Ângela Portela: é inadmissível penalizar 14 milhões de famílias pobres para garantir o equilíbrio fiscal, quando há áreas inatacadas, como as grandes fortunas e o sistema financeiroA superação da crise política é condição imprescindível para que o Brasil possa cumprir o seu programa de ajuste — e nenhum ajuste pode ser feito às custas dos programas sociais. O alerta é da senadora Ângela Portela (PT-RR), que nesta terça-feira (3) destacou em plenário a manifestação “oportuna e precisa” da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no documento “Realidade sociopolítica brasileira, dificuldades e oportunidades”, divulgado no último final de semana pela entidade.
“A permanência e o agravamento da crise política e econômica que toma conta do Brasil parecem indicar a incapacidade das instituições republicanas, que não encontram um modo de superar o conflito de interesses que sufoca a vida nacional e que faz parecer que todas as atividades do País estão paralisadas e sem rumo”, afirma o documento da CNBB citado por Ângela em seu pronunciamento.
A senadora elogiou a posição manifestada pelos bispos católicos. Para ela, a análise contribui para a urgente tarefa posta para todo o País, que é “abandonar o atual estado de paralisia institucional” para “dar um passo à frente, retomando o caminho do crescimento e do bem-estar social”. E foi enfática: as dificuldades fiscais do momento não podem levar a cortes em programas sociais que foram fundamentais para que o Brasil superasse séculos de miséria extrema.
“Nunca é demais repetir: é inadmissível penalizar 14 milhões de famílias pobres para garantir o equilíbrio fiscal, quando há áreas inatacadas, como as grandes fortunas e o sistema financeiro, que, ano após ano, aumenta os seus lucros”.
Ângela registrou, ainda, a necessidade apontada pela CNBB de que “os agentes políticos abram mão de vaidades e de seus interesses eleitorais mais imediatos e mesquinhos, em prol de um consenso político”. Ela criticou a “guerra insana pelo poder imediato, com posturas políticas que mais se assemelham à chantagem”, movida pela oposição e até setores da base do governo, que usam as chamadas “pautas-bombas” como forma de pressão e acabam por aumentar as dificuldades financeiras do País, “tudo com objetivos meramente eleitorais”.
Para a senadora, enganam-se esses ao acreditar que essa estratégia apenas enfraquece o Governo Dilma. “Na verdade, eles estão enfraquecendo o País, a sociedade e, principalmente, os mais pobres”. Ângela apelou à responsabilidade dos diversos segmentos da política, cujo esforço conjunto, acredita ela, pode contribuir para a governabilidade e a superação “de uma crise econômica que tem raízes internacionais, mas que pode ser minimizada”.
Em seu pronunciamento, a senadora dirigiu-se especialmente ao PMDB, partido que compõe a base do governo, tem o vice-presidente da República e os presidentes das duas Casas do Congresso Nacional. Ela criticou as propostas apresentadas pela agremiação e que, na busca de afastar a crise, miram em conquistas sociais, como a legislação trabalhista, que pretendem flexibilizar e fragilizar, assim como a defesa do fim das vinculações constitucionais do Orçamento “que têm assegurado recursos mínimos para saúde e educação”.
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