O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Sr. Presidente, Senador Waldemar Moka; Srs Senadores, Srªs Senadoras. Eu gostaria de aqui, hoje, fazer uma reflexão sobre a importância da contribuição do Brasil para que haja a paz no mundo. Observo que o Presidente Barack Obama, segundo a manchete de hoje do jornal O Estado de S. Paulo, quer muito ouvir a Presidenta Dilma Rousseff sobre o Irã.
Diz O Estado: “Passados quase dois anos do maior atrito entre Estados Unidos e Brasil em razão do Programa Nuclear do Irã, o Presidente americano, Barack Obama, pretende ouvir sua colega Dilma Rousseff sobre a questão.”
Pois bem… Por outro lado, nós temos na própria imprensa de hoje artigos que falam da questão relativa ao Irã, ao conflito em potencial que tem ocorrido entre o Irã e Israel. Há um artigo do Sr. Mark Weisbrot, na Folha de S. Paulo: “Israel vai atacar o Irã.” Mas com a observação de que o ataque não ocorrerá antes da eleição americana porque isso não interessaria ao Presidente Obama.
Na mesma Folha de S. Paulo, hoje, nós temos um artigo do Sr. Evgueni Primakov, sobre a situação da Síria, que está a um passo do caos. Então, esse ex-Primeiro-Ministro da Rússia, de 1998-1999, e esse Diretor do Serviço de Inteligência Externa observa que: “A posição tomada pela Rússia e pela China, perante a resolução do Conselho de Segurança da ONU, em relação à Síria, é bastante justificada. Apesar de não rejeitar, em princípio, a adoção de resoluções do Conselho de Segurança, os países propuseram aproximá-la ao máximo da realidade existente. A ideia era rejeitar a disposição, inaceitável do ponto de vista do Direito Internacional, de incluir na Resolução a retirada do poder do presidente legitimamente eleito, Bashar Assad. Outras disposições do Projeto de Resolução proposto causaram preocupação, já que, como mostraram os acontecimentos na Líbia, poderiam ser usados para uma intervenção armada na Síria.
Do modo como vê o Sr. Evgueni Primakov, a Rússia e a China não queriam ser enganadas pela segunda vez. Ainda recentemente, os Estados Unidos pediram aos dois países para não vetar a Resolução da ONU sobre a Líbia, apresentando-a apenas como uma exigência sobre o fechamento do espaço aéreo sobre o país para evitar os ataques aéreos do ditador Muamar Kadafi contra a população civil. Então, a Resolução da ONU foi usada como justificativa para derrubar o regime de Kadafi. O que está por trás da atual postura anti-Síria? O país tornou-se o centro das intenções, principalmente porque é próximo ao Irã. A destituição do regime atual constitui parte do plano de isolar o Irã. Daí prossegue o Sr. Evgueni Primakov.
Ora, avalio que precisamos refletir muito sobre os passos que o Brasil poderá dar para contribuir para a paz no Oriente Médio, mas também nas Américas e nos cinco continentes. É muito importante o diálogo que irá acontecer na Casa Branca entre a Presidenta Dilma Rousseff e o Presidente Barack Obama, até em retribuição à visita que fez ao Brasil pouco depois da posse da Presidenta Dilma Rousseff em março último.
Mas, queria aqui assinalar algumas informações a respeito da importância do Irã para o Brasil, em especial do Oriente Médio. Aqui me subsidio de uma contribuição do excelente assessor internacional de assuntos internacionais, da liderança do PT, o Sr. Marcelo Zero, a quem agradeço.
Dizer que, ao contrário do que afirmam alguns conservadores, o Oriente Médio é de grande relevância para o Brasil, o que impõe o estreitamento de nossas relações com todos os países da região. Em primeiro lugar, há o aspecto econômico e comercial. O Oriente Médio é uma região rica em petróleo e gás natural, mas carente de uma agricultura competitiva e de indústrias diversificadas. Coisas que o Brasil tem. Em outras palavras: as economias do Oriente Médio e a economia brasileira são complementares, o que cria um enorme potencial de cooperação.
Nas décadas de 70 e 80, o Brasil começou a explorar esse potencial, mas na década de 90, por diversos motivos, o aproveitamento desse imenso potencial foi praticamente abandonado. O governo Lula resolveu reinvestir nessa relação. Entre 2003 e 2008, nossas exportações para o Oriente Médio foram multiplicadas por um fator de 3,5, uma cifra extraordinária.
No início desta década, exportávamos cerca de US$2 bilhões. Neste ano, deveremos exportar cerca de US$9 bilhões, mesmo com a crise. Ressalte-se que, desde 2003, nosso saldo comercial positivo com o Oriente Médio chega ao redor de US$2 bilhões/ano. Em apenas 7 anos (2003 até 2009, inclusive) acumulamos um superávit comercial de US$13,4 bilhões. Lucramos muito com o Oriente Médio e podemos lucrar muito mais.
