Dirigente da Sudam destacou pesquisa apoiada pelo órgão que utiliza a batata doce para a produção de etanolO presidente da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), Djalma Bezerra, defendeu o investimento em pesquisa como instrumento estratégico para fomentar o desenvolvimento econômico sustentável na região. Bezerra falou nesta quarta-feira (15) à Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), em audiência pública convocada para debater o papel da Sudam.
“Só com pesquisa e desenvolvimento tecnológico vamos desenvolver a Amazônia sem prejudicar o meio ambiente”, defendeu Bezerra. Ele detalhou as pesquisas que a Sudam tem apoiado nessa área, como o financiamento de um estudo da Universidade Federal do Tocantins que pesquisa a utilização da batata doce na produção de etanol, tanto anidro quanto hidratado (utilizado como combustível para automóveis). O objetivo é conseguir uma produção social na Amazônia Legal. “Pretendemos que a produção na Amazônia crie centenas de milhares de empregos”, disse.
Na Amazônia, segundo Bezerra, utiliza-se mais a gasolina nos automóveis do que o etanol hidratado. Isso porque, para ser viável economicamente, o valor do etanol precisa corresponder a, no máximo, 70% do preço da gasolina. Na pesquisa apresentada pelo superintendente, o etanol chega a valer praticamente o mesmo preço do combustível fóssil no Amapá, por exemplo.
“Por que o preço do etanol e da gasolina são quase idênticos? Porque os custos de importação do produto são altos. No momento que produzirmos etanol na Amazônia, será bem mais barato. Até porque a produção do etanol a partir da batata é mais barata do que o proveniente da cana-de-açúcar”, disse.
O dirigente explicou que a alternativa é necessária por ser “praticamente impossível” na Amazônia se plantar cana-de-açúcar – principal matéria prima utilizada no Brasil para produção de etanol. “Isso porque a resolução 3813/2009 veda o financiamento do plantio de cana nos biomas Amazônia, Pantanal e bacia do Alto Paraguai. Como não podemos plantar cana, ou seja, não temos incentivo financeiro para isso, fomos buscar outra matéria-prima”.
O financiamento de futuros empreendimentos para esse tipo de produção vem sendo fomentado pela Sudam. Os recursos viriam pelo Banco da Amazônia, por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), e pela Sudam, pelos recursos disponíveis no Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA).
“A Amazônia tem a terra, a mão de obra – por meio da agricultura familiar, assentados do Incra, etc – equipamento e financiamento. Só nos falta os organizadores da produção, ou seja, os empresários que se mostrem interessados em investir na produção de etanol”, explicou Bezerra.
O senador Donizeti Nogueira afirmou que vem acompanhando o desenvolvimento dessa pesquisa e elogiou a iniciativa da superintendência. “O Etanol derivado da batata-doce é uma alternativa que vem cobrir esse vácuo deixado pela política em relação à cana-de-açúcar. Vem para potencializar essa atividade econômica para o resto do País. O que faltava foi o trabalho da Sudam para concluir essa pesquisa”, disse.
Outros projetos apoiados pela Sudem com viés sustentável incluem a transformação do caroço de açaí em carvão vegetal, pesquisa desenvolvida na Universidade Federal da Amazônia, no Pará.
Valor agregado
Além do desenvolvimento sustentável, Bezerra disse que um dos desafios na Amazônia Legal é ampliar a diversificação da cadeia produtiva. Na região, boa parte da produção agropecuária e mineral é exportada de forma bruta.
Para o senador Paulo Rocha (PT-PA), é preciso que sejam estudadas formas de incentivar a produção de maior valor agregado. “Por exemplo, o Pará é o maior exportador do País de boi em pé. No entanto, há poucos investimentos na produção de maior valor agregado no mercado, como o couro, cortes bovinos, etc. É preciso mudar esse cenário”, apontou o parlamentar.
O senador reclamou que a Região Norte ainda é percebida pelos órgãos planejadores do país como voltada especialmente para as exportações. Para reverter essa lógica, Rocha defende que 30% dos recursos dos Fundos de Desenvolvimento deveriam ser destinados para pequenos produtores.
Comércio intrarregional
Bezerra também manifestou preocupação com em ampliar o comércio intrarregional entre os nove estados que fazem parte da Amazônia Legal. “O empresário da região ainda não conhece o que é feito nos outros estados. Isto precisa mudar, é o melhor caminho para aumentar o PIB, gerando renda e emprego”, afirmou. Ele garantiu que a situação vem mudando gradualmente, mas que a região ainda tem um enorme potencial para crescer.
O superintendente também destacou o objetivo de tornar a Amazônia Legal em um foco de investimentos para empresários de outras regiões, com redução de impostos da ordem de 75% e melhoria da infraestrutura, principalmente na área da energia. Para isso, o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA) destinou 82% de suas verbas para o incremento da infraestrutura. “Com R$ 4 bilhões do FDA, conseguimos alavancar R$ 17 bilhões de outras fontes. Sem infraestrutura não existe um verdadeiro desenvolvimento”, disse. Djalma, no entanto, ressaltou a importância de ampliar os recursos destinados às superintendências regionais de desenvolvimento.
Para Donizete Nogueira, o Congresso tem o desafio de destinar mais verbas para a Sudam. O senador quer também que o órgão tenha uma política voltada para a atração de investimentos chineses, uma oportunidade que percebe devido à diretriz dada pelo governo daquele país, com foco em investimentos industriais.
De acordo com o representante do ministério da Integração Nacional, Jose Wanderley Barreto, que também participou da audiência, os três Fundos de Desenvolvimento, voltados para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, têm R$ 121 bilhões para investimentos nos próximos 4 anos. Ele disse ainda que os projetos paralisados da antiga Sudam podem ser retomados, desde que sejam apresentadas propostas viáveis.
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