A reação indignada do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) frustrou a manobra do PSDB para esvaziar a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, realizada nesta quinta-feira (23/02) para debater a violência policial na desocupação do Pinheirinho. Como vem sendo fartamente noticiado desde o último dia 22 de janeiro, o Pinheirinho era a comunidade onde viviam 1.600 famílias de São José dos Campos, interior de São Paulo, desalojadas neste dia, desde às 5h50 da manhã, por bombas de efeito moral, cassetetes e balas de borracha, após oito anos vivendo no local.
Suplicy rebateu com energia as acusações de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), de que a audiência pública tinha uma “única mão” e que o PT “terceirizava ações de grupos radicais”. O senador tucano havia tentado, sem sucesso, justificar a ausência do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, do mesmo partido PSDB, e da Justiça de São Paulo. Eles não compareceriam por causa da “parcialidade” da reunião, justificou o senador tucano, argumentando que se tratava de uma manobra do PT. No ápice, Aloísio Nunes insinuou que funcionárias do gabinete de Eduardo Suplicy teriam participado da “armação”.
Ferreira queria que a audiência sobre o Pinheirinho discutisse “o uso da força física policial para a manutenção da ordem” de um modo geral, alegando que a CDH aprovara debater também episódios de reintegração de posse no Distrito Federal, na Bahia, no Acre e no Piauí, estados governados pelo PT.
Esclarecido pelo presidente em exercício da comissão, Pedro Simon (PMDB-RS), de que esses casos serão debatidos em audiências específicas, restou ao tucano sentar-se e assistir aos cerca de 30 minutos de um vídeo repleto de cenas e relatos de violência policial no Pinheirinho.
“Que Vossa Excelência possa ter a dignidade de ficar e ouvir o testemunho sobre os fatos que diz que não ocorreram”, reagiu Suplicy, quando o tucano ameaçou retirar-se do Plenário.
O “outro lado”
Logo na abertura da audiência, Suplicy relatou a série de reuniões feitas por ele com integrantes do Executivo e do Judiciário paulistas, visando a contar com a presença de representantes dos dois poderes no debate sobre o Pinheirinho. A data da audiência para esta quinta-feira foi decidida em comum acordo com membros do governo paulista, exatamente para garantir a presença deles. Estavam convidados o comandante-geral da Polícia Militar paulista, Coronel Álvaro Batista Camilo e os secretários de estado de São Paulo Heitor Ferreira Pinto (Segurança Pública), Luiza de Souza Arruda (Justiça e Defesa da Cidadania) e Silvio Torres (Habitação). Nenhum deles compareceu para confrontar os testemunhos dos moradores do Pinheirinho.
A ausência dos representantes do governo paulista foi justificada por meio de ofício, assinado o chefe da Casa Civil do estado, Sidney Beraldo, no qual ele afirma que as autoridades convidadas não compareceriam “porque não seria ouvido o outro lado”, como afirmou Aloysio Nunes. O senador tucano também tentou desqualificar as denúncias de abuso sexual contra moradores da área, divulgadas por Suplicy, o que levou à reação indignada do senador petista.
Somente às 10:17h, após serem contestadas todas as objeções do tucano, a audiência pode ser iniciada, com a exibição do vídeo sobre a violência policial e as condições em que estão vivendo os moradores do Pinheirinho, recolhidos a abrigos improvisados.
Assista à integra do depoimento indignado do senador Eduardo Suplicy, clicando aqui.