Por sugestão popular, senadores e especialistas debatem aborto

Regina Sousa: Ninguém faz aborto por esporteA questão do aborto precisa ser debatida com um olhar mais na realidade das mulheres do que em dados estatísticos ou em conceitos religiosos ou ideológicos. Assim a senadora Regina Sousa (PT-PI) espera que seja abordado o tema. Ela participou da audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) para debater a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana de gestação. A discussão foi proposta por mais de 20 mil pessoas por meio do Portal e-Cidadania.

“É importante que a gente seja capaz de se despir de questões religiosas, estatísticas, ideológicas e trate com respeito a mulher que aborta, seja por que motivo for”, disse a senadora, lembrando que ninguém, em sã consciência, faz aborto “por esporte”. Para ela, não há sentido em criminalizar uma mulher que precisa, isso sim, ser acolhida.

“A mulher que aborta sabe do risco que ela corre, da mutilação, do desprezo da sociedade que ela terá que enfrentar, mas não podemos fechar o olho para a realidade de que as mulheres continuam recorrendo à interrupção da gravidez”, explicou a senadora, que ainda abordou uma questão socioeconômica importante: “as ricas correm menos riscos, porque fazem (aborto) em clínicas chiques e com toda a segurança, enquanto as pobres fazem em casa, e só recorrem aos hospitais em último caso, porque sabem que, em geral, terão que ouvir barbaridades”.

O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidiu o debate, lembrou que ainda existe um comportamento machista sobre a questão: quando a gravidez é indesejada, muitas vezes as mulheres sofrem com o abandono e meninas chegam a ser expulsas de casa quando revelam a gestação. “Enquanto isso, os meninos continuam vivendo suas vidas normalmente”, lembrou.

Vários especialistas se sucederam no debate promovido na manhã desta terça-feira. E, conforme observou a senadora Regina, usaram os números para embasar seus posicionamentos contrários ou favoráveis à interrupção da gravidez.

“O grande problema da guerra de dados é justamente fazermos leituras enviesadas a partir dos nossos próprios conceitos”, resumiu Ana Maria Costa, representante do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde.

Representantes de entidades como a OAB, Conselho Federal de Medicina, falaram de suas posições pela não-criminalização da mulher que decide pelo procedimento. Na outra ponta, religiosos, ginecologistas e outros estudiosos do tema se manifestaram contrários.

Na plateia, os aplausos de um ou de outro lado se sucederam, numa clara disputa de conceitos e pré-conceitos.

Atualmente, o aborto só é permitido em casos de estupro, risco de vida para a mãe e quando não há qualquer possibilidade de vida do feto (em caso de bebês anencéfalos)

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Giselle Chassot

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