Está dando saudade dos 7 x 1. Apenas ao longo desta semana, o governo Bolsonaro conseguiu reunir tal acervo de vexames internacionais que dá vontade de voltar ao tempo em que o maior constrangimento de um brasileiro no exterior era ser questionado sobre a goleada impiedosa sofrida da Alemanha, dentro de casa, nas oitavas de final da Copa de 2014.
“O Brasil já foi grande internacionalmente. Tinha peso político. Ditava a pauta. Hoje, um governo pequeno nos diminuiu e nos tornou uma piada, um vexame no G20”, lamenta o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, avaliando a saraivada de ignomínias produzidas por Bolsonaro e sua trupe no cenário mundial.
Diversidade
Na semana em que se realiza a cúpula do G20, reunião das vinte maiores economias do mundo, o ramalhete de enxovalhos patrocinado pelo governo brasileiro é mais diverso que a fauna da Amazônia — para lembrar um dos motivos de críticas ao atual ocupante do Planalto.
Além de ganhar o título de “fracasso de liderança” em um relatório da ONU, Bolsonaro recebeu uma avaliação pouco lisonjeira da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, em função de seus planos funestos para a maior floresta do planeta.
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Sobrevivência do planeta
A política ambiental do atual governo brasileiro também foi objeto de críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, que reluta em apoiar o fechamento de um acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia diante das ameaças de Bolsonaro de se retirar do Acordo de Paris, compromisso multilateral sobre a redução de gases poluentes.
“A defesa do meio ambiente e dos Direitos Humanos não são questões ideológicas e partidárias. Estamos falando da sobrevivência do Planeta Terra”, pondera o senador Paulo Paim (PT-RS).
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Aerococa
O enredo de descrédito da imagem do Brasil no exterior, porém, vai muito mais além, como atestam o flagrante de tráfico de drogas em avião da Presidência, a grosseria a jornalistas na chegada ao Japão, onde se realiza a reunião do G20, e até uma desconcertante palestra do presidente sobre o potencial das bijuterias de nióbio como alavanca da pauta de exportações brasileira.
A apreensão em Sevilha (Espanha) de 39 quilos de cocaína levados por um sargento da comitiva de Bolsonaro abriu o flanco para que até o sisudo jornal francês Le Monde tratasse um avião da Presidência da República do Brasil pelo íntimo apelido de “Aerococa” em uma manchete.
“É escândalo atrás de escândalo: agora tem até traficante dentro de avião presidencial”, reagiu o senador Paulo Rocha (PT-PA).
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Desmoralização do Brasil
“Não é um broche, nem caneta. É uma mala, acima do peso permitido, apreendida pela polícia espanhola. Imaginem a imagem do Brasil lá fora”, protestou o ex-ministro da Defesa do governo Dilma Rousseff, o hoje senador Jaques Wagner (PT-BA).
Para Wagner, o episódio é “uma desmoralização para o Brasil e para a instituição Presidência da República”. O senador, que integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, cobra explicações. “Como pode alguém ser flagrado transportando 39 kg de cocaína em um avião presidencial? Era traficante? Foi