Foto: Roberto Stuckert FilhoMarcello Antunes
21 de novembro de 2016 | 17h39 Em entrevista ao vivo na tarde desta segunda-feira (21) para o site Brasil 247, Dilma Rousseff, presidenta eleita pelo voto popular, vítima de um golpe parlamentar, disse o que realmente acha do seu vice Michel Temer e seu governo que já implodiu cinco ministros. “Ele (Michel Temer) está aquém do Brasil. O brasileiro médio, o pequenininho, está acima dele. Não acredito que o Brasil tenha saída com ele e o grupo que o cerca, que está dentro do Palácio do Planalto. Seu governo não tem ambição política do tamanho do Brasil. A ambição é do tamanho de um apartamento na Bahia”, afirmou. A presidenta disse que é vergonhosa a atitude do governo Temer em relação ao ministro da Secretaria de Governo e coordenação política, Geddel Vieira Lima, que pressionou o ministro da Cultura, Marcelo Calera, a atender um pedido de seu interesse particular e financeiro. Calera se demitiu do governo e a atitude de Geddel e a inanição de Temer mostram a fragilidade em tirar o Brasil da situação onde se encontra. Geddel queria liberar a obra de um edifício no centro de Salvador, onde é dono de um apartamento. “Desde o início, o governo interino mostrou descompromisso com a pasta da Cultura. Somos um país diverso e o Ministério da Cultura no nosso governo progressista teve papel importante, como o de fortalecer o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Povo sem história perde sua característica e uma das primeiras medidas do governo interino foi enfraquecer o Iphan. Acredito que essa atitude do ministro Geddel Vieira Lima em relação ao edifício, ao espigão de Salvador, mostra a inexistência de compromisso com o Brasil”, criticou. Mídia Dilma considera negativo para o Brasil a forma com que o mundo avalia o comportamento da mídia brasileira formada por um pequeno grupo de famílias. Todas notícias devem ser analisadas sob a ótica de serem ou não verdadeiras. “Hoje no mundo há um fato inequívoco, que é a visão crítica que se tem da mídia brasileira, com seu viés, sua capacidade de criar situações absolutamente falsas e vende-las como verdadeiras”, disse ela. Um exemplo disso, segundo Dilma, é a pressão desse pequeno grupo de famílias, com o apoio do governo Temer, de tentar barrar a atuação de sites estrangeiros em língua portuguesa como a BBC Brasil, o The Intercept e outros, alegando a necessidade de existir a mesma legislação para eles. “Eu sou absolutamente contra reserva de mercado. Na verdade, é uma reserva de poder político. A mídia se baseia na existência de que não há contraditórios, e isso dá para certos grupos um poder político bastante elevado. Talvez tenham a mídia como um partido político de fato. E é interessante que pregam a despolitização. Porque? Por que agem como partido e querem essa reserva de poder”, salientou. Viés O site Brasil 247 perguntou à Dilma sua avaliação das recentes falas do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que está presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julgará as contas da chapa Dilma-Temer referente às eleições de 2014. Acontece que o ministro Gilmar, em seminário, disse que o impeachment de Dilma lhe garantiu dupla felicidade. Para Dilma, esse ministro perdeu as condições de julgá-la, pelo simples fato de que nenhum juiz, seja ele de primeira, segunda instância ou da própria Suprema Corte, não pode se manifestar fora dos autos. “Como o TSE pode me julgar com o seu presidente se manifestando fora dos autos”, questiona. A presidenta afastada acrescentou que o maior bem a ser preservado, num Estado Democrático de Direito, é o próprio direito de defesa. “Um dos direitos fundamentais, cláusula pétrea da Constituição, é ser julgado com isenção, senão voltamos para a República Velha. Essa volta ao início do século 20 é inadmissível. É como ter um juiz que será imparcial quando julgar uma pessoa fora do seu círculo de amizade”, destaca. Juventude A presidenta Dilma Rousseff afirmou que a juventude é a protagonista da retomada do eixo democrático. Na entrevista, disse que vê com interesse a trincheira das ocupações nas escolas. “No Brasil, o movimento estudantil, com lideranças de vanguarda, sempre antecipou novos cenários. Os jovens, eles estão nos ensinando com lucidez política o que deve ser a democracia”, diz.
O governo atual de Temer representa o retrocesso, esse sistema político falido. Nos jornalões, segundo Dilma, o governo Temer só fala para o parlamento ou para o mercado. “Ninguém governa falando só para o parlamento e para o mercado”, observa. “Ele, Temer, não só ele não libera como não representa. O povo sabe o caminho e Lula tem essa característica. Lula se alimenta disso, dessa capacidade de absorver o que o povo quer. Eu me esforcei para ter essa capacidade. Mas você tem que ter idoneidade moral e compromisso ético para ter isso. As ambições ou são do tamanho do povo ou não se está à altura dela. Uma pessoa e um governo não podem colocar um apartamento acima do Brasil”, destaca.