Quase R$ 500 milhões por ano para combater efeitos da obesidade

Ações como avaliação nutricional e visitas a unidades básicas de saúde fazem parte da agenda de escolas públicas.

 

Existem programas específicos para dar aos
professores orientações para a qualidade da
merenda e também para fazer aulas de educação
alimentar

Quase meio bilhão de reais por ano. Esse é o gasto anual do Sistema de Saúde para tentar conter uma epidemia que se espalha pelo mundo e tem sérias consequências para a saúde do brasileiro: a obesidade. Para combater seus danos associados, como o câncer, doenças cardiovasculares e diabetes, os gastos são imensos. Vale dizer que a epidemia se espalha e cresce assustadoramente entre crianças.

O Governo Federal partiu para o contra-ataque contra guloseimas, fast-food e frituras, oferecidas principalmente às crianças nas cantinas escolares. Ações como avaliação nutricional e visitas a unidades básicas de saúde fazem parte da agenda de escolas públicas brasileiras desde o mês de março do ano passado. Neste ano, ao lançar a campanha de combate à obesidade infantil, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que o quadro brasileiro começa a ficar preocupante “Se a gente construir uma geração de crianças e adolescentes que gostam de fazer atividade física, se alimentar direito, aprendem o que é alimentação, vamos ter uma geração de adultos mais saudáveis com menor risco de chegar a geração de obesos”, disse.

A campanha, que faz parte da Semana de Mobilização Saúde na Escola 2013, levou 13 mil equipes do Saúde da Família a mais de 30 mil escolas públicas em 2.300 municípios. A previsão do ministério é que R$ 10 milhões sejam investidos no projeto. Para estimular os municípios a chamar as equipes de saúde para dentro das escolas, o Governo vai repassar para as prefeituras R$ 594,15 por cada equipe mobilizada.

“Saímos de 16 mil escolas em 2012 para 30 mil escolas neste ano. De 7 milhões de alunos, devemos pular para 14 milhões de alunos atendidos em todo o Brasil. Queremos ampliar ainda mais”, completou o ministro.

A preocupação do Governo também é com o reflexo de hábitos alimentares na saúde das crianças dentro de casa. Segundo Padilha, conscientizar os alunos para mudar os hábitos também fora da escola diminuir o risco de desenvolvimento de problemas de saúde que atrapalham o desenvolvimento educacional, como dificuldade de dormir, dor na coluna, maior risco de cair, problemas nas articulações, além de diabetes e pressão alta.

Merenda
Nas duas últimas décadas, a obesidade entre crianças de 5 a 9 anos saltou de 4,1% para 16,6% entre os meninos e de 2,4% para 11,8% entre as meninas. Entre os adolescentes, o excesso de peso passou de 3,7% para 21,7% nas últimas quatro décadas.

Questionado se o programa prevê alguma alteração na merenda escolar, Padilha afirmou que são os municípios os responsáveis por comprar os alimentos oferecidos às crianças nas escolas. No entanto, continuou, há um diálogo constante entre os ministérios da Saúde e da Educação para atualizar a lista de recomendações que consta no portal do MEC e no do professor.

“O MEC faz uma recomendação, mas quem compra é o município. O governo recomenda que seja de qualidade. Para isso, a lista tem uma atualização permanente do perfil dos produtos que têm de ser comprados. Além disso, há programas específicos para dar aos professores orientações para a qualidade da merenda e também para fazer aulas de educação alimentar dentro de sala de aula”, explicou o ministro.

Alimentação saudável

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Projeto relatado por Ângela Portela modifica o
ECA para tornar obrigatória a promoção da
alimentação saudável

No Congresso Nacional, também alarmados pelo vertiginoso crescimento da obesidade infantil no Brasil, os senadores da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado já aprovaram, uma modificação no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para tornar obrigatória a promoção da alimentação saudável. Para a senadora Ângela Portela (PT-RR) – responsável pelo parecer que levou a aprovação da matéria –, a medida consiste em uma “proteção à infância e à juventude”.

De acordo com o autor do projeto (PLS 294/2012), senador Gim Argello (PTB-DF), após o término de toda a tramitação da matéria, no ECA reafirmará o dever do Poder Público ações mais concretas à obesidade infantil. A justificativa da matéria cita, como exemplo, “medidas voltadas para o controle da publicidade dos alimentos não saudáveis, especialmente voltadas para o público de crianças e jovens; normas de rotulagem de alimentos que garantam as informações indispensáveis para orientar escolhas mais saudáveis; e restrição da oferta de alimentos não saudáveis no ambiente escolar.”

O texto chamou atenção para a existência de uma série de pesquisas indicando que o público infanto-juvenil tem sido alvo de campanhas publicitárias que estimulam o consumo de alimentos pouco saudáveis. São considerados alimentos danosos à saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde: alimentos com teores elevados de gordura, de gordura trans, de açúcar e de sódio, além das bebidas de baixo valor nutricional.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, também sempre foi uma defensora do cuidado com a alimentação dos pequenos. Em pronunciamentos no plenário e artigos na mídia, ela questionava basicamente a publicidade que “vende” a imagem de que guloseimas associada a heróis e personagens de desenhos animados. “O consumo excessivo de alimentos não saudáveis é um problema no Brasil e no mundo. As Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT) como obesidade, diabetes, problemas do coração e problemas dentários são problemas de saúde pública causados diretamente pelo consumo excessivo de alimentos com quantidades elevadas de açúcares, gorduras ou sódio. As mortes causadas por DCNTs ocorrem principalmente na idade adulta, mas a situação de risco começa a ser construída na infância, principalmente devido aos hábitos alimentares.”, disse Marta em artigo publicado no site 247.

