Gleisi: maior ação que podemos ter na política, dos políticos, é a convocação de eleições gerais, precedidas de uma profunda reforma políticaA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em artigo publicado no site www.esmaelmorais.com.br, destaca a repercussão das denúncias de propina recebidas pelo interino Michel Temer (PMDB) e pelos ministros interinos José Serra (Relações Exteriores) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Segundo a parlamentar, o sistema político está podre e só o voto popular pode fazer a limpeza que o país precisa.
Abaixo, leia o texto na íntegra:
O sistema político está podre, só o voto popular pode limpá-lo – Gleisi Hoffmann
As notícias recentes dando conta de que o interino Michel Temer e seus ministros, Eliseu Padilha (PMDB) e José Serra (PSDB), receberam dinheiro de caixa dois/propina para as campanhas eleitorais, atiçaram os debates e ataques nas redes sociais neste final de semana.
Compreendo perfeitamente a reação de nossa militância, petista ou de outros partidos de esquerda, parlamentares e lideranças. E agora, José? Como explicar isso e sair dessa? Até o momento notícias como essas atingiam dolorosamente os petistas e o ex-presidente Lula, tidos como patrocinadores do maior processo de corrupção da história e, por isso, merecedores de ter o registro de seu partido cassado. Fato, aliás, só visto em ditaduras, quando se colocam partidos na clandestinidade.
A presidenta Dilma Rousseff, por sua vez, está sob a ameaça de ser afastada por crime de responsabilidade contra o orçamento público: decretos suplementares e “pedaladas” fiscais, supostas manobras que, nem com muito esforço, conseguem ser enquadradas como crime. O que importa, para essas forças que apoiam o golpe, é tirá-la pela disputa política e impor retrocessos nas políticas sociais e nos direitos trabalhistas.
Dilma, Lula, o PT, vêm sendo massacrados, sistematicamente, há pelo menos quatro anos. Todos os problemas de ordem ética, principalmente, são de sua responsabilidade. O PSDB, agora mostrado seu comprometimento até a alma, tornou-se o algoz maior, o paladino da moral e dos bons costumes. Lideranças envolvidas ou de partidos envolvidos em uma série de desvios, também se revezavam nas tribunas do Congresso e na imprensa, que sempre os protegeram, para fazer acusações ao governo petista.
A Comissão Especial do Impeachment no Senado da República foi conduzida para criminalizar a política dos últimos treze anos. O discurso do “conjunto da obra” para afastar Dilma preponderou: crise econômica, corrupção, desemprego, corrupção, desequilíbrio orçamentário, corrupção… Os que a acusaram não poderiam tê-lo feito. Principalmente, porque não têm moral! A esse comportamento, os dicionários traduzem como hipocrisia.
Impávidos, os que querem transformar, anular os avanços conquistados nos mandatos de Lula e Dilma, insistem no engodo – e se revelam cada vez mais hipócritas, com ações cuidadosamente cronometradas para disfarçar o ódio que destilam contra o maior partido de esquerda do Ocidente. Agora, por exemplo, escolheram a semana das Olimpíadas, quando todas as editorias dos jornais são reduzidas para abrir espaço ao noticiário esportivo, para vazar parte das delações nas quais são denunciados seus aliados. A lista recém-iniciada é muito mais extensa. Há muitos outros ainda! Mas, ao contrário do que foi feito contra o PT, dificilmente as denúncias e as cifras relacionadas a propinas entregues a Michel Temer e seus ministros merecerão a atenção dos espaços nobres da TV Globo. Alguém duvida?
Podem se preparar. Há três semanas para o julgamento do impeachment, o vazamento que farão com mais estardalhaço será contra o PT e seus dirigentes, para a criação de clima propício, entre os senadores, a favor do golpe. Agora o que querem é mostrar neutralidade. Não podemos deixar de denunciar isso e o envolvimento daqueles que sempre nos acusaram e são precursores de práticas de corrupção.
Quem tem moral no Senado, ou no Congresso Nacional, para julgar e condenar Dilma? Ninguém! As acusações recíprocas, os ataques histriônicos de antes e de agora, as caças às bruxas não vão melhorar nosso sistema político. Por essa razão, disse e repito que compreendo perfeitamente a reação agressiva de nossa militância nas redes. Afinal, apanhamos muito, em todos esses anos, de pessoas que praticaram e praticam atos pelos quais estavam a nos condenar.
Aliás, a sessão do Senado da próxima terça-feira (9), quando o plenário avaliará a pronúncia do voto pelo impeachment, deveria ser aberta com o evangelho de João 8:7-9: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. Essa resposta de Jesus aos mestres e fariseus de seu tempo, que reclamavam a Lei de Moisés, nunca esteve tão atual em nosso tempo.
Precisamos aproveitar a oportunidade para realmente mudarmos nosso sistema político, que está podre, sem que isso signifique prejuízo das responsabilizações individuais e partidárias.
Aí, penso como o senador Roberto Requião: só o voto popular pode fazer essa limpeza. A maior ação que podemos ter na política, dos políticos, é a convocação de eleições gerais, precedidas de uma profunda reforma política.
O Brasil precisa disso! E isso requer coragem e desprendimento.