TRT World – turcos acompanham atentado à democracia no Brasil “com lupa”Na Turquia, a tentativa de golpe contra o presidente eleito, Recep Tayyip Erdogan, no começo de julho passado, provocou 265 mortos e quase três mil feridos. Passada menos de uma semana, todo o mundo soube que se tratara de uma quartelada malsucedida, nos mesmos moldes em que países da América Latina, incluindo o Brasil, viveram nos anos 60 e 70 do século passado. No Brasil, um golpe parlamentar, sem armas e sem tiros está prestes a se consolidar e guarda muitas semelhanças com o golpe militar de 1964 que, frise-se, também contou com o apoio do Senado na época.
O fato é que, por acontecerem quase ao mesmo tempo, o mundo acompanha com atenção as semelhanças e diferenças entre os dois atentados – em particular na Turquia.
Para a audiência turca, a aparente calma do processo brasileiro é um mistério. Tanto que a TRT World, canal de notícias 24 horas da Turquia designou uma equipe especialmente para acompanhar o andamento e os desdobramentos do golpe no Brasil.
Nesta quinta-feira, no intervalo entre os depoimentos das testemunhas de acusação contra a presidenta, uma equipe da TRT conseguiu uma entrevista exclusiva com o advogado de defesa, José Eduardo Cardozo. Feliz pelo encontro, a repórter Anelise Andrade Borges, correspondente da emissora turca no Brasil, revelou: “a audiência turca está acompanhando os acontecimentos no Brasil com lupa”.
A pergunta inevitável foi uma das primeiras da entrevista: “como pode uma presidenta que não responde a um único processo e não está envolvida nos casos de corrupção que atingem políticos de primeira linha no País correr o risco de perder seu mandato?”
Cardozo tentou explicar a lógica dos oportunistas e usurpadores que aderiram ao então vice-presidente Michel Temer para chegar ao poder sem o crivo das urnas. “Temos um golpe parlamentar em curso, porque o governo perdeu a maioria parlamentar e os adversários aproveitaram o momento de crise econômica e política para inflar a narrativa de crime de responsabilidade. Ou, como acontece no parlamentarismo, fazer o ‘recall’ do governo, derrubando o gabinete por meio do voto de desconfiança. Isso não existe no regime parlamentarista. Nossa Constituição não permite esse tipo de ação’, disse o ex-ministro da Justiça, hoje advogado de defesa da presidenta Dilma..
Cardozo disse mais ainda: “os derrotados na eleição de 2014 sabem que não terão uma oportunidade melhor”, e lembrou que o PMDB está tentando tomar o poder pela terceira vez, todas elas sem receber a aprovação da maioria dos eleitores brasileiros. O primeiro, contou, foi Ulysses Guimarães, que “herdou” o cargo quando o presidente Tancredo Neves, gravemente doente, não pôde assumir. A segunda, quando o mandato caiu no colo de Itamar Franco com o impeachment de Fernando Collor. Agora, tenta se consolidar no Palácio do Planalto afastando Dilma.
Vergonha
Cardozo disse à repórter turca que tem esperança na absolvição de Dilma. Se o julgamento fosse apenas por critérios jurídicos, com base em um processo justo, isento e imparcial, o golpe não se concretizaria, garante. “Não há consistência nas acusações e nem provas”, observou. Sobre expectativas, foi sintético: “Eu espero que se faça justiça com Dilma e com a Democracia.
Quando a repórter perguntou como a História, no futuro, retratará o que acontece hoje no Brasil e o que será dito caso o golpe se concretize, o ex-ministro da Justiça e velho militante pela democracia respondeu: “Muitos se envergonharão, como nós nos envergonhamos do que aconteceu em 1964.
Giselle Chassot