Pressa em discutir a partilha não interessa ao povo brasileiro, diz Lindbergh

 

Lindbergh: “Não podemos ter ingenuidade, nem ignorar que a riqueza do pré-sal brasileiro desperta a cobiça das grandes petroleiras estrangeiras”Em discurso na tribuna do Senado na tarde desta quinta-feira (18), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que não é possível discutir o marco regulatório do pré-sal a partir de questões conjunturais momentâneas. Na avaliação do senador, é preciso ampla discussão com parlamentares, especialistas, engenheiros, trabalhadores, movimentos populares, para, então, situar o papel da exploração do petróleo no desenvolvimento brasileiro no longo prazo.

“Nós temos uma riqueza inestimável e precisamos ter muito cuidado para fazer alterações no marco regulatório do pré-sal. Temos que situar a discussão no quadro da geopolítica internacional, do mercado da indústria do petróleo, do papel do Brasil no cenário internacional e das características do nosso processo de desenvolvimento”, afirmou.

O senador observou que, na América do Sul, nota-se a articulação da direita contra a soberania da Venezuela, que tem a maior reserva mundial de petróleo, superior à da Arábia Saudita. “Não podemos ter ingenuidade, nem ignorar que a riqueza do pré-sal brasileiro desperta a cobiça das grandes petroleiras estrangeiras”, pontuou.

As estimativas de reservas provadas do pré-sal variam entre 80 e 110 bilhões de barris, segundo o ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. Outros técnicos e especialistas chegam a falar em 300 bilhões de barris.

“Sabemos que a empresa passa por um momento difícil. No entanto, temos de observar a situação da indústria do petróleo. A queda na cotação do petróleo bruto, depois de o preço do óleo passar por quatro anos de relativa estabilidade em torno de US$100 por barril, colocou a indústria do petróleo em uma situação difícil. As grandes petroleiras tiveram de fazer cortes nos planos de investimento para se adaptarem a uma nova etapa, especialmente com a revolução do gás de xisto, que deu condições aos Estados Unidos de se transformarem no maior produtor mundial de hidrocarbonetos”, destacou.

Segundo Lindbergh, das cinco maiores petroleiras do mundo, apenas uma não obteve resultados piores do que o previsto em 2014. O grupo anglo-holandês Shell não teve lucros na sua principal área de negócio, a prospecção. De acordo com o banco de investimentos Goldman Sachs, podem ser cancelados projetos de exploração de petróleo de US$1,7 trilhão nos próximos cinco anos, se o barril não ficar na base dos US$70.

Nos Estados Unidos, a atividade de poços petrolíferos caiu durante nove semanas consecutivas, o que prenuncia um estancamento na produção em 2015. Além disso, algumas das maiores empresas de serviços petroleiros, como a Halliburton, anunciaram demissões no começo deste ano. Na segunda metade do ano passado, houve a maior queda de investimentos na indústria do petróleo da história em escala mundial, mais particularmente nos Estados Unidos.

“É por isso que não podemos punir a Petrobras, revogando o artigo que garante a participação da nossa estatal em pelo menos 30% do consórcio vencedor de cada bloco licitado e tirando a sua condição de operadora única das atividades de extração do óleo em áreas de grande profundidade no País”, ressaltou.

O senador lembrou os casos ocorridos na Indonésia e na Argentina. Após a privatização, os argentinos passaram a exportar petróleo a US$ 4 o barril e, mais tarde, tiveram que importar a mais de US$100. Na Indonésia, a Chevron ganhou a licitação e passou a vender o petróleo a US$1 o barril. Hoje, a Indonésia paga US$60 pelo mesmo barril de petróleo.

Com a criação do regime de partilha de produção, a grande mudança no cenário econômico brasileiro foi a retomada dos investimentos na reconstrução da indústria naval e de plataformas. “Antes do governo Lula, a indústria naval estava completamente abandonada. Seu ressurgimento é fruto de uma decisão política do ex-presidente Lula e da então ministra Dilma Rousseff, que acreditaram na indústria e no trabalhador brasileiro e apostaram na geração de empregos aqui”, afirmou.

A política de conteúdo nacional faz da Petrobras o maior motor para o fortalecimento da indústria brasileira. No processo de exploração de petróleo na camada do pós-sal, a Petrobras desenvolveu a tecnologia que possibilitou a descoberta do pré-sal no litoral brasileiro. Para isso, a empresa investiu recursos, contratou especialistas e engenheiros e correu riscos para encontrar óleo a 7 mil metros abaixo do nível do mar.

 

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