Em grande parte das famílias, as guloseimas e o fast-food, consumidos esporadicamente no fim dos anos 1980, substituíram o almoço e o jantar. Um registro detalhado da nova mesa brasileira aparece no documentário Muito além do peso, da diretora Esteia Renner. Nas pequenas e nas grandes cidades, crianças de todas as classes sociais não sabem diferenciar um pimentão de um rabanete. Ou um abacate de uma manga. Deter a epidemia é responsabilidade de todos (escola, governos, indústria). E um fato não pode ser desprezado: a obesidade é construída dentro de casa.

Uma em cada três
De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada entre 2008-2009, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças brasileiras com idade entre 5 e 9 anos estão com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. Entre os jovens de 10 a 19 anos, 1 em cada 5 apresentam excesso de peso. O problema já afeta 1/5 da população infantil e pode resultar em uma geração futura de obesos, hipertensos, diabéticos, com riscos cardiovascular, renal e cerebral aumentada, o que a Saúde quer evitar.

No Brasil, a indústria de alimentos aposta na propaganda dirigida ao público infantil. De acordo com pesquisa da Universidade de Brasília 72% das publicidades de alimentos são de alimentos não-saudáveis, e 44% das propagandas de alimentos são voltadas ao público infantil.

Esta situação é tanto mais agravada, quando se sabe que a criança brasileira é a que mais vê televisão no mundo. De acordo com o Painel Nacional de Televisores do Ibope 2007, as crianças brasileiras entre quatro e 11 anos passam, em média, cerca de 5 horas diárias em frente à TV.

O indicador mais forte das conseqüências desta situação, citado no Seminário da CDHM, está em recente pesquisa do IBGE, que registrou aumento de 200% na incidência de sobrepeso em crianças de cinco a nove anos de idade. Este percentual aponta para o surgimento de uma epidemia comparável à que já ocorre nos Estados Unidos, onde a situação é muito grave e se tornou um problema de Governo.

Por que engordamos
A edição desta semana da revista Época mostra que a maioria das pessoas engorda pela simples combinação de sedentarismo e erros alimentares. Se o corpo recebe mais energia do que consegue gastar, ela será estocada na forma de gordura. Graças a esse mecanismo, a espécie humana conseguiu sobreviver no tempo em que habitava cavernas, mal conseguia se proteger do frio e a comida era escassa. O que era uma vantagem na dura Pré-História tornou-se um problema no conforto do século XXI. Embora seja a mais freqüente, essa não é a única causa de obesidade.

Em menos de 10% dos casos, o ganho de peso pode ser creditado a causas orgânicas, como distúrbios hormonais ou tumores. Sozinha, a genética justifica cerca de outros 5%. Basta uma alteração num único gene para que o excesso de peso ocorra desde os primeiros meses de vida, geração após geração. Na parcela restante, 85%, a obesidade é explicada por uma combinação de fatores: vários genes aumentam a predisposição ao ganho de peso, mas isso só ocorre se o ambiente favorecer.

Cada um de nós chega ao mundo com instruções básicas de funcionamento guardadas nos genes. O ambiente pode fazer com que algumas dessas instruções sejam ignoradas ou excessivamente valorizadas. Essa interpretação do manual de fabricação começa antes mesmo do nascimento. As condições de vida dentro do útero da mãe podem alterar as ordens ditadas pelos genes. O útero de uma mãe obesa ou de uma mulher magra que engorda excessivamente durante a gestação (30 quilos ou mais) terá altos níveis de substâncias como glicose, insulina e leptina (o hormônio que regula o apetite). Elas podem alterar no feto a resposta da região cerebral responsável pelo comando da fome e da saciedade. Também podem aumentar a formação de células de gordura no bebê. Ao longo de toda a vida, ele terá facilidade para ganhar e acumular peso.

O mesmo pode acontecer num útero pobre em nutrientes. Se a mulher for magra demais e não engordar o suficiente durante a gestação, a criança pode nascer programada para estocar o máximo de energia. É uma resposta do organismo à privação. Durante a amamentação, a ação do ambiente continua. Bebês precisam ser amamentados durante pelo menos seis meses. A privação do aleitamento, muitas vezes associada à suplementação com farinhas e outros produtos inadequados, estimula o corpo a poupar. Quando a fartura alimentar chegar, a criança estará programada para estocar energia e ganhar peso com facilidade. Quando um dos pais é obeso, o risco de o filho ser gordo é de 40%. Se pai e mãe forem obesos, o índice sobe para 80%

Com informações da Revista Época, do Portal Terra e do Ministério da Saúde
Foto: www.saobernardo.sp.gov.br

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