Ao ser perguntada sobre me manifestar em nota a respeito da citação ao meu nome na lista da delação premiada de executivos da empresa Odebrecht, ilegalmente vazada em tempo real, depois entregue oficialmente pelo STF à imprensa e publicada em seu site, respondi que não o faria até ter acesso ao conteúdo oficial das informações.
O procedimento, que além de ilegal é irresponsável, é feito de tal modo espetaculoso que a condenação pública vem antes de qualquer apuração. Não importam os fatos, mas as versões sistemática e diuturnamente repassadas pelos grande meios de comunicação, em especial pelo grupo Globo e seus comentaristas, que se arvoram em donos da verdade, da moral e dos bons consumes; que julgam a todos em seus comentários e vomitam regras indistintamente.
Após ter acesso aos vídeos em que se referem a mim e aos demais, concluo que a operação Lava Jato segue à risca a intenção de ser a grande farsa de apelo midiático que vem sendo desde que se desviou do que se propunha ao início de investigar um esquema de corrupção.
Nunca conversei com a Odebrecht sobre doação para minha campanha em 2014, tampouco meu esposo Paulo Bernardo, que não se envolveu em nenhum momento com a minha campanha. Nunca transacionei interesse público para ter apoio de campanha, nem no Executivo, onde atuei, nem no Legislativo, onde atuo.
Impressiona como a Lava Jato induz a opinião pública sobre fatos e pessoas. Ao virar delator, o Sr. Marcelo Odebrecht ganhou credibilidade sem limites. Sua palavra ganha valor de prova. De inimigo público nº 01, preso, criticado, troféu da Lava Jato, virou o maior conhecedor de campanhas eleitorais, chegando a afirmar, categoricamente, que “ninguém faz campanha sem caixa 2”
Esse show midiático não tem nenhuma responsabilidade com o país e com as as pessoas. Ao misturar tudo: doações a campanhas, caixa dois, propina no exterior, venda de projetos e interesses, criminaliza não apenas esse ou aquele agente, mas a política como um todo, os partidos. Isso porque os empresários delatores, que se assumem corruptores, serão beneficiados, cumprirão a reduzida pena em liberdade e com muito dinheiro em suas contas.
Fora isso, é preciso dizer que há um ponto nessa história muito frágil e falho:
nenhum membro do Poder Judiciário ou do sistema de justiça, das polícias e da mídia aparece nas delações.
Esse questionamento feito pelo deputado Paulo Pimenta em seu facebook dá a dimensão da hipocrisia.
A simples menção do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, hoje preso, de que faria delação envolvendo membros do Poder Judiciário fez com que o acordo até o momento não tenha sido apreciado. O corporativismo é gritante.
Emílio Odebrecht, o pai de Marcelo fez interessante reflexão em seu depoimento: “Isso é há 30 anos que se faz. O que me surpreende e eu quero ter oportunidade de enfatizar, o que me surpreende é quando eu vejo todos esses poderes, a imprensa, tudo, tratando isso como se fosse uma surpresa (…) Porque 30 anos, é difícil as coisas não passarem a ser normais. (…) O que me entristece é a própria imprensa. Porque agora estão fazendo tudo isso? Porque não fizeram isso há 10, 20 anos atrás? Porque tudo isso é feito há 30 anos. (…) E a própria imprensa, vamos colocar a claro, essa imprensa sabia disso tudo e fica agora com essa demagogia. Me perdoe, mas eu realmente acho que todos deveriam fazer uma lavagem de roupa em suas próprias casas para ver o que a gente pode fazer”.
É uma fala que desnuda a hipocrisia com que os meios de comunicação tratam o tema. Concluindo que sempre souberam ou suspeitaram haver doações não contabilizadas para campanhas, por que nunca investigaram ou denunciaram? Por conivência ou por se beneficiarem?
O sistema político certamente merece críticas, julgamento e punições. Há motivos, de fato, para parte da rejeição social. Mas a generalização é um grande erro. Ao não se preservar os partidos e a política como instrumento fundantes da democracia, joga-se contra a própria democracia.
Neste sentido, muito boa a entrevista do cientista político Wanderlei Reis ao portal UOL:
“Nunca tivemos algo parecido com o ódio que vivemos neste momento. Nem mesmo na mobilização anticomunista que culminou no golpe de 1964. A relação desse ódio com a Lava Jato é inequívoca(…)”. Ele se diz preocupado com o clima antipolítica gerado pela Lava-Jato: “Não podemos prescindir dos políticos e dos partidos. Não existem alternativas reais a não ser que abdiquemos de fazer democracia”.
A avaliação de Luiz Nassif, no blog GGN (https://youtu.be/U-Jitnu6y90) é certeira sobre a irresponsabilidade dos operadores da Lava Jato, em especial do Ministério Público na maneira que fazem e divulgam as acusações e pedidos de inquéritos, deixando o mundo político a sua mercê, protegendo os que lhe interessam.
Pergunta o jornalista a certo momento: “O que vocês têm para colocar no lugar? Prisões continuadas? Penalizações absurdas que estão destruindo economia (…) Como é que se vai governar o país? Vai ter uma república de procuradores e rede Globo? (…) esse denuncismo deslavado, essa parceria ignóbil com a mídia, isso aí não é fazer justiça, isso aí é manipular os escândalos em favor de um projeto político que nem vcs sabem o que é (…) É ma fé ou profunda ignorância (…) tudo em nome de uma moralidade hipócrita, que coloca uma quadrilha no poder”.
É fato que a democracia está sob ataque. Por isso me recusei a escrever uma nota. Não se trata mais de ofertar publicamente respostas apenas individuais, em exercício do direito processual de defesa que é agredido e negado com vazamentos infames. Trata-se de responder coletivamente, como representante eleita de um poder que é sustentáculo do Estado democrático de direito.