Paim: É bem provável que alguns senadores não concordem com o meu ponto de vista, mas vou solicitar que haja liberdade no meu voto, como sempreAs medidas que modificam algumas regras de concessão de direitos trabalhistas – MPs 664 e 665 – e o projeto que amplia a terceirização (PL 4.330) foram o centro de uma entrevista cedida pelo senador Paulo Paim (PT-RS) à jornalista Maíra Streit, do Portal Fórum, nessa segunda-feira (11).
Paim sinalizou que irá apresentar emendas em plenário às duas MPs para tentar diminuir aos trabalhadores brasileiros. Para ele, as medidas do ajsute estão muito concentradas “no andar de baixo, naqueles que mais precisam”.
Demonstrando sua preocupação com “uma onda conservadora” capitaneada pela Câmara dos Deputados, o senador disse que também está atuando na articulação de uma frente progressista. “O projeto que encabeça a nossa discordância é o da terceirização”, observou.
Paulo Paim ainda falou que pretende insistir no fim do fator previdenciário e defendeu um retorno do PT às suas raízes. “[O PT] veio para combater a impunidade e a corrupção, defender os trabalhadores do campo e da cidade, para que haja direitos iguais para todos. E não tirar daqueles que ajudam a mobilizar a economia e são uma mola propulsora do mercado interno”, ressltou.
Confira a íntegra da entrevista:
Senador, por gentileza, explique um pouco sobre as sugestões de alteração no texto das MPs 664 e 665 e de que forma elas poderão diminuir os sacrifícios no bolso do trabalhador, diante do ajuste fiscal promovido pelo governo.
O que a gente nota é que está havendo uma onda conservadora nos direitos dos trabalhadores, capitaneada pelo projeto da terceirização. Terá uma audiência pública na quinta-feira [no Senado Federal], que leva o título de “A Lei Áurea, Terceirização e o Combate ao Trabalho Escravo”. Já mostra a nossa indignação com esse projeto.
A outra questão são as duas MPs, que nos preocupam muito, e trazem prejuízos, por exemplo, para o trabalhador da área rural, o trabalhador da área pública, o pescador, as viúvas e quem depende do seguro-desemprego. Estamos mexendo no andar de baixo, naqueles que mais precisam. Isso, no meu entendimento, é inaceitável. Irei votar contra as duas MPs, para trazer menos prejuízos aos trabalhadores brasileiros. E vou expor esse meu ponto de vista à bancada.
E espera enfrentar muita resistência?
É bem provável que alguns senadores não concordem com o meu ponto de vista, mas vou solicitar que tenha liberdade no meu voto, como sempre.
Estamos vivendo um momento particularmente difícil para a classe trabalhadora, não só por essas medidas, mas pelo massacre que vimos ocorrer no Paraná, o PL da terceirização, o fato de o presidente da Câmara, de forma arbitrária, sequer deixar os sindicalistas entrarem na Casa…
Concordo com você. Estamos vivendo isso no Brasil e, se analisarmos a complexidade, é o pior momento no período pós-ditadura. É um momento muito difícil. Taxa de juros alta, financiamentos sendo diminuídos – em programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Fies -, a situação dos brasileiros que estudam no exterior… E, além dessa situação conjuntural no País, há uma onda muito conservadora vindo da Câmara para o Senado.
Quero conversar com o presidente [do Senado] Renan Calheiros para que tenhamos uma pauta positiva contra essa onda de atraso que está chegando. Nossa posição tem que ser muito firme para montar uma frente progressista. O projeto que encabeça a nossa discordância é o da terceirização. Queremos fazer um bom combate aqui dentro e buscar a mobilização lá fora para que não aceitemos o retrocesso.
Então, a saída é intensificar a pressão.
Tem que pressionar. Tem que ficar muito claro, mostrar que o povo tem condições de fazer esse bom combate e uma delas é o voto. É deixar que os políticos entendam que a arma do povo é o voto e ele tem de ser usado para mostrar seu descontentamento àqueles que só buscam o bem pessoal, trazendo um prejuízo enorme ao conjunto da população brasileira.
Além de votar mudanças nas MPs, vou insistir muito na questão do fator previdenciário, que é uma lei cruel, cortando pela metade o salário dos trabalhadores no ato da aposentadoria. É uma injustiça enorme.
Não é hora de o PT dizer a que veio e assumir a defesa dos trabalhadores?
Ele tem que voltar às suas raízes, que foram embaladas nos sonhos de milhões e milhões de brasileiros. Ele veio para combater a impunidade e a corrupção, defender os trabalhadores do campo e da cidade, para que haja direitos iguais para todos. E não tirar daqueles que ajudam a mobilizar a economia e são uma mola propulsora do mercado interno.
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