Com mais de 50 mil engenheiros e centenas de milhares de técnicos especializados no setor desempregados, o governo Temer resolveu facilitar a entrada de profissionais e de grandes empreiteiras estrangeiras no país para “destravar o mercado de construção civil”—imobiliário e de infraestrutura”, anuncia o jornal Folha de S. Paulo na edição desta segunda-feira (16).
Segundo o jornal, um projeto de lei com esse objetivo deve ser enviado ao Congresso nas próximas semanas, atendendo às reclamações de “grupos franceses, canadenses e americanos” que pretendem atuar no Brasil. Alega a Folha que a atual regulação, que será modificada, corre o risco de “inviabilizar a atividade no País”.
Herança da Lava Jato
O liberou geral para empresas estrangeiras ignora o fato de que investimentos realizados ao longo de seis décadas colocou a engenharia brasileira entre as mais qualificadas e competitivas do mundo, como lembra o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino Pereira. Há três anos, as empresas brasileiras estavam presentes em 41 países, realizando obras de grande porte nos Estados Unidos, União Europeia, Oriente Médio e África.
“A Lava Jato demoliu esse acúmulo técnico e gerencial que construímos em 60 anos de esforço”, lamenta Pereira. “A pretexto de combater a corrupção, a operação desmontou um patrimônio tecnológico inestimável”. O presidente do Clube de Engenharia ressalta que seria perfeitamente possível investigar e punir desvios sem quebrar empresas e desempregar alguns milhões de brasileiros. “A Volks Wagen foi duramente punida por fraude sem deixar de produzir um único veículo e sem demitir um único operário”.
Para Pereira, a proposta de Temer de trazer as empreiteiras de outros países para ocupar o espaço das empresas nacionais devastadas pela Lava Jato é a clara expressão da “submissão deste governo aos interesses estrangeiros”.
Investimento
Nas últimas seis décadas, o Brasil construiu uma das engenharias mais competentes do planeta. Sem adotar uma postura xenófoba de fechar seu mercado, o País adotou uma política — formulada em grande parte pelos profissionais da área, representados por entidades como o Clube de Engenharia — que favorecia a absorção de tecnologia pelos profissionais e empresas locais, por meio da determinação de que empresas estrangeiras tivessem que estar consorciadas a empreendimentos brasileiros.
“Isso capacitou o País”, testemunha Pedro Celestino Pereira. Foi assim que o Brasil chegou ao seleto clube da engenharia de ponta, à alta competitividade nas grandes obras de infraestrutura e à geração de milhões de empregos altamente qualificados. “Agora vamos regredir ao tempo em que importávamos tudo”.
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