Mas não se trata apenas de relações econômicas e comerciais. O Brasil possui laços históricos e culturais fortes com aquela região. Temos uma grande e ativa comunidade árabe no País. Recebemos muitos imigrantes daquela região que deixaram marcas indeléveis no Brasil.
Trata-se de região estratégica para o mundo. O que acontece naquela região repercute no Planeta como um todo, inclusive no Brasil. A instabilidade do Oriente Médio tem efeitos negativos na economia e política mundiais. É do interesse nacional do Brasil contribuir para que aquela região se pacifique.
O Irã é um dos países mais importantes do Oriente Médio. Tem uma população de quase 70 milhões de habitantes e uma economia que já é a 15a do mundo. Possui a terceira maior reserva de petróleo do Planeta. Sua renda per capita, medida pelo poder de paridade de compra, já supera US$13 mil. Sua influência na região é imensa. Não haverá equilíbrio no Oriente Médio sem a participação do Irã. Ter uma relação de diálogo com o Irã, portanto, é fundamental.
As relações bilaterais entre Brasil e Irã são cordiais. Ainda estão abaixo das potencialidades, entretanto. Vale reafirmar que as relações com a América Latina agora ocupam uma posição de destaque na política externa iraniana. Além disso, o Governo do Irã identifica afinidades entre as agendas globais de ambos os países e pretende incrementar a cooperação bilateral nos campos energético, de turismo, acadêmico, cultural e no âmbito dos direitos humanos e da ONU.
O Brasil, por sua vez, visa a ampliar a cooperação econômica e comercial com o Irã.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) Nos anos 2006 e 2007, o Irã foi o principal mercado de exportação do Brasil no Oriente Médio, embora ocupe o segundo lugar no comércio bilateral total com países daquela região.
Sr. Presidente, V. Exª está me concedendo tempo de orador e não de breve comunicação, é isso?
O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB – MS) – Não, tempo de orador. Senador, são dez minutos antes da Ordem do Dia.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Obrigado.
Eu queria assinalar, Sr. Presidente, que eu vou precisar transcrever, então, este documento que foi encaminhado pelo Assessor Marcelo Zero. Peço seja publicado na íntegra, pois se trata de uma contribuição muito relevante.
Tendo em conta que o Presidente Barack Obama espera muito do diálogo com a Presidenta Dilma Rousseff – inclusive porque, quando houve o acordo realizado com a Turquia, o Brasil e o Irã, foi o procedimento de busca de melhor entendimento da utilização de energia nuclear pelo Irã – e como é importante que os países possam dialogar, sobretudo para que não se concretize uma guerra nuclear entre o Irã e Israel, com repercussões que podem acabar causando extraordinários estragos e a morte de milhares, senão de milhões de pessoas nesses dois países, inclusive com repercussões para a Palestina, todo o Oriente Médio e para os palestinos que vivem na Terra Santa, é importantíssimo que possa o Brasil contribuir nesse diálogo para a consecução de passos que venham a construir a paz.
Eu considero esse tema tão importante, Sr. Presidente, que eu continuarei a falar dele amanhã e da importância do encontro Dilma Rousseff com o Presidente Barack Obama.
Terão a oportunidade de dialogar, por exemplo, sobre Cuba, sobre como, para o Brasil e para toda a América Latina, é importante que os Estados Unidos terminem com o embargo ou o bloqueio em relação a Cuba.
Será importante, por exemplo, porque poderiam os Estados Unidos demonstrar a Cuba a sua disposição de uma aproximação, com a anistia para os cinco cubanos que são objeto do trabalho de Fernando Morais, no seu livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, onde ele fala da história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita dos Estados Unidos e que foram, lá, condenados. Já estão…
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Vou concluir, Sr. Presidente.
O Presidente Jimmy Carter, ainda no ano passado, ao visitar Cuba, sugeriu que o governo dos Estados Unidos e o Congresso norte-americano anistiassem esses cinco cubanos.
Seria importante que também Cuba desse uma demonstração de boa vontade, inclusive com uma maior tolerância com a liberdade de expressão e liberdade de entrada e saída de cidadãos como a Srª Yoani Sánchez.
Eu continuarei, então, a falar dos assuntos e sobre a expectativa que tenho quanto a esse encontro, que poderá ter enorme significado para a realização e manutenção da paz no mundo, o encontro entre a Presidenta Dilma Rousseff e o…
(Interrupção do som.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – …Presidente Barack Obama.
*********************************************************************************
DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I, §2º, do Regimento Interno.)
*********************************************************************************
Matérias referidas:
– “A situação da Síria está a um passo do caos”. (Evguêni Primakov. Folha de S.Paulo.)
– “Israel vai atacar o Irã?” (Mark Weisbrot. Folha de S.Paulo.)
– “Obama quer ouvir Dilma sobre Irã?” (O Estado de S. Paulo.)