O PSDB e boa parte da mídia adotaram o mantra do Consenso de Washington (o estado mínimo), para fazer da privatização a principal bandeira dos oito anos do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Agora, ambos se unem novamente, para impor a versão de que o Partido dos Trabalhadores subverteu sua história e que a presidenta Dilma Rousseff se rendeu à privatização. Nada mais falso. O mal estar do PSDB, que representa a minoria da oposição, está novamente se pautando pela mídia dominante, para tentar digerir o resultado do leilão de concessão dos serviços de exploração, manutenção e de infraestrutura de três aeroportos, cujo ágio médio foi 374%.
Num exercício contorcionista, o PSDB e alguns editoriais dizem que o PT experimenta o receituário tucano de entrega dos bens públicos para o capital privado. Mas não foi isso o que ocorreu. A Infraero será sócia com 49% de cada consórcio vencedor e, pela exploração dos serviços pelo período de 30 anos, previsto no contrato de concessão, as empresas farão investimentos e o bem público retornará para o controle da União. Aqui reside a grande diferença que a oposição e a mídia estão omitindo quando falam que o PT privatizou.
Nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, inúmeras empresas foram privatizadas, vendidas em cessão onerosa nos leilões, onde o controle acionário passava integralmente aos grupos vencedores. Sob o argumento de que o Estado não podia suportar elevados investimentos, a Companhia Vale do Rio Doce, que é citada pelos tucanos como modelo de privatização, por exemplo, foi vendida por R$ 3,2 bilhões. Tudo muito bonito, mas eles e mídia dominante se esquecem de dizer que o sucesso dessa empresa ocorreria de qualquer forma, assim como omitem que, indiretamente, a União é a principal acionista por intermédio de fundos de pensão.
Nesta semana, a ex-diretora de desestatização do BNDES, Elena Landau, ganhou espaço na mídia na tentativa de passar o bastão para a presidenta Dilma de “a musa da privatização”. Esse título não caberá à presidenta, até porque está registrado na história do jornalismo econômico que a venda da Vale a preço de banana sofria pressões de grupos internacionais interessados nessa joia da coroa. Elena Landau, como lembram os jornais da época da privatização, em maio de 1997, era casada com o banqueiro Pérsio Arida e sócio de Daniel Dantas no Banco Opportunity, banco que comprou várias empresas. De responsável pelo modelo das privatizações do governo FHC, ela pulou para o Opportunity para assessorar o banco de Dantas a disputar dentro das regras que ela própria havia criado. Tudo legal, lógico, dentro da óptica da privataria. O PSDB entregou setores inteiros da economia nacional para o capital privado. A desculpa para a dilapidação do patrimônio público era de que o dinheiro arrecadado iria reduzir a dívida pública – o que não foi feito, pelo contrário. A sanha privatista do PSDB, por muito pouco, não queimou também a Petrobras, mas tentou, mudando seu nome para Petrobrax para, sempre segundo a lógica tucana, tornar a empresa mais palatável para o capital privado internacional. Felizmente, a reação deteve os tucanos e a mídia. Eles não conseguiram vender a Petrobras a preço de banana, como as demais empresas. Se tivessem conseguido, os recursos que o Brasil vai ganhar com o petróleo do pré-sal seriam desviados para o exterior.