Analistas convergem na conclusão: Bolsonaro planta desconfiança no processo eleitoral para colher confusão após o resultado das urnas e facilitar a contestação sobre possível derrota. Em sua última cartada, colocou em dúvida um sistema que depende da fiscalização dos próprios partidos, a inserção de propaganda eleitoral nas emissoras de rádio. O lance foi frustrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgou a ação inicial inepta, ou seja, sem condições sequer de ser analisada, pois não tinha dados sérios.
O partido de Bolsonaro tentava atribuir suposta falha de veiculação de peça publicitária a um boicote organizado para prejudicar sua campanha. Em nota, o TSE explicou que “compete às emissoras de rádio e de televisão cumprirem o que determina a legislação eleitoral sobre a regular divulgação da propaganda eleitoral durante a campanha (…) e cabe aos candidatos o dever de fiscalização, seguindo as regras estabelecidas”.
Episódios como esse reforçam, na opinião de senadores do PT, o desespero que se abateu sobre a o núcleo de campanha de Bolsonaro.
“Num dia, o amigo de Bolsonaro joga granadas e atira em policiais. No outro, o presidente ameaça contestar a eleição porque aparentemente o seu partido esqueceu de enviar inserções para rádios. Está claro: essa turma não tem nenhum respeito pelas leis ou pelo povo brasileiro”, sintetizou Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
O recém-eleito senador Wellington Dias (PT-PI) avalia que o ocupante da cadeira presidencial parou de tentar enxovalhar as urnas eletrônicas e passou a inventar problemas nas inserções em rádios.
“Ora, os partidos fiscalizam. Quem iria pedir para rádio A ou rádio B não botar inserção desse ou aquele candidato? As TVs e rádios estão divulgando. E muito mais forte que o rádio, são os impulsionamentos que ele está fazendo no Youtube e em várias redes sociais”, pondera. Para o ex-governador do Piauí, o assunto deve ser tratado dentro da legalidade.
“Na prática, eu acredito que estão querendo mesmo é criar tumulto, criar um ambiente para colocar os brasileiros uns contra os outros. A porca tá comendo a canela dele e ele quer encontrar um argumento para tumultuar a eleição. A democracia vai vencer”, conclui Wellington Dias.
Mais ameaças
A tentativa de tumultuar o processo eleitoral encontra eco nas redes sociais. Publicação do UOL nesta quinta-feira (27) mostra trechos de mensagens trocadas num grupo do Telegram entre os dias 3 e 23 de outubro. Nas conversas – analisadas, segundo o UOL, pela Agência Pública – aparece Jackson Villar da Silva, que seria radialista e presidente de uma organização chamada “Acelera para Cristo”, recomendando “quebrar esquerdistas no cacete” e “quebrar a urna eletrônica no pau”. Afirma, ainda, que “cientista político tem que apanhar”.
Jackson Villar, que organizou motociata com Bolsonaro em junho de 2021, no interior de São Paulo, comete mais crimes. Nas gravações, refere-se ao povo baiano como “descarados e vagabundos” pela maioria de votos dada a Lula no primeiro turno. Em outro momento, após o episódio de domingo passado envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson, que atirou em policiais federais e resistiu à prisão, Villar esbravejou contra o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Além de proferir palavrões, conclamou seguidores a defender Jefferson em frente à casa dele, no interior do estado do Rio.