Suplicy defende Governo Aberto

No seu primeiro discurso nos Estados Unidos, ontem, a presidenta Dilma e o presidente Obama referiram-se a um “Governo Aberto”. Poucos sabem que isto é uma novidade radical na governança internacional. Até hoje a grande maioria dos governos do mundo foi opaco e apenas nesses primeiros anos do século XXI, com a existência da internet e das redes sociais, é que o mundo está realmente começando a perceber que as multidões podem interferir concretamente e transformar os governos de seus países, como está acontecendo na Primavera Árabe, citada por Dilma na reunião de hoje.

Aliás, o Senado federal precisa aproveitar esse momento de abertura e transparência e votar o PLC 41/2011 visando, garantir a publicidade de todos os atos governamentais. Não podemos conviver com meias verdades no século XXI, a população tem o direito de ter acesso a tudo que é praticado pelo governo

Mas aqui, falamos em radicalidade porque não é só a revolta pacífica das multidões no mundo árabe que está acontecendo, mas também ela se espalha pela Europa inteira, onde as populações indignadas se recusam a pagar os custos dos déficits enormes de seus países, causados pelas ajudas aos bancos, isto é, aos mais poderosos setores da democracia porque controlam o dinheiro a seu bel-prazer.

 Esta é a grande novidade que está marcando a segunda metade do Século XXI e mudando o tom dos discursos, que podem mudar as atitudes dos senhores do mundo. O exemplo máximo, para nós brasileiros, é o apoio da presidenta à inclusão da Palestina como membro pleno da ONU, que não é partilhada por Obama por motivos políticos, mas o é pela grande maioria dos mais de 190 membros desta instituição.

Nosso comentário aqui é que a questão Palestina, a qualquer momento, pode levar o mundo a uma guerra capaz de incendiá-lo. Para saber por que precisamos voltar bastante profundamente na história.

Os livros de Êxodo e dos Números da Bíblia, fala que Deus deu ao seu povo, recém liberto da escravidão do Egito por Moisés, a Terra de Canaã, para aí se estabelecerem. Apenas, indiretamente, revela que esta terra já pertencia a outros povos, como os amalequitas, os heteus, os gebuizeus, ao amareus e os cananeus e os filisteus “daí a palavra filistins” ou palestinos, que continuou habitando a mesma terra não sem grandes lutas.

    Assim, podemos entender mais profundamente porque estas lutas duram até hoje. E se não houver uma transformação no pensamento mundial, ela vai permanecer para sempre. Dilma defendeu a entrada da Palestina como membro pleno da ONU, a partir dos limites de 1967, propostos pela mesma ONU em 1948. Devido à imenso lobby, nesta primeira fase do seu governo, Obama corre o risco de perder as eleições se apoiar a mesma proposta, insistindo que a Palestina seja mantida em nível de estado observador, como o Vaticano, o que lhe dá alguns poderes que até hoje não tem. Como o acesso aos tribunais internacionais por crimes contra humanidade, que têm sido praticados contra o povo palestino nestes quarenta anos.

Todas as guerras são crimes contra a humanidade e só agora as grandes multidões estão conscientes disto. Só agora as multidões estão começando a encontrar seu papel de sujeitos da história e Dilma se refere, claramente, ao incipiente papel que uma minoria milenarmente oprimida, a das mulheres, está conseguindo aos poucos conquistar (pacificamente).

Uma mulher e um negro refletem melhor do que todos. O desejo desta abertura de governo, que em médio prazo pode chegar à transformação da natureza dos estados, como a transição das ditaduras do Norte da África, é o inicio de uma Nova Era, em que se possa chegar a uma democracia plena, inclusive onde as decisões sobre dinheiro não estejam apenas na mão do sistema bancário e das elites, mas sim circule por todo o povo.

É esta nova atitude das multidões que está mudando aos poucos o paradigma financeiro e político internacional. Nunca houve uma verdadeira democracia no mundo, nem a americana que é uma dura ditadura econômica e desde a globalização arrasta em efeito dominó todos os países civilizados. Nenhuma forma de ditadura é mais aceita pelas populações já conscientes de seus direitos, o que só conseguiram obter a partir das tecnologias de informação, que agem em tempo real e à velocidade da luz (internet, redes sociais, etc.). São estas tecnologias que podem transformar o mundo em décadas, coisa que nunca foi possível em milênios porque as classes oprimidas foram induzidas a acreditar que os poderosos estavam no poder por designo divino.

Assim, Dilma e Obama, cada um a sua maneira, ela mais radicalmente e ele menos, são os arautos deste novo mundo que está nascendo.

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