CPI Petrobras – Resumo 4: Perguntas dirigidas ao relator tentam desvalorizar trabalho de investigação
Pimentel, em entrevista, ressaltou que CPI |
Ninguém poderá estranhar se, nos jornais da TV Globo da noite desta terça-feira (20), a edição privilegiar o discurso da oposição sobre o depoimento de hoje do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar supostas irregularidades na compra da refinaria Pasadena, no Texas (EUA), negócio fechado em 2006. Depois de três horas e quinze minutos, o relator da CPI, senador José Pimentel (PT-CE), conversou com dezenas de jornalistas que se espremeram para entrevistá-lo.
A primeira pergunta foi de um repórter da TV Globo, Wladimir Netto, que repetiu o comentário feito na semana passada pelo senador Cyro Miranda, do PSDB de Goiás, “de que a CPI era uma farsa, uma ação entre amigos”. Assim, a pergunta do repórter foi a seguinte: “O Cyro Miranda disse que não veio porque era uma farsa, era uma ação entre amigos essa audiência de hoje. O que o senhor acha?”.
Pimentel respondeu que “isso diz respeito ao próprio requerimento da oposição que propôs a criação da CPI e também à decisão do Supremo Tribunal Federal. O que nós fizemos na instalação desta CPI foi cumprir uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que é resultado de um mandado de segurança encabeçado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) pedindo a instalação da CPI. Portanto, desrespeito são aqueles que apresentam projeto de CPI, vão ao Supremo Tribunal Federal, têm ganho de causa e em seguida não indicam seus membros”.
O repórter de uma rádio pergunta: “Gabrielli deu um show aí?”.
“Eu diria que o que nós fizemos foi ter mais de 200 perguntas e que o depoente respondeu a todas elas. Eu mesmo fiz 134 perguntas, resultado das matérias que eu encontrei nesse ano de 2014 sobre a Petrobras e sobre sua gestão”, respondeu Pimentel.
O repórter da TV Globo, então, aproveitou para colocar que “não foram perguntas agressivas e ele (Gabrielli) não foi contestado em nenhum momento. O senhor acha que a audiência foi um pouco amigável, eu diria”.
O senador Pimentel pontuou que “agressividade é típica de uma ditadura. No estado democrático de direito, você formula a pergunta e ao mesmo tempo subsidia com um conjunto de outros documentos que nós já requeremos. Portanto, a forma de fazer as perguntas na ditadura é uma; no estado democrático de direito é outra”.
Uma repórter aproveitou para dizer que o ex-presidente da Petrobras afirmou no mês passado que a presidenta Dilma (Rousseff) não poderia fugir da responsabilidade. “Hoje ele adotou um outro tom, mais ameno, disse que a presidenta não poderia ter tomado essa decisão sozinha, que era uma decisão colegiada, aliviou (sic), o que o senhor acha disso?”
Pimentel respondeu que “aqui, no Congresso Nacional, ele (Gabrielli) não deu nenhuma entrevista sobre isso. Aquilo que sai na imprensa cabe a nós acompanhar”.
No final da entrevista, evidentemente insatisfeito com as respostas de Pimentel, o repórter da TV Globo acrescentou: “Foi útil?…O que o senhor vai fazer com as informações (prestadas por Gabrielli) agora?”
Pimentel, paciente, disse: “essa CPI de Petrobras e de Pasadena já aconteceu em 2009/2010, com o mesmo teor, com os mesmos atores, sobre o mesmo procedimento. Portanto, é uma matéria conhecida e de lá para cá o Tribunal de Contas da União fez um conjunto de investigações; o Ministério Público Federal também; a Polícia Federal da mesma forma e temos, no Superior Tribunal de Justiça todo o inquérito, todo o processo sobre a venda de algumas refinarias. Portanto, essa CPI, ela parte de um conjunto de documentos já apurados e cabe a nós, organizá-los e, ao mesmo tempo, pedir mais esclarecimentos.”
Uma repórter indagou: “há um esforço muito grande para que até amanhã a CPI mista seja instalada. O senhor acha que a CPI do Senado vai ficar muito esvaziada a partir disso?”
E Pimentel respondeu: “nós estamos cumprindo os requerimentos de proposição de CPI por parte da oposição. Até agora a oposição não desistiu do mandado de segurança do Supremo Tribunal Federal. E não instalar as CPI é deixar de cumprir a decisão judicial”.
O relator, no final da entrevista, explicou a uma jornalista que a partir de agora irá começar a construir os quesitos para que na quinta-feira (22), quando acontece o depoimento do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, “nós possamos ter um resultado que atenda aos interesses do estado democrático de direito”.
Marcello Antunes