O preconceito e a desinformação ajudam a tornar o câncer de colo de útero um dos que mais afeta mulheres no Brasil e no mundo, apesar de ser um dos tipos da doença mais evitáveis e tratáveis. Para a senadora Teresa Leitão (PT-PE), o país vive as consequências da desarticulação do Programa Nacional de Imunização (PNI).
“O câncer de colo de útero é único tipo que tem vacina. E, apesar de a vacina ser distribuída gratuitamente e oferecida à população – um avanço para a saúde pública conquistado em um governo do PT –, o Brasil vive as consequências do enfraquecimento e da desarticulação do PNI. Com preconceitos, com fake news, com falácias que não ajudam a conscientizar a população. Nesta vacina e em tantas outras. Logo o Brasil, que já teve o seu programa de imunização como exemplo para outros países”, lamenta Teresa.
As críticas às mentiras sobre a doença, feitas em discurso ao plenário nesta quarta-feira (24/5), foram comprovadas como barreira na luta contra a doença por meio de uma pesquisa feita pela Fundação do Câncer e divulgada no ano passado. Segundo o levantamento com pais e responsáveis, entre 35% e 47% deles acreditam que a vacina contra HPV (que previne contra o câncer de colo de útero) pode incentivar a iniciação sexual precoce.
O objetivo do estudo foi identificar as barreiras e as lacunas existentes sobre a vacinação contra o vírus HPV e o rastreamento para o câncer do colo do útero, responsável pela morte de mais de 6 mil mulheres por ano no Brasil.
“As famílias precisam saber que não há nenhuma vacina que vá antecipar a vida sexual das meninas, como muitas fake news espalham por aí. As vacinas salvam vidas”, afirma Teresa Leitão.
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo da doença mais incidente entre mulheres. Na análise regional, é o primeiro lugar na região Norte (26,24 a cada 100 mil mulheres) e o segundo nas regiões Nordeste (16,10/100 mil) e Centro-Oeste (12,35/100 mil), segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“As mulheres precisam saber mais sobre o câncer de colo de útero para serem conscientizadas do protagonismo da sua própria saúde e, consequentemente, das suas próprias vidas”, analisa a senadora petista.
Debate
O tema foi discutido em audiência pública realizada nesta quarta-feira na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Durante a reunião, especialistas defenderam foco na Atenção Primária à Saúde (APS).
Para o diretor do departamento de Gestão do Cuidado Integral do Ministério da Saúde, Marcos Vinicius Soares Pedrosa, é preciso aumentar a cobertura da rede de serviços.
“Hoje, as equipes de Saúde da Família cobrem em torno de 60% de uma população cadastrada que passa de 100 milhões de habitantes. Isso ainda é pouco para um sistema de saúde que se define como universal na Constituição”, disse Marcos.
“Para que a gente possa garantir essa proteção adequada, a gente precisa ampliar essa rede de serviços e é incontornável debater o financiamento da saúde, o arranjo dessas equipes e dimensionamento delas, que hoje tem a responsabilidade de cuidar de uma população que não é só feminina, mas em geral”, completa.
A utilização dos recursos no combate à doença, no entanto, precisa também ter foco na gestão. Segundo a coordenadora do Programa Útero é Vida da Secretária de Saúde do Estado de Pernambuco, Jurema Telles.
“É muito mais barato prevenir o câncer de colo de útero. E mundo já provou. Mas não é só isso. Tem um trabalho do TCU que mostra que os gastos com câncer aumentaram 143% entre os anos de 2010 e 2020. E nós não diminuímos a mortalidade. Então, não basta só gastar. A gente precisa gastar bem”, explica.