O novo escândalo da gestão Bolsonaro envolve a tentativa de aplicar um golpe no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Investigações da Polícia Federal (PF) apontam indícios de que o então ministro da Justiça, Anderson Torres, teria agido para interromper o fluxo de eleitores onde Lula foi bem votado.
O encontro de Torres com autoridades aconteceu na Bahia, dias antes do segundo turno. Segundo matéria do jornal O Globo, o ex-ministro Torres pediu à superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para montar a operação que ocorreria no dia 30 de outubro.
A verdadeira meta, no entanto, foi outra: barrar a chegada de eleitores aos locais de votação nas regiões onde o petista havia sido mais bem votado no primeiro turno.
“A cada dia, aumenta a certeza da organização criminosa comandada por Bolsonaro a partir do Planalto”, criticou no Twitter o presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, Humberto Costa (PT-PE).
De fato, notícias em todo o país mostraram que a PRF montou uma série de barreiras na Região Nordeste afim de fiscalizar o suposto uso de veículos irregulares no transporte de eleitores. A ação, no entanto, serviu apenas para dificultar o trânsito de quem iria votar – muitos, inclusive, tendo desistido devido à demora.
O presidente Lula obteve na Bahia a sua maior votação em 2022. Só no primeiro turno, o petista recebe 69,7% dos votos contra 24,3% do candidato derrotado. O segundo turno deu ainda ao atual mandatário uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos de vantagem sobre o ex-presidente.
Os investigadores do caso teriam ficado em choque, segundo o Blog da jornalista Andréia Sadi, pela presença do ex-ministro bolsonarista na Bahia. Eles classificaram a ida como uma pressão do governo anterior à superintendência regional para favorecer o então presidente com o uso da máquina pública.
Minuta do golpe
A tentativa do governo Bolsonaro de atrapalhar as eleições teve ainda outros desdobramentos. O avanço das investigações da PF aponta discrepância entre o que diz Anderson Torres e outros envolvidos na ‘minuta do golpe’, documento encontrado na casa do ex-ministro para instaurar estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tentar reverter o resultado eleitoral.
Torres havia afirmado em depoimento que o documento golpista foi entregue a ele por sua secretária. Ela, no entanto, afirmou que “nunca entregou nada” sobre o tema para o ex-ministro.
E tem mais: a PF descobriu um boletim produzido pela então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar – delegada que, aliás, trabalharia posteriormente com ele na Secretaria de Segurança do Distrito Federal.
Produzido em outubro, segundo a coluna de Lauro Jardim, o documento foi produzido em outubro e detalhava os locais em que Lula havia sido mais votado no primeiro turno. Esse teria sido, segundo investigadores, o material base usado para Anderson para atrapalhar a chegada de eleitores aos locais de votação nestas regiões.
Para o Primeiro-Secretário do Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), a denúncia é “gravíssima”. Ele lembrou ainda os bloqueios que ocorreram no seu Estado, Sergipe.
“É gravíssima a notícia que o ex-ministro Anderson Torres tinha um “mapa do golpe” para atrapalhar o 2º turno das eleições! Só no NE, a PRF conduziu 272 bloqueios. Em Sergipe, também houve inúmeros bloqueios, notadamente em Umbaúba, Frei Paulo, Carira, Monte Alegre, entre outros”, afirmou.