Ciência e Tecnologia

“Somos sobreviventes do negacionismo”, diz diretora de sociedade científica

Segundo Laila Espíndola, sobreviventes da pandemia de Covid-19 precisam se unir para combater fake news e recompor a confiança na ciência

Laila Espíndola

“Somos sobreviventes do negacionismo”, diz diretora de sociedade científica

“Somos sobreviventes do negacionismo científico e sanitário oficialmente instalado neste país durante o auge da pandemia", diz diretora da SBPC Laila Espíndola. Foto: Alessandro Dantas

A falta de confiança na ciência faz pais vacinados – que, graças a isso, não foram acometidos por doenças na infância ou sofreram levemente – não garantirem imunidade para os próprios filhos, colocando a vida deles em risco. Para especialistas, o vilão é mais do que conhecido: a indústria das fake news e do negacionismo, temas intrinsicamente ligados à ideologia bolsonarista.

O tema foi tratado em audiência pública sobre a percepção da importância da ciência, realizada nesta quarta-feira (28/6) na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado.

Para Laila Espíndola, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a divulgação científica precisa ser a “palavra de ordem” para vencer a guerra contra a indústria das notícias falsas. Ela acredita que a confiança no tema entre os brasileiros parece ter sido afetada negativamente por campanhas organizadas de desinformação, que cresceram durante a pandemia da Covid-19.

“Somos sobreviventes do negacionismo científico e sanitário oficialmente instalado neste país durante o auge da pandemia. Termos ficado vivos representa com certeza uma missão: precisamos nos unir para combater as fake news, reafirmando os valores éticos e do conhecimento científico para recompor a saúde pública”, disse Espíndola.

Visão semelhante é partilhada pela presidenta da Associação Brasileira de Ciência, Helena Bonciani Nader. Segundo a pesquisadora, o mundo ficou “doente” por não acreditar na ciência. Ela cita ainda que o negacionismo vem deixando crianças expostas a doenças, já que um número crescente de pais evitam vaciná-las atualmente. Nader é favorável a que o Estado interfira no tema.

“O pai vacinado, que não teve poliomielite por causa da vacina, não está vacinando o seu filho. E eu vejo que tem medidas que precisam transcender algumas coisas da chamada ‘liberdade’. Porque a criança é responsabilidade do Estado brasileiro”, aponta.

Regime fiscal

Helena Bonciani também ressaltou a importância dos investimentos em ciência e educação. Por isso, ela celebrou as mudanças feitas no Senado no Regime Fiscal Sustentável, que possibilitou retirar do limite de gastos os gastos com ciência, tecnologia e inovação.

O limite para esses investimentos não estava na proposta original do governo Lula, que vai substituir o defasado “teto de gastos”, tendo sido incluído na Câmara dos Deputados.

“Ainda bem que vocês reverteram no Senado [a inclusão da ciência no limite de gastos]. Sem recurso, não existe nem educação nem ciência. Está na hora de o Brasil decidir o que ele quer ser. Ciência e tecnologia não são gasto. São investimento”, disse.

Crédito de carbono

Durante a audiência, os debatedores também trataram dos incentivos, por meio de políticas públicas, para empresas reduzirem os impactos ambientais.

Uma das propostas citadas foi o Projeto de Lei 2.229/2023, de autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que institui uma política no país para o “mercado de carbono” – créditos gerados com base na não emissão de gases de efeito estufa à atmosfera, podendo ser comercializados entre países.

Uma pesquisa da consultoria WayCarbon e Câmara de Comércio Internacional mostrou que o mercado regulado de carbono no Brasil poderá gerar 5% do produto interno (PIB), ou US$ 120 bilhões até 2030.

“Resulta mais que necessário que cada país adote em seu âmbito interno medidas que possam se somar ao enfrentamento da crise climática. Instrumentos econômicos, como o mercado de carbono, perfilham-se entre essas medidas”, justifica o senador.

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