Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que durou mais de quatro horas, a presidenta da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster, fez uma ampla análise sobre a situação da empresa no competitivo mercado de energia. Graça Foster, como é normalmente chamada, também apresentou os desafios contidos no Plano de Negócios da maior empresa do Brasil para o período de 2012-2016; o potencial existente nas novas fronteiras nas regiões Norte e Nordeste do País; a importância das refinarias Premium I e II; os investimentos em etanol e biodiesel e as perspectivas para a recuperação do prejuízo verificado no segundo trimestre deste ano, de R$ 1,3 bilhão, após o lucro de R$ 9,3 bilhões nos primeiros três meses do ano. A bancada petista esteve presente na audiência pública e acompanhou todos os questionamentos, inclusive os dos senadores da oposição. Graça Foster não deixou pergunta sem resposta e o próprio mercado financeiro respondeu positivamente: as ações da empresa subiram 3,09% (papéis ON) e 2,40% (papéis PN).
Sobre o prejuízo de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre deste ano, Graça Foster elencou quatro principais fatores que contribuíram para o resultado negativo. O aumento do dólar em relação ao real, a elevada cotação do barril de petróleo no mercado internacional, a queda na produção de petróleo, ocasionada pela suspensão na exploração de alguns poços na Bacia de Campos para manutenção e o impacto da alta do dólar sobre a dívida total da empresa. “A dívida em dólar corresponde a 74% da dívida total e, com isso, a perda no resultado financeiro foi de R$ 6,9 bilhões. Não foi um problema de caixa, tivemos também uma queda na margem de lucro. Acreditamos que é muito improvável esse resultado ser repetido porque é difícil que todos esses efeitos aconteçam novamente ao mesmo tempo”, afirmou.
A leitura que a Petrobras está fazendo da economia é positiva, segundo Graça Foster, graças ao crescimento constante e consistente do consumo. Consome-se mais gasolina, óleo diesel, etanol, fertilizantes e todo e qualquer produto a partir do petróleo. “Para a empresa esses indicadores são positivos, assim como os indicadores sociais. O nível de desemprego está em 5,7%; há uma forte migração das classes D e E para a classe C; as taxas de juros caíram de 15,75% para 7,5% ao ano e o consumo de resinas termoplásticas só aumenta. São mais pessoas consumindo produtos com base no petróleo e na petroquímica”, disse ela.
Na apresentação feita aos senadores, a presidenta da Petrobras mostrou que o mercado brasileiro de derivados de petróleo cresce acima da média mundial. Enquanto o consumo de gasolina no mundo cresce a 1,3% ao ano, no Brasil o crescimento é de 3,7%. Entre o primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro de 2011, o crescimento foi de 23,5%. O consumo de diesel, por sua vez, cresce a 2,3% ao ano no mundo e a 3,3% no Brasil, sendo que entre o primeiro semestre deste ano e o primeiro do ano passado a expansão foi de 7%. O consumo de querosene de aviação (QAV), por exemplo, cai 0,2% ao ano no mundo, mas cresce 4% ao ano no País. De 2000 até 2011, segundo dados da Petrobras e da Woodmackenzie, uma agência de pesquisas do setor petrolífero global, o crescimento foi de 53% no Brasil. No mundo, nesse período, o consumo de QAV foi negativo em 2%.
Esses números apenas refletem que o potencial da Petrobras é promissor, mesmo que a oposição tenha tentado, durante a audiência pública, obter de Graça Foster alguma crítica a seu antecessor, José Sérgio Gabrielli. Os investimentos para o período de 2012 a 2016, de US$ 236,5 bilhões, serão distribuídos na sua maior parte para a área de Exploração e Produção (US$ 131,6 bilhões), para Abastecimento (US$ 71,6 bilhões), Gás e Energia (US$ 13,5 bilhões), Internacional (US$ 10,7 bilhões), Distribuição (US$ 3,3 bilhões) e Biocombustíveis (US$ 2,5 bilhões).
O líder do PT no Congresso Nacional, José Pimentel (PT-CE), questionou Graça Foster sobre a refinaria Premiu II prevista para ser construída no Ceará, “um sonho acalentado desde 1980, cujo projeto andou um pouco nos anos 90 mas só em 2008, no governo do presidente Lula, a empresa tomou a decisão de tocar adiante o projeto”. Segundo explicou a presidenta da Petrobras, o acordo com o governo estadual para a cessão do terreno está próximo e “em breve uma reunião poderá materializar esse sonho”. “O Brasil, depois de 30 anos, voltou a fazer refinarias, importantes para atender o crescente mercado interno”, disse ela.
Já o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu que a Petrobras, com a exploração na área do pré-sal e a criação do Fundo Social, tenha um olhar especial para o modelo desenvolvido no Alasca quando da descoberta de imensas reservas petrolíferas. Após um plebiscito, a população local definiu que 25% dos royalties do petróleo extraído deveriam seguir para um fundo. Começou com US$ 1 bilhão e hoje tem US$ 41,5 bilhões, sendo que todos os anos o dividendo é distribuído entre os moradores locais que tenham residência fixa de pelo menos um ano.
O senador Wellington Dias (PT-PI) elogiou a estratégia da Petrobras em investir em novas fronteiras petrolíferas nas regiões Norte e Nordeste, não apenas na prospecção de petróleo e gás mas, também, no desenvolvimento de biocombustíveis a partir da produção de mamona, pinhão manso e cana de açúcar. O senador defendeu a descentralização dos investimentos, o que permitirá que sigam adiante as pesquisas para exploração e produção de gás na bacia do rio Parnaíba.
Sobre o etanol, Graça Foster disse que o Brasil tem a cara desse combustível, porque é pioneiro nas pesquisas e deve manter na vanguarda. Os planos da Petrobras, como empresa de energia que tem uma vocação para os hidrocarbonetos, não deixará de lado o etanol. “Teremos uma vantagem competitiva e esperamos uma convergência de preços. Queremos ser a empresa líder em etanol, que cresce como alternativa energética”.
Ao senador Lindberg Farias (PT-RJ), que destacou os avanços obtidos na gestão de José Sérgio Gabrielli, Graça Foster afirmou que a empresa vem se preparando para atingir uma produção de 4,6 milhões de barris/dia e que o desafio é recuperar a integração de todas as áreas.
Marcello Antunes