Viana: bancada do PT no Senado vai defender a preservação da força do voto

Viana: bancada do PT no Senado vai defender a preservação da força do voto

Viana: vamos defender a legalidade e que se preserve aquilo que é essencial: a força do voto dos brasileirosO vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), afirmou, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (18), que espera e acredita que o Senado possa fazer as correções que a Câmara, com a condução dos trabalhos por parte do deputado Eduardo Cunha, não fez no rito do processo de impeachment contra a presidenta Dilma.

“Aqui [Senado] tem um rito para uma matéria como essa e certamente será cumprido como rege a Constituição, sem os atropelos que presenciamos na Câmara”, disse.

Para Viana, ficou evidente que a votação que determinou a abertura do processo de impedimento por parte da Câmara, foi uma ação que juntou o descontentamento da opinião pública com o governo e “uma sede de vingança e intolerância de parcela da oposição”.

Viana reiterou que a bancada do PT no Senado vai defender a legalidade e a preservação da força do voto dos brasileiros. “Isso para nós é o ponto fundamental”.

Confira a íntegra da entrevista:

Repórter: Foi uma reunião de estratégia ou apenas para fazer uma avaliação da votação de ontem?

Jorge Viana: É um dia histórico para o Brasil. Ontem nós vimos um episódio lamentável na Câmara dos Deputados. Ainda bem que foi [transmitido] ao vivo. Um processo de impeachment de uma presidenta eleita com 54 milhões de votos, conduzido por um réu confesso, um presidente da Câmara completamente desmoralizado e questionado o tempo inteiro.

O Brasil dividido, temos os movimentos sociais, uma parcela importante da população defendendo a democracia e a Constituição. Mas acredito que podemos ter mais serenidade na condução desse processo aqui no Senado. 

Espero e acredito que o Senado possa fazer as correções que, com Eduardo Cunha presidindo [ o processo], a Câmara não fez. Aqui tem um rito para uma matéria como essa e certamente será cumprido como rege a Constituição, sem os atropelos que presenciamos na Câmara.

Repórter: Qual a estratégia do governo e da base aliada para enfrentar esse processo no Senado?

Jorge Viana: Ficou muito evidente que vimos ontem, uma ação que juntou o descontentamento da opinião pública com o governo, mas uma sede de vingança e uma intolerância de parcela da oposição que levou aquela votação, que talvez tenham surpreendido os proponentes do impeachment, que apostavam numa vitória acachapante. Tivemos uma diferença de aproximadamente 25 votos.

Aqui no Senado, que é a casa da Federação e a instituição mais antiga da República, tomara que além de se garantir a legalidade, possamos ter serenidade para conversar com todos os setores e possamos encontrar uma solução para o País que possa pacificar, unificar o Brasil a partir do Senado, sem que haja uma contaminação daquele episódio lamentável de ontem na Câmara. E, também, que respeitemos a opinião pública e tomar decisões com a responsabilidade que a nosso juramento a Constituição exige.

Repórter: Está em pauta no partido a convocação de novas eleições?

Jorge Viana: Nós do PT, do bloco [de apoio ao governo], vamos defender a legalidade e que se preserve aquilo que é essencial: a força do voto dos brasileiros. Isso para nós é o ponto fundamental. Agora, já temos um grupo de senadores procurando saídas que também levam em consideração do respeito ao voto e que possa fazer frente ao golpe que o Eduardo Cunha iniciou ontem.

Queria deixar bem claro. Quem é que vai para as ruas, quantos vão para as ruas defender um governo de Michel Temer e Eduardo Cunha? Quem vai apostar nesses dois entrando pelas portas dos fundos do Palácio do Planalto, deixando de lado a rampa dos eleitos, possa ter legitimidade para ajudar o País a sair dessa crise econômicas? As pesquisas feitas ontem nas manifestações já chegaram a um consenso: não há hipótese de um eventual governo de Michel Temer e Eduardo Cunha ter qualquer legitimidade perante o povo brasileiro.

O momento é delicado. Estive ontem com o presidente Renan Calheiros, à noite, e ele certamente será um julgador implacavelmente comprometido com o que determina a Constituição e o Regimento do Senado. Nós vamos ter aqui um espaço para discutir aquilo que eu penso que os brasileiros querem: uma saída para a crise pela legalidade.

Repórter: O governo terá força para barrar o que já está se desenhando? Senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), na presidência da comissão de impeachment e senadora Ana Amélia (PP-RS), na relatoria.

Jorge Viana: Isso é estranho. Se o Senado se precipitar, e não acredito nisso, como a Câmara fez, com um jogo de cartas marcadas, aí não tem sentido. Prefiro acreditar, como vice-presidente do Senado, que a serenidade vai prevalecer, o cumprimento rigoroso ao Regimento Interno e a Constituição. Não haveremos de conviver com atalhos num processo tão delicado como esse.

Sinceramente, ninguém pode ser olhado previamente para presidir uma comissão tão importante como essa, ou para ser relator. Quem vai ter que definir isso é o rito e os líderes partidários. A proporcionalidade das maiores bancadas precisa ser respeitada numa hora dessas.

Repórter: E o vice-presidente Michel Temer não foi eleito junto com a presidenta Dilma? Ele não teria legitimidade de assumir por também ter recebido os votos?

Jorge Viana: Não. No presidencialismo brasileiro, vice-presidente não leva um único voto. Está muito claro. Está muito bem estabelecido na Constituição o papel do vice. É substituir [a presidente] em viagens, em possibilidades. O vice-presidente Michel Temer não teve um único voto.

Aliás, nas pesquisas [realizadas] ele tem cerca de 1% dos votos. Quem teve voto foi a presidenta Dilma. O povo brasileiro votou na presidenta Dilma. Aliás, numa composição política que agora vemos jogando fora sua biografia e traindo ao governo que ele fez parte esse tempo todo.

 

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