As sucessivas trapalhadas do interino Michel Temer, com menos de duas semanas à frente do Executivo, já preocupam os aliados do governo ilegítimo. Uma das avaliações recorrentes é que, quanto mais tempo durar o processo de impeachment contra a presidenta Dilma, maiores as chances de a tentativa de golpe de Estado cair por terra. Por isso, não é de se estranhar que o relator da Comissão do Impeachment, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), tenha apresentado, nesta quarta-feira (25), uma proposta de encurtar o trâmite golpista no Senado.
Apesar do tucano dizer que as datas poderiam ser modificadas, segundo o bom senso, a proposta, na prática, reduz os 180 dias que o processo pode tramitar com a presidenta ainda afastada – se esse prazo for superado, o processo golpista continuará, mas Dilma retorna ao cargo. Ou seja: ao invés de apresentar um calendário para a apreciação do tema até novembro, Anastasia propôs prazos até meados de agosto.
Na reunião do colegiado, os senadores contrários ao impeachment criticaram a tentativa de atropelamento do processo. Mesmo parlamentares que votaram a favor da admissibilidade do golpe destacaram que o direito à ampla defesa da presidenta não pode ser cerceado.
O senador José Pimentel (PT-CE) sugeriu que a deliberação do cronograma seja feita no próximo dia 2 de junho, quando o relator apresentará um parecer sobre os próximos passos do processo. Pimentel disse que a oposição quer garantir o direito de defesa da presidenta Dilma. “Não se trata nem de encurtar nem de encompridar os prazos”, afirmou.
A polêmica levou o presidente da comissão, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), a conceder pedido de vistas para a votação do cronograma. Com isso, a decisão sobre o andamento do processo golpista ficou para a semana que vem, um dia após a apresentação da peça da defesa da presidenta Dilma na comissão, prevista para quarta-feira (1º).
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) elogiou a decisão de Lira e lembrou que a discussão do impeachment não pode ser encurtada devido à complexidade do tema. “Isso [reduzir o prazo do processo] não é razoável de maneira nenhuma, não é aceitável. Não é um tema qualquer. É um tema polêmico, por tudo o que já foi discutido no presente momento”, disse.
Pedido de suspensão dos trabalhos
Em questão de ordem, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu ao presidente do colegiado a suspensão dos trabalhos da Comissão do Impeachment. O objetivo é apurar o suposto esquema para afastar Dilma da presidência e abafar os trabalhos da operação Lava Jato, revelado em diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
O petista lembrou que o processo de impeachment está sendo desmoralizado internacionalmente e no Brasil. Ainda segundo ele, o impeachment foi um “assalto” ao poder para tentar “paralisar” as investigações da Operação Lava Jato.
O senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) tentou contraditar o pedido afirmando que Sérgio Machado participou das gestões Lula e Dilma como presidente da Transpetro. De imediato, Lindbergh lembrou que Machado, na gravação com Jucá, na verdade, incrimina a cúpula do PSDB – entre eles, o senador Aécio Neves (MG) e o ministro das Relações Exteriores José Serra (SP).
Outros dois requerimentos foram apresentados pedindo ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República, em caráter reservado, as gravações e degravações do diálogo entre Jucá e Machado.
Como Raimundo Lira negou o pedido de Lindbergh, o senador anunciou que irá entrar com o mesmo pedido no Supremo Tribunal Federal (STF).
Carlos Mota
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