Com o programa, subiu de 247 para 582 o número de profissionais para atender a 666 mil indígenas em todo o PaísOs desafios são inúmeros e vão desde as dificuldades de chegar às áreas até promover o cuidado da população diferenciada com língua e cultura próprias. Neste contexto, o programa Mais Médicos conseguiu incrementar o número de profissionais onde eram mais necessários. Antes do Mais Médicos, os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) contavam com 247 médicos que ficavam justamente em locais onde não era necessário dormir na aldeia. Com o programa, o número aumentou para 582 médicos, dos quais 292 são médicos cubanos, oito brasileiros formados no Exterior, 26 intercambistas e nove pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab).
Desde 2011, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) vem superando adversidades para atender a cerca de 666 mil indígenas que vivem em 305 povos residentes em 5.700 aldeias, sendo que a Região Norte concentra a maior parte dessa população (cerca de 46%). A Sesai é composta de 34 DSEI, 354 Polos Bases, 68 Casas de Saúde Indígena (CASAI), 751 postos de saúde distribuídos nas cinco Regiões Geográficas.
Para o secretário especial de Saúde Indígena, Antônio Alves, o Mais Médicos foi a oportunidade para fixar o profissional médico nas áreas mais longínquas. “O programa veio compor as equipes de Saúde Indígena, que já eram formadas com técnico de enfermagem, enfermeiros, dentista, auxiliar de saúde bucal, agentes de saúde indígena, mas em muitos lugares faltavam os médicos. Principalmente nos territórios que compõem a Amazônia Legal, onde fica concentrada a maior população indígena no Brasil”, lembra.
Nesses locais, os profissionais precisam ficar 30 dias nas áreas com folga de 15 dias. Quando não é possível tratar o indígena no local, na aldeia, ele é removido para Casais que ficam na cidade. “Se necessário são levados para os hospitais que compõem o SUS, como um parto complicado, por exemplo. Temos técnicos de enfermagem e assistentes sociais que ficam responsáveis por esse indígena e depois levam ele de volta para a aldeia”, explica.
Segundo o secretário, ainda não é possível mensurar em dados o impacto da presença dos médicos nas Unidades Básicas de Saúde Indígena nessa população. Porém, já pode ser percebido, porque houve redução de encaminhamento para as Casais, com maior resolutividade dos casos na aldeia. Ele afirma que até nas estatísticas os médicos terão um papel importante, pois em alguns casos faltavam profissionais para assinar óbitos e determinar a causa da morte. Os dados servem para aperfeiçoar a política de assistência a esses povos.
“O médico também traz mais segurança para os demais profissionais que compõem as equipes de saúde indígena, pois em muitos casos apenas o médico pode fazer a intervenção que irá curar aquele indivíduo”, diz Antônio Alves. Para entender a importância de resolver os casos na própria aldeia, é preciso conhecer as distâncias e os acessos a esses locais.
Há aldeias, por exemplo, no DSEI Vale do Javari, no Amazonas, em que para se chegar é preciso até 14 dias de barco. Em alguns DSEI, o Ministério da Saúde conta com aluguel de horas de voos, de helicóptero, monomotor ou bimotor para reduzir o tempo de deslocamento. “Porém, poder fazer o procedimento na aldeia mesmo traz mais segurança para os indígenas, que não precisam deixar a aldeia, e menos risco de vida para os pacientes”, destaca.
Barreira da língua
Com relação ao obstáculo da língua com relação aos cubanos, o secretário lembra que o mesmo vale para os médicos brasileiros, porque muitos indígenas não falam português. Para facilitar o contato, as equipes contam com agentes de saúde indígenas que,entre outras funções, também ajudam na tradução. A SESAI conta para atendimento na área de atenção básica e saneamento básico em aldeias com 19.700 trabalhadores, sendo que 50% deles são indígenas. O orçamento para esta área triplicou nos últimos três anos, passando de R$ 479 milhões, em 2011, para R$ 1,39 bilhão, em 2015.
Uma característica da Saúde Indígena é respeitar as tradições de cada aldeia, seus pajés, benzedeiras e rezadeiras, com o uso de ervas naturais no trabalho. Sob este aspecto, os médicos cubanos também puderam contribuir, pois eles utilizam ervas medicinais em seus tratamentos. “Para eles (médicos cubanos e outros estrangeiros) também têm sido uma experiência valiosa, pois não há índio de onde eles vêm e eles podem aprender muito com nossos indígenas”.
“Hoje, eles são adorados pelas comunidades. Os médicos cubanos têm esse modo de agir. Eles usam os sentidos, tocar, escutar, ver, para fazer o diagnóstico, isso tem aproximado eles”, diz o secretário. O secretário conta que como os médicos ficam 30 dias ininterruptos na aldeia, mesmo quando estão de folga, costumam visitar os pacientes para ver a evolução do tratamento. Outro termômetro é a aceitação dos indígenas. “Nós só entramos lá com a autorização do cacique e para ficar lá, é preciso do mesmo jeito”.