Aos gritos, senador tucano tenta intimidar Gleisi HoffmannUm tumulto provocado por Ataídes de Oliveira (TO) agitou o início dos trabalhos do Senado, nesta segunda-feira (19). Depois de interromper a fala de Fátima Bezerra (PT-RN), que discursava na tribuna, ele, aos gritos, tentou intimidar Gleisi Hoffmann (PT-PR), que cobrava da mesa o prosseguimento da lista de inscritos na sessão.
O tucano Ataídes já vem se notabilizando pelos arrufos e bravatas que escolheu como método para a disputa dos holofotes desde que ascendeu ao cargo, em decorrência da doença e morte do eleito, o senador João Ribeiro (PR-TO). A interrupção de parlamentares na tribuna — quando expressam opiniões divergentes da sua, é claro — é a marca mais característica de sua atuação em plenário. O curioso, porém, é que as grosserias, ironias e tentativas de intimidação são sempre guardadas para as senadoras, jamais para os senadores.
“A senhora sempre vai a esta tribuna e fala o que pensa e o que quer”, esbravejou ele após arrancar um aparte ao discurso de Fátima Bezerra. Ele interrompeu a senadora nada menos que seis vezes seguidas pedindo um aparte. Fátima, que já estava concluindo o pronunciamento, lembrou ao tucano que seu tempo tinha estourado e que dependeria da mesa conceder-lhe a palavra.
O presidente da sessão naquele momento, o senador Dário Berger (PMDB-SC), sugeriu que Ataídes se inscrevesse, mas, face à insistência, acabou concedendo um minuto ao tucano, que passou a atacar Fátima, cobrando o fato de ela, uma representante das camadas populares, ter recebido doações de grandes empresas em sua campanha ao Senado.
Pobre, mas com contas aprovadas
Como Ataídes se alongava além dos dois minutos concedidos pela mesa, Gleisi Hoffmann (PT-PR) cobrou que se desse prosseguimento à lista de inscritos. Ataídes, possesso e fora do microfone, partiu para a intimidação, aos gritos. “É impossível ficar ouvindo o que esse senador desrespeitoso está falando aqui, Sr. Presidente”, indignou-se Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
Novamente com a palavra, Fátima lembrou que Ataídes, originalmente um suplente, era um “senador sem voto, exatamente como o governo Temer”, que ele tão exaltadamente apoia. Com o respaldo dos mais de 800 mil votos que obteve no Rio Grande do Note—estado que tinha 2,3 milhões de eleitores em 2014, quando ela disputou a cadeira no Senado — a petista lembrou que os R$3 milhões arrecadados para sua campanha foram submetidos ao crivo do Tribunal Superior Eleitoral, que aprovou suas contas. “Graças a Deus, tenho, na minha biografia, o orgulho de dizer que, até hoje, não paira sobre a minha campanha sequer suspeita de nenhum desvio de natureza moral ou ética”.
A senadora ressaltou que lutou para que fosse banido da legislação eleitoral o financiamento empresarial de campanha. As doações que recebeu de pessoas jurídicas ocorreram à luz do dia, quando a lei eleitoral do País ainda acolhia esse tipo de doação e permitiram que ela tivesse condições mínimas de concorrer a um mandato, enfrentando candidaturas muito mais abonadas. “Isso jamais fez com que eu submetesse as minhas ideias e meus princípios. O correto, lembrou, é afastar essa influência, como acontece agora na disputa de 2016. “Eu e meu partido sempre defendemos a mudança das regras, por acreditarmos que o financiamento empresarial está na gênese dos escândalos e dos desvios”.
Sobre sua condição de “pobre”, como havia ironizado Ataídes, ela reiterou a honra que sente por ser a primeira senadora de origem popular do Rio Grande do Norte. “Durante 50 anos, revezavam-se na tribuna do Senado, falando em nome de seu estado, os filhos das oligarquias ou os representantes do alto poder econômico. Com sua eleição, lembrou ela, as pessoas comuns passaram a ser representadas por uma professora de origem modesta”.
Postura condenável
Antes do faniquito do tucano, Fátima estava analisando os efeitos do comportamento pirotécnico dos procuradores da Operação Lava Jato sobre a imagem da instituição Ministério Público. Para a senadora, a entrevista coletiva convocada por eles na última quarta-feira (14) para apresentar a denúncia contra Lula faz parte de uma postura “condenável e muito triste”, por colocar em risco a credibilidade do MPF.
Ela lembrou que o Ministério Público, desde a Constituição de 1988, tem a missão institucional de ser fiscal da lei, defensor da democracia e dos direitos sociais e individuais indisponíveis. “Graças à Constituição cidadã, o MP ganhou autonomia para atuar de forma independente com relação ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário e essa autonomia só viria ser reconhecida integralmente exatamente no governo do presidente Lula”, afirmou, referindo-se à decisão do ex-presidente de respeitar a instituição, nomeando para o cargo de procurador-geral sempre o mais votado na consulta interna ao órgão. “Antes, a gente sabia como eram escolhidos os procuradores-gerais da República no nosso País, o que resultava nos engavetadores-gerais”.
O que está acontecendo agora, porém, é “uma série de abusos em uma flagrante perseguição política” contra Lula. “Lançam mão de teses mirabolantes para acusar Lula de crimes gravíssimos, baseados única e exclusivamente em suposições e ilações. Uma manobra política para garantir a continuação do golpe que tirou do poder a presidenta Dilma. Essa perseguição implacável a Lula é para impedi-lo de concorrer à Residência em 2018”.
Cyntia Campos