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O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) aproveitou o documento divulgado nessa terça-feira (26) pelo Papa Francisco, que critica o consumismo excessivo, o individualismo, a busca incessante do prazer individual e, principalmente, a idolatria pelo dinheiro para pedir à presidenta Dilma Rousseff a criação de um grupo de trabalho para “viabilizar como será a instituição por etapas da renda básica de cidadania”.
Defensor da proposta, que estabelece o pagamento mensal de um benefício para todos os brasileiros ou para estrangeiros que residam no Brasil há pelo menos cinco anos, Suplicy lembrou que, em 2004, foi sancionada a Lei 10.835, que estabelecia que o programa seria implementado em etapas, a serem definidas pelo Poder Executivo “como já acontece com o Bolsa Família”.
Referindo-se ao texto A Alegria do Evangelho, no qual o Papa aponta caminhos para a Igreja Católica nos próximos anos, o senador paulista observou que, apesar dos avanços em setores como saúde e educação, milhões de pessoas em todo o mundo vivem em situação precária.
“O papa criticou a economia da exclusão, que iguala os seres humanos a mercadorias”, enfatizou, reforçando que esse tipo de economia, que exclui os mais pobres é equivocada e assassina. “Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto é a descida de dois pontos na bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social”, criticou.
O tom de Suplicy foi muito semelhante ao usado pelo presidente do Uruguai, Jose ‘Pepe’ Mujica que, em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, condenou as guerras como solução dos problemas políticos e defendeu uma postura mais humanitária entre as Nações.
“Nossa época continua dirigida pela acumulação e pelo mercado. Prometemos uma vida de resíduos e desperdícios e isso, no fundo é uma contagem regressiva contra a natureza e contra a Humanidade como futuro”, disse o presidente uruguaio, que criticou o que chamou de “civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra os ciclos naturais, e pior: uma civilização contra a liberdade que pressupõe ter tempo para viver as relações humanas, o único transcendente: amor, amizade, aventura, solidariedade, família”.
Em seu pronunciamento ao plenário nesta quarta-feira (27) Suplicy pinçou trechos do documento divulgado pelo Vaticano e disse que a humanidade vive um momento de mudanças, onde os avanços tecnológicos andam em descompasso com problemas como a falta de acesso a essas novidades, o desespero e o medo da violência.
“O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do “descartável”, que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são “explorados”, mas resíduos, “sobras””, citou o senador.