“A tática – sem estratégia – dos Black Blocs fornece as imagens e os argumentos que as forças mais reacionárias da direita precisam para legitimar a repressão estúpida e brutal contra os movimentos de greve e protestos dos estudantes e das classes trabalhadoras”.
“As intenções dos Black Blocs acabam, pelas |
A violência de alguns participantes das recentes manifestações de rua, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, tem tido o efeito contrário do desejado por esses ativistas, já que muitos simpatizantes de suas reivindicações deixam de ir às ruas com receio do tumulto e da repressão policial. O alerta é do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que voltou a ocupar a tribuna da Casa, nesta quinta-feira (17), para defender métodos pacíficos de expressão e manifestação.
“Nas manifestações dos professores, dos bancários, dos estudantes, muitos iam ali até com seus pais, e avós, e, às vezes, as crianças. Com essa violência, as pessoas acabam não indo mais às manifestações, fazendo com que o movimento, que teve grande simpatia popular, perca apoio”, afirmou o senador. Suplicy relatou uma visita que fez a um acampamento dos Black Blocs, em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo. “Sentei-me lá junto às barracas, conversei uma hora e meia com alguns jovens e disse a eles que estava disposto a com eles dialogar”.
Posteriormente, relata o senador, três ativistas do grupo o visitaram em casa e um dos jovens, chamado Danilo, escreveu uma mensagem a Suplicy, explicando os objetivos do grupo, sua discordância com a “violência militar e a defesa do patrimônio especulativo em detrimento dos direitos civis” que estaria “consolidado na República Federativa Brasileira”, realidade que, segundo o militante, justifica uma reação “não essencialmente violenta”, pois os Black Blocs “não seqüestram, não torturam e nem matam, como é a prática extra-oficial das milícias militares”. Suplicy deixou claro que não concorda com os métodos do grupo.
Na última quarta-feira (17), o senador já havia se manifestado em plenário sobre a necessidade de os manifestantes adotarem uma postura pacífica, citando o exemplo de Martin Luther King e de Mahatma Gandhi, que alcançaram seus objetivos utilizando-se da tática da não-violência. Como acontecera na véspera, Suplicy voltou a ser interrompido, nesta quinta-feira, pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que, de maneira brusca, questionou a tentativa do petista de compreender os jovens manifestantes. “Eu realmente eu estou indignado que um fascista desse tal Danilo venha nos dar lições de democracia”, disse o tucano.
Aloysio acusou Suplicy de “reproduzir da tribuna do Senado um texto contra a ordem democrática” e foi prontamente rebatido. “Eu estou citando um membro do Black Bloc, de forma alguma sou a favor dele e nem concordo. Deixei claro isso. E reitero isso”, afirmou Suplicy, sendo novamente interrompido pelo tucano, com ironia: “Ah! Sei, sei…”. E voltou a defender “um longo tempo de cadeia” para os manifestantes. A intenção do senador petista é entender o movimento e influenciá-lo em defesa de ações pacíficas.
Suplicy citou o cientista político Márcio Sales Saraiva, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, para quem os Black Blocs estão querendo uma coisa, mas acabam prejudicando o seu próprio objetivo expresso. “As intenções dos Black Bloc acabam, pelas práticas violentas, sendo contraproducentes aos seus próprios objetivos”, avaliou o senador. Citando o cientista político, o petista lembrou que “compreender não significa apoiar. A tática – sem estratégia – dos Black Blocs fornece as imagens e os argumentos que as forças mais reacionárias da direita precisam para legitimar a repressão estúpida e brutal contra os movimentos de greve e protestos dos estudantes e das classes trabalhadoras”.
Para Suplicy, “os Black Blocs, com toda a sinceridade, devem melhorar essa tática porque ela estará sendo contraproducente aos objetivos de realização de justiça, de construção de um Brasil solidário”.
Cyntia Campos
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