Telmário: projeto entreguista sustenta o golpeA maioria dos partidos defensores do impeachment está “abraçada a uma causa” que não tem nada a ver com a defesa da democracia, da legalidade e da Constituição, acusa o senador Telmário Mota (PDT-RR), um dos integrantes da comissão especial a ser instalada nesta segunda-feira (25), que deverá analisar o pedido de afastamento da presidenta Dilma Rousseff. “A sociedade pôde ter uma visão das motivações dos políticos brasileiros [para aprovar o impeachment] durante a votação do processo na Câmara dos Deputados”, afirmou Telmário em entrevista à Rádio Folha de Boa Vista (RR), no último fim de semana.
“O mundo inteiro ficou horrorizado. Poucos deles [os parlamentares] falaram ligeiramente sobre ‘pedaladas’ fiscais. Os demais todos eram ‘por isso, por aquilo, pelo papagaio, pelo torturador’, quer dizer, fizeram um verdadeiro carnaval de hipocrisia”, enfatizou o senador.
O senador pedetista já adiantou que é contra o afastamento de Dilma. Ele descreveu as principais estratégias para travar o golpe no Senado. Esse é o momento, afirma de o governo “lutar com as armas que dispõe para estabelecer a verdade e sensibilizar aqueles que têm compromisso com a nação brasileira”. Telmário acredita que, no Senado, o processo terá um encaminhamento diferente do que foi visto na Câmara, com a Casa dando mais ênfase aos aspectos técnicos do caso. “Obviamente, o Senado é diferente da Câmara, nós não trabalharemos com essas emoções todas, estaremos atentos às alegações da oposição”, disse Telmário.
“Quando eles dizem que ela [presidenta Dilma] fez seis créditos sem a autorização do Congresso, não é procedente isso. Está na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e está na Lei Orçamentária Anual (LOA). Eles contingenciaram algumas rubricas para suprir outras, que é uma transferência natural. Não há aumento de despesa nenhuma, e mais do que isso, o próprio Congresso aprovou essa ação no final de 2015, uma lei que aumenta a meta fiscal. Estamos estudando muito bem para esclarecermos essas questões junto ao Senado”, explicou.
O senador também manifestou preocupação com a governabilidade de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB), cuja conduta comparou à do então vice-presidente Itamar Franco na época do afastamento do ex-presidente Fernando Collor. “Itamar teve uma postura de estadista, em hora nenhuma aceitou conversar sobre a possibilidade de ele assumir, só chegou a esse momento, de montagem de um grupo governista, quando o Senado já estava afastando o Collor. Não conspirou, como o Michel Temer fez, que montou um quartel general”, criticou.
Para Telmário, “Temer não entra [na Presidência] com voto popular e vai tomar medidas políticas, distribuir cargos, vai ter que entregar o pré-sal, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e desidratar os projetos sociais que fazem inclusão, deixar que eles sequem até morrer”, declarou.
Sobre um possível apoio do PDT frente o hipotético governo Temer, o senador esclareceu que a ideia ainda não foi debatida e defendeu que o partido trabalha de acordo “com a constituição e a legalidade”. No entanto, Telmário declarou que não vê o vice-presidente com condições para governar o País.
“Eu não tenho nenhuma disposição de apoiar um governo desse por várias razões. Ninguém governa um país colocando lá vários ministros envolvidos em corrupção, um vice como o (Eduardo) Cunha, eu não posso concordar com isso”, justificou. Mota adiantou também que representantes do PMDB teriam entrado em contato com o senador com ofertas de parcerias, mas que negou as propostas.
Telmário criticou a tentativa de culpar somente uma parte do governo quanto à crise instalada no País, como se “somente a presidente Dilma fosse responsável pela corrupção no Brasil” e que, com o afastamento dela, os problemas seriam resolvidos.
“Hoje nós estamos vivendo uma crise econômica e uma impopularidade da presidente Dilma, mas isso não é motivo para afastamento. Agora era a hora do grupo assumir os erros, se organizar, inclusive chamar até a oposição para tentar tirar o País desta situação. Mas não. A oposição não quer correr o risco de perder na convocação de uma nova eleição. Então eles têm que dar o golpe”, concluiu.
Com informações do jornal Folha de Boa Vista