Paim: Se a questão é ajudar o BNDES, que pelo menos se tenha a garantia de um ganho financeiroRealmente o mar não está para peixe. O governo federal pretende socorrer o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com dinheiro do trabalhador. A ideia é alterar o regulamento do Fundo de Infraestrutura do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) para permitir um socorro de R$ 10 bilhões.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que pertence ao Conselho de Administração do BNDES, e o presidente do banco, Luciano Coutinho, defenderam o aporte junto aos integrantes do FI-FGTS, que rejeitaram a proposta. Segundo eles, o Fundo não realiza operações diretamente com os bancos, a não ser com a Caixa Econômica Federal, que é gestora do Fundo.
Está claro que o governo pretende corrigir erros administrativos ou – em nome da crise econômica que o país atravessa – colocar a fatura na conta do trabalhador. É aquela velha prática que conhecemos: em tempestades e enchentes a corda deve arrebentar sempre do lado mais fraco. Isso é inadmissível.
Se a questão é socorrer uma estatal que está em dificuldades, porque o governo não fiscaliza e cobra a conta das empresas que estão devendo ao banco? Inclusive aquelas envolvidas em esquemas de corrupção? E aí nós estamos falando em bilhões e bilhões. O próprio Tribunal de Contas da União (TCU) está realizando auditorias.
Não sou contra ajudar uma instituição de suma importância para o desenvolvimento do país, como é o BNDES. Mesmo porque, em 2008, no governo Lula, esse mecanismo foi utilizado para salvar o BNDES. Porém, na época, o governo emprestou com garantia do Tesouro Nacional e com o compromisso de o Banco devolver os recursos ao Fundo, assim que recebesse das empresas.
Creio que a presidenta Dilma Rousseff pode avaliar melhor esta operação para que os trabalhadores não saiam no prejuízo. Se a questão é ajudar o BNDES, que pelo menos se tenha a garantia de um ganho financeiro. Não se pode conceber, em nossas atuais condições, emprestar dinheiro sem receber o percentual correspondente. É o mínimo que o governo pode fazer.
Texto originalmente publicado no site Brasil 247, no dia 23 de junho, sob o título “Mais uma na conta do trabalhador”