Tucano do baixo clero agride ex-presidente Lula, mas é abatido em pleno voo

Tucano do baixo clero agride ex-presidente Lula, mas é abatido em pleno voo

José Pimentel: requerimentos de Ataídes foram recusados por unanimidade

Nas legislaturas recentes, a bancada tucana no Senado tem recorrido ao seu baixo clero para ocupar o cargo de senador franco atirador para tentar desestabilizar os adversários com provocações grosseiras e falsos argumentos, ou simplesmente gerar polêmicas estéreis. Em geral, são personagens histriônicos, que uma vez conhecidos, não metem medo– mas desdém. Na legislatura passada, o lugar cabia a Mário Couto (PSDB-PA); nesta, o candidato ao posto é o senador Ataídes Oliveira (TO), recém filiado ao PSDB, cuja principal bandeira é a extinção pura e simples do Sistema S (Senai, Senac, Sesc)

Na tarde desta terça-feira (24), no plenário da Casa, o tucano neófito pediu a palavra para “um registro” e abriu sua fala xingando o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de “mentiroso”. A reação foi instantânea e vinda do próprio vice-presidente do Senado: “V. Exª deveria ter modos, senador. Está querendo baixar o nível do Senado Federal?”, fuzilou o senador Jorge Viana (PT-AC), exigindo compostura do oponente. Ataídes ainda tentou argumentar que estava com a palavra, mas Viana arrematou: “Pelo menos [use a palavra] com nível. V. Exª já está agredindo a honra do Presidente Lula. Faça isso com nível”.

Ataídes engasgou, desceu um tom na voz e tentou consertar o trágico início de sua fala: “Mas ele mentiu. Se ele mentiu, eu posso falar que ele mentiu…”, insistiu, antes de referir-se à sua principal ocupação – a de presidente de CPI do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Rateando, tentou dizer que por duas vezes “convocou” o filho do ex-presidente Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, para explicar a origem de R$2,4 milhões que o lobista Mauro Marcondes diz ter repassado a ele. A verdade é bem outra: Ataídes apresentou dois requerimentos de convocação do filho de Lula, mas ambos foram rejeitados por unanimidade pelo colegiado, que não quer que a CPI do CARF siga o mesmo caminho da CPI da Petrobras, transformada em circo pela oposição, sem apresentar qualquer conclusão à população.

 Ataídes ainda tentou espernear, mentindo que o ex-presidente Lula, nas suas palavras, “articulou violentamente” as bancadas do Senado Federal e “não permitiu” o depoimento de seu filho.

A lógica de Ataídes é bastante peculiar. Recentemente, ele concluiu que há “25 milhões de desempregados no Brasil” subtraindo o número de pessoas ocupadas do número de brasileiros adultos. No caso da CPI do CARF, se Lula defendeu que o filho esclareça as denúncias e se a unanimidade dos senadores da CPI do CARF rejeitou seus requerimentos pirotécnicos, isso é prova de que o ex-presidente seria “mentiroso”.

Viana não foi o único senador petista a reagir. Outro senador do PT, José Pimentel (CE). Que faz parte da CPI do CARF, demoliu o que restava do argumento de Ataídes. Tanto os senadores da situação quanto os da oposição, disse Pimentel, todos os integrantes da CPI agiram de acordo com sua consciência. “Por unanimidade, duas vezes, o requerimento do Sr. Senador que aqui falou foi rejeitado. Portanto, o Sr. Senador deveria respeitar os membros da Comissão, que são da oposição e da situação, que rejeitaram, porque nós não aceitamos que se faça chicana na CPI do CARF. Por isso, Sr. Presidente, a situação e a oposição, por unanimidade, rejeitaram esse requerimento”.

Ataídes calou-se.

Além dele e do senador Pimentel, a CPI do CARF tem como membros titulares Humberto Costa (PT-PE), Donizeti Nogueira (PT-TO), Simone Tebet (PMDB-MS), Otto Alencar (PSD-BA), Hélio José (PSD-DF), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Douglas Cintra (PTB-PE). Os suplentes são Eduardo Amorim (PSC-SE), Randolfe Rodrigues (REDE-AP), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Acir Gurgacz (PDT-RO), Ivo Cassol (PP-RO) e Benedito de Lira (PP-AL).

A CPI do CARF investiga denúncias levantadas pela Polícia Federal, na Operação Zelotes, de que grandes contribuintes teriam pago propina à câmara recursal da Receita Federal para assegurar a reversão de multas recebidas pelo descumprimento de obrigações tributárias, ou seja, multas por sonegação ou elisão fiscal. A lesão aos cofres públicos pode ultrapassar os R$ 19 milhões.

Como presidente do colegiado, Ataídes tem se notabilizado por transformar as investigações dessas gravíssimas denúncias em um arremedo de “CPI do fim do mundo”. Atirando a torto e a direito, ele já tentou convocar o ex-presidente Lula, os ex-ministros Erenice Guerra (Casa Civil) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência). No caso de Erenice, foram três requerimentos de Ataídes rejeitados por seus pares. A relatora da comissão, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) criticou a postura do tucano. “O objetivo [de Ataídes] não é aprovar os requerimentos. O objetivo é dar pauta política para a imprensa brasileira”, afirmou.

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