Valor destaca como governo petista atrai investimentos para o RS

Na mídia: segundo Tarso Genro, projetos derivados da nova política industrial atrairão R$ 21,6 bilhões em investimentos para o estado.


A receita do governo petista do Rio Grande
do Sul para atrair investimentos “está dando
certo”

Romper o isolamento com o Governo Federal, construir uma política internacional para o estado, estruturação e democratização incentivos fiscais, conectando-os às inovações tecnológicas e à pesquisa científicas. A receita do governo petista do Rio Grande do Sul para atrair investimentos “está dando certo”, afirma o jornal Valor Econômico em sua edição desta sexta-feira (22), num suplemento dedicado à economia do estado.  

A receita de sucesso é explicada pelo governador gaúcho, Tarso Genro (PT), numa entrevista ao jornal, que destaca a previsão de 56.400 novos postos de trabalho, com a implantação dos projetos derivados dessa nova política industrial, que atrairá R$ 21,6 bilhões em investimentos para o Rio Grande do Sul.

Veja a íntegra da matéria do Valor:

Articulação política traz novo cenário de negócios- Valor Econômico

 

O primeiro ano da gestão petista no governo gaúcho foi dedicado à costura de entendimentos com o governo federal em busca de recursos, à elaboração de uma política industrial, com criação e reformulação de incentivos capazes de atrair investimentos em setores tradicionais e em novos campos, como a energia eólica e da indústria naval.

O governador Tarso Genro também esteve empenhado em insistir junto ao empresariado sobre a necessidade de investir em inovação, criando um ambiente propício para estimular a instalação de parques tecnológicos. Está dando certo. Os 198 projetos ativos, apresentados depois do lançamento da política industrial, preveem investimentos de R$ 21,6 bilhões e, quando concretizados, vão significar a oferta de 56.400 mil empregos diretos. Leia trechos da entrevista que o governador concedeu ao Valor, para falar desses avanços:

Valor: Como o Rio Grande do Sul vai conseguir recuperar o tempo perdido e voltar a crescer mais expressivamente?
Tarso Genro: Atacamos em várias frentes. Primeiro, tiramos o Rio Grande do Sul do isolamento em relação ao governo federal. Compartilhamos os projetos locais e amealhamos recursos da União para investimentos em infraestrutura. Segundo, estabelecemos uma política internacional para o Estado, para podermos participar do processo de globalização, no qual os países têm de ser sujeitos e não objetos. Isso despertou o interesse de países como Coreia e Inglaterra. Terceiro, fizemos profundas reformas legais, estruturando e democratizando os incentivos fiscais. Conectamos esses incentivos às inovações tecnológicas e à realização de pesquisas científicas no Estado, engendramos um conjunto de relações com a academia e outras instituições, visando a instalação de parques tecnológicos. E, finalmente, organizamos um conjunto de arranjos produtivos locais, vinculados à base econômica histórica do Estado, que estão em franca reestruturação. Também estruturamos uma grande rede de microcrédito para atender as micro e pequenas empresas, de grande importância para a economia local, e reorganizamos o apoio ao setor cooperativo. Nossa política industrial, que abrange 22 setores, é o exemplo da estratégia que levará o Rio Grande do Sul a retomar o crescimento e a compartilhar do desenvolvimento do país.

Valor: Por que a decisão de elaborar um plano de desenvolvimento em casa, em lugar de entregá-lo para uma consultoria?
Genro:
Esta é uma questão chave. A promoção deste plano parte de uma concepção de crescimento de baixo para cima. Ou seja, de conectar nossa base produtiva instalada a partir de uma realidade já dominante no tecido produtivo do Estado, e fazer com que esse tecido produtivo se erga, se comunique com o projeto nacional de desenvolvimento e com o processo global. Fizemos mais de 200 reuniões com empresários, sindicatos, academia, especialistas, entidades empresariais, para forjar uma visão de como vamos nos conectar com o país e o mundo. Deu certo. Os agentes produtivos locais sabem que o desenvolvimento não se realiza exclusivamente nas fronteiras paroquiais do Estado.

Valor: A política de desenvolvimento da sua administração tem um ano. Já é possível identificar alguns resultados?
Genro:
Primeiro, a nova capacidade do Rio Grande do Sul de atrair investimentos privados de fora do Estado e do país, e a ampliação de empresas locais. Segundo, 40% dos arranjos produtivos locais que orientamos estão com medidas em andamento. Os nossos agentes financeiros, Badesul, BRDE, e o Banrisul, mudaram sua pauta de financiamento, se debruçaram sobre o processo de desenvolvimento e sobre a política industrial. Em último lugar, o sucesso espantoso da nossa rede de microcrédito. Já são mais de R$ 110 milhões em microcrédito. É bastante porque são créditos de R$ 8 mil a R$ 15 mil por operação.

Valor: Dos resultados obtidos, o que o senhor considera mais significativo para o desenvolvimento?
Genro:
A criação de um novo bloco social e econômico no Estado, com profundas consequências para o futuro. As políticas de desenvolvimento sempre foram patrocinadas de cima para baixo, excluindo a pluralidade necessária para promover um processo com certa margem de autonomia. Um exemplo: a visão de desenvolvimento existente até então era a seguinte – sigam as montadoras e serão felizes. As montadoras são muito importantes, estamos fazendo um esforço para atraí-las, e cumprindo os contratos. Mas é de uma mediocridade alarmante achar que um Estado vai ser desenvolvido, produtivo, gastando os incentivos exclusivamente com as montadoras. Ocorreu uma inversão muito importante, que possibilitou a formação de um novo bloco social e econômico com consequências políticas. Hoje, grande parte do empresariado sabe que é possível incorporar os agentes produtivos em um novo modelo de desenvolvimento regional.

Valor: Como foi recebida uma política industrial que, além dos setores tradicionais, considera prioritários novos segmentos, como o de semicondutores?
Genro:
No primeiro momento, com certa desconfiança. À medida que inserimos novos sujeitos de desenvolvimento, como a energia eólica e o polo naval, em que os governos estadual e federal desenvolveram com as instituições privadas um sistema para treinar e qualificar mão de obra, a visão dos empresários começou a mudar. Conquistamos a confiança de empresas como a Companhia de Celulose Riograndense, que está fazendo o maior investimento privado da história do Estado, de R$ 5 bilhões. Isso aconteceu em nossa administração que, como todos sabem, é de esquerda e que tem uma visão de desenvolvimento afinada com a do governo federal.

Valor: Qual a maior ambição de um governo que coloca ênfase na nova economia?
Genro:
Temos a ambição de constituir aqui uma espécie de Vale do Silício de bombacha, tomando chimarrão. Para isso, precisamos criar um ambiente de inteligência, de inovação. Isso não acontece sem o Estado ter uma participação fundamental. Se compararmos os investimentos em pesquisa nos editais, vemos uma brutal diferença em relação às administrações anteriores. Esse diferencial é percebido pela inteligência da academia, dos empresários, pela inteligência global. Até onde sei, somos o primeiro Estado a ter dispositivos legais permitindo, por exemplo, que o Estado pague o salário dos pesquisadores dos centros de pesquisa instalados aqui, desde que sejam vinculados aos 22 setores considerados prioritários.

Valor: O Estado conseguiu unir a academia e o setor produtivo, uma relação que está se tornando ainda mais estreita. O que isso traz como benefícios?
Genro:
Quando fui prefeito de Porto Alegre pela primeira vez, em 1992, organizei uma missão às tecnópolis europeias, composta pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) Universidade Federal (UFRS), pela Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), por instituições empresariais e pesquisadores do governo municipal. A recepção mais fria foi da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Naquela oportunidade, sua direção olhava o governo do PT como um adversário. Por meio do diálogo e do apoio da academia, a Fiergs participou da missão. Quando voltamos, a cidade não tinha recursos para criar a tecnópolis, mas a PUC e a Unisinos implementaram as suas, hoje centros muito importantes. Agora, os quadros empresariais da Fiergs têm outra compreensão das relações políticas que devem ser mantidas com o Estado, independentemente do partido no poder. Isso nos ajudou muito e deu sustentação ao nosso projeto de desenvolvimento. Por meio de nossas políticas, espero que o Estado se transforme em sujeito ativo, capaz de compartilhar das vantagens econômicas, financeiras, de acumulação e de relação de empregos proporcionados pela globalização.

Foto: http://diariogauche.blogspot.com.br

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