Gleisi: não houve estouro das despesas; o que houve foi redução da receitaSob o pretexto de que seria preciso reduzir despesas, o governo Temer prepara uma verdadeira bomba para os brasileiros que mais precisam das políticas sociais. Uma bomba cujos efeitos continuarão a ser sentidos nas próximas duas décadas. É a chamada “PEC da Morte” (PEC 241/2016), que quer congelar os investimentos públicos por 20 anos. E o pior é que essa proposta antipovo se fundamenta em um diagnóstico falso, aponta a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
“O governo diz que tem de reduzir as despesas porque elas estouraram. Esse diagnóstico está errado. Não houve estouro das despesas, que até caíram em relação ao PIB. O que tivemos foi uma redução da receita, por conta da crise econômica”, analisa a senadora, que preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). E os tempos de crise, ressalta ela, são os momentos em que os investimentos do governo são mais necessários. Não é hora de congelar, mas assegurar investimentos para movimentar a economia.
A PEC 241/2016, apresentada por Temer quando ainda era interino, é “o remédio errado para a situação”. Quando o sistema privado não consegue gastar, as famílias não podem gastar, quem tem que gastar é o Governo. “Nós vamos entrar num círculo vicioso, o que vai ser pior”, alertou Gleisi, em pronunciamento ao plenário nesta segunda-feira (10). Na terça-feira (11), a senadora vai presidir um debate na CAE sobre a PEC as Morte, quando os senadores poderão ouvir especialistas e aprofundar a reflexão sobre os riscos de aprovação dessa matéria, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados.
Campanha, afago e pressões
Gleisi chamou a atenção para as contradições no comportamento do governo Temer. Ao mesmo tempo em que propõe um congelamento de investimentos que ameaça fazer terra arrasada com as políticas de educação, saúde e segurança pública—só para citar três áreas estratégicas—o Executivo gasta milhões de reais com a propaganda dessa proposta. “Se a PEC é tão boa assim, não precisava de uma campanha milionária”.
Só com o banquete oferecido a 400 parlamentares, no último final de semana, Temer pode ter gasto R$ 30 milhões, segundo avaliação de especialistas em gastronomia e organização de grandes eventos. O milionário regabofe foi um afago do presidente ilegítimo a seus apoiadores no Congresso a aprovar a PEC da Morte. Em meio ao festim, Temer afirmou que seu governo está “cortando na carne”—só esqueceu de especificar na de quem.
Ao mesmo tempo em que oferece banquetes, o governo faz escancarada pressão sobre os deputados do PMDB para que votem a favor da PEC da Morte — a votação poderá ser realizada ainda na noite desta segunda-feira (10), no plenário da Câmara. Se votarem contra, os parlamentares peemedebistas pode ser suspensos do partido e até expulsos da legenda e perderem o mandato. “Nada que seja bom para o Brasil precisa ter uma ameaça desse nível”, aponta Gleisi Hoffmann.