A denúncia apresentada pelos procuradores da equipe da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula é “um espetáculo dantesco. A materialização da perseguição política”, reagiu o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Para ele, está claro que há uma articulação em curso para inviabilizar a candidatura de Lula à Presidência da República em 2018, complementando o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff de seu mandato legítimo e, “se for o caso, e destruir a esquerda”.
Para Humberto, trata-se de um processo às avessas, no qual primeiro se escolhe o culpado e depois se constrói os crimes. “Ficam fazendo um contorcionismo de investigação para provar essa acusação. O presidente Lula agora é obrigatoriamente proprietário de um apartamento que não há nada que prove que é dele”. O líder petista cobrou rigor contra denúncias de corrupção mais graves e mais substanciadas, que seguem sem apuração e sem qualquer atenção da mídia.
Espetáculo a 15 dias das eleições
“Já investigaram a denúncia sobre os milhões de Serra no exterior? Já investigaram a denúncia sobre os milhões de Temer? Já investigaram Fernando Henrique Cardoso?. O [procurador da República Deltan] Dallagnol nunca cogitou investigação sobre isso. Estou indignado.”
O senador Paulo Paim avalia que são tantas as críticas, denúncias e ataques contra Lula que a credibilidade do bombardeio é posta em cheque. “Chegou no exagero que não cola mais junto à população”. Ele pondera, ainda que o oferecimento de denúncia contra alguém não significa culpa. “Vai ser feita a investigação, não é o julgamento”.
O senador gaúcho afirmou não ver novidade no que foi apresentado hoje, com pompa e circunstância, pela equipe da Operação Lava Jato, em uma entrevista coletiva transmitida ao vivo por diversos canais de notícia. Surpreendente, para ele, é que isso tenha ocorrido, da forma “espetaculosa” que ocorreu, 15 dias antes das eleições municipais. “Isso nos deixa perplexos”.
MP optou por “arbítrio e abuso”
“É grande a indignação”, reagiu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em vídeo postado nas redes sociais. “Em respeito a tudo que Lula representa para o povo brasileiro, essa denúncia é uma grande injustiça. Não há fatos, não há provas. O que tem é uma campanha midiática de difamação permitida—se não dirigida, mesmo—pelo Ministério Público”, denunciou a senadora.
Para Gleisi, depois de meses de imputações falsas e sem fundamento, o Ministério Público “não poderia nem deveria fazer essas acusações”, já que não estão sustentadas em provas. “Mas o MP as faz, porque escolheu o arbítrio e o abuso”.
Denúncia internacional
“O clima entre nós é de revolta”, revelou o senador Lindbergh farias (PT-RJ. “Só temos um caminho: fazer uma vigorosa denúncia internacional sobre o que está acontecendo no Brasil”, ressaltou. Para Lindbergh, a tentativa de inabilitar Lula para a disputa de 2018, na esteira da cassação do mandato de Dilma, é a expressão clara de “um golpe continuado”.
Para Lindbergh, é preciso “endurecer o discurso, falar para o mundo, denunciar a farsa em curso no Brasil”.
Rui Falcão, presidente Nacional do PT, acredita que “se houver um mínimo de Justiça, esta denúncia não deveria ser acatada” [pela justiça]. Ele lembra que a base de todo o espetáculo—a suposta propriedade de um apartamento no Guarujá—está mais do que desmoralizada. “Está mais do que comprovado que o presidente Lula não é o dono”. Para Rui, trata-se de tentar interditar Lula, inviabilizá-lo como candidato, já que ele é franco favorito para voltar à Presidência pelas urnas, em 2018.
“Má fé ou incompetência?”
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence (BA), mostrou indignação com o que já “parece ter virado rotina: a perseguição política a Lula”. Ele lembrou o pedido de condução coercitiva do ex-presidente, que sequer foi precedido de uma convocação e pedido de indiciamento a partir de uma delação premiada sem nenhuma investigação. “E não se investiga seis delações em relação ao Aécio e várias delações sobre Serra”. Para Florence, “não basta investigação, tem que ter provas”. Ele pondera que, talvez, não se trate de má fé dos agentes públicos envolvidos nos trabalhos da Lava Jato. “Pode ser incompetência, também”.
Cyntia Campos, com informações de agências