Telecomunicações

TCU aponta falhas em projeto que doa bilhões às teles

Durante audiência, representante da Anatel diz que governo levará meses para descobrir quanto operadoras devem investir como compensação
TCU aponta falhas em projeto que doa bilhões às teles

Foto: Auro Queiroz/SXC

O Tribunal de Contas da União (TCU) criticou, nesta terça-feira (5), a falta de dados transparentes sobre quanto as empresas de telecomunicações receberão em patrimônio público caso o PLC 79/2016 seja aprovado. O tema foi debatido durante audiência pública no Senado.

O projeto prevê a entrega de toda a infraestrutura pública de telecomunicações do país para as empresas privadas. Em contrapartida, as operadoras devem reverter o valor em forma de investimento. Só que a proposta contém uma série de pontos contestados.

O PLC 79 está atualmente no Senado. Se for alterado na Casa, retornará para a Câmara dos Deputados e atrasará a tramitação da matéria. Para acelerar a aprovação do texto, o governo propôs “acertar” a proposição por meio de vetos da presidência da República.

Uma das questões levantadas pelos críticos refere-se ao valor do patrimônio público doado às teles, já que os números não batem. Enquanto a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirma que se trata de apenas R$ 17 bilhões, o Tribunal de Contas da União (TCU) estima um valor de mais de RS$ 100 bilhões.

“Ninguém tem esses números. É algo que pode variar de poucos milhões para centenas de bilhões. Há um acordão para que se ajuste diversos procedimentos para o correto cálculo do que seria revertido, informações declaratórias das empresas, já que nem a Anatel tem segurança desses dados”, disse o representante do TCU, Ivan Pacheco, durante a audiência.

Os dados da Anatel também foram questionados pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Segundo a representante da instituição, Flávia Lefèvre, o valor depreciado de bens reversíveis informados pela Anatel, de R$ 17 bilhões, não bate.

“Um estudo realizado pela agência mostra que só o valor presente líquido das redes de acesso e transporte em 2014 era de R$ 74 bilhões”, questionou Lefèvre.

De acordo com o presidente do Conselho Diretor da Anatel, Juarez Quadros, apenas recentemente o órgão conseguiu condições para fazer o levantamento de quanto valem milhares de imóveis, carros, antenas e cabos. Mesmo assim, segundo ele, o órgão ainda levará nove meses para descobrir qual é esse valor se o PLC 79 for aprovado.

Durante a audiência, o TCU ainda fez outros questionamentos à proposta, como possíveis deficiências na fiscalização de compromissos assumidos pelas concessionárias e a ausência de planejamento dos investimentos a curto, médio e longo prazo.

O tribunal também apontou dificuldades na avaliação prática se o valor dos investimentos bate com o total de bens doados para as empresas privadas.

Entenda o caso

O PLC 79, de origem da Câmara dos Deputados, foi aprovado em decisão terminativa na Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional (CEDN) no dia 6 de dezembro de 2016 e estava prestes a ir direto para sanção presidencial. Na época, senadores da oposição chegaram a apresentar recursos à Mesa Diretora do Senado, mas foram rejeitados.

O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), quando parlamentares de diversos partidos, especialmente da oposição ao governo Temer, entraram com um mandado de segurança. O objetivo era que a proposta fosse votada no plenário do Senado.

Diante do imbróglio judicial, a proposta ficou parada por meses no Senado. Até que a Mesa Diretora da Casa, em abril, decidiu encaminhar o projeto de lei para ser discutido na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), colegiado que organizou a audiência pública desta segunda.

A audiência foi interrompida assim que começou a Ordem do Dia no Senado, que tem prioridade sobre todas as demais comissões da Casa, e deve ser retomada nos próximos dias.

 

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