Compromisso e respeito: nada me afastará |
Se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não conseguiu expor em um artigo o rancor tucano sobre a foto que mostrou Lula e Dilma sorrindo, num encontro realizado na semana passada na biblioteca do Palácio da Alvorada, identificando que não há qualquer hipótese para uma cisão entre os dois, hoje o senador Aloysio Nunes, líder do PSDB no Senado, materializou o descontentamento de seu partido porque a intriga espalhada na mídia não prosperou – e nem prosperará.
Por mais de dez minutos, o líder do principal partido de oposição aos governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff desfiou um rosário de amarguras, criticando, veementemente, a foto que rodou o mundo mostrando Lula e Dilma sorrindo e de mãos dadas. Para a principal voz do PSDB, não há motivos para sorrir, já que a visão tucana é que existe uma crise onde o culpado seria o PT – o detalhe é que o senador por São Paulo passou longe, distante de qualquer problema que afeta milhões de paulistas e paulistanos, seja pelo escândalo de corrupção nas licitações do metrô-Alstom e Siemens na gestão do PSDB, seja pela total falta de política pública para garantir o abastecimento de água aos moradores, já que um racionamento pode ser anunciado a qualquer momento.
Nada disso. Aloysio Nunes foi além e disse: “Não sou especialista em sorrisos. O ex-presidente (Lula) parece que não desencarnou da presidência, usando a biblioteca do Palácio da Alvorada como se fosse sua casa. Ele está embevecido, efetivamente, com a ostentação do poder, com o fato de ser uma figura absolutamente indispensável não apenas na liderança política, no protagonismo político, mas até mesmo na operação do dia-a-dia do governo da presidenta Dilma Rousseff, comportando-se e ostentando posição e a condição de ser o mentor, o mandachuva. Sorri embevecido com o seu próprio poder, tanto assim que a fotografia foi divulgada pelo presidente Lula. Até a fotografia que vai para a imprensa é a fotografia do Instituto Lula”, reclamou.
Em outra parte de seu discurso, externando o desespero tucano, Aloysio Nunes jogou sua cordialidade e fineza para o espaço e foi agressivo: “a presidenta Dilma, ao se apresentar como candidata, voltando à imagem de La Fontaine, se apresenta, agora, como a gralha que se enfeita com as plumas do pavão…Ela procura trazer para si os louros da popularidade de seu antecessor”, disse ele.
Antes de ser aparteado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), Aloysio Nunes ainda entrou numa seara alheia e demonstrou toda a fixação que os tucanos têm pelo PT, por Lula e por Dilma, dizendo que o Partido dos Trabalhadores trata mal seu principal aliado político, o PMDB.
A senadora Gleisi Hoffmann perguntou ao líder tucano por que causa tanta estranheza e tanto impacto o sorriso e a alegria do ex-presidente Lula. “Eu, de fato, não consigo entender, porque o sorriso da presidenta e do ex-presidente é grande parte o sorriso do povo brasileiro, das conquistas que essa população teve ao longo desses onze anos de governo. Conquistas importantes, na área do emprego, na área de renda, na área de educação. Será que o presidente Fernando Henrique não sorria no Palácio da Alvorada?”, indagou.
Aloysio Nunes, ao ouvir esse questionamento, foi irônico ao completar a frase: “e muito”, como se Fernando Henrique desse muita risada quando estava no comando do País. Mas foi aí que o líder da oposição ouviu o que é dolorido para os tucanos. “Como ele (FHC) fazia suas as suas articulações? Deu ele sorrisos ou gargalhadas quando discutiu, por exemplo, a emenda da reeleição, que nos legou um câmbio artificial e uma inflação de 12,7%. E as articulações foram feitas lá (no Palácio da Alvorada). Então não tem que questionar as reuniões que a presidenta faz no Palácio da Alvorada, e nem a alegria do ex-presidente e da presidenta Dilma, que é a alegria do povo brasileiro. Penso que a alegria e o sorriso devem fazer parte da nossa vida, devem conduzir nossas ações, para que realmente possamos entregar ao povo as melhorias que nós acreditamos e pelas quais lutamos muito”, disse Gleisi.
Desconcertado com a resposta, e bastante corado, Aloysio continuou na tribuna e ao retomar a palavra gaguejou, dizendo que ele não tem nada contra a realização de reuniões no Palácio da Alvorada e que é preciso ter cuidado com a ironia. Ao finalizar sua desastrada reclamação na tribuna do Senado, disse ele “que é preciso ter cuidado com a ironia, que é uma arma difícil de ser manejada”. Realmente.
Marcello Antunes