, é legítimo alguém defender sua saída. Faz parte da disputa política, do jogo de pressão, da democracia. Outra coisa é um Parlamento ir às vias de fato em um processo de impedimento com base nestes argumentos: crise de impopularidade, dificuldade, rejeição”.
Cyntia Campos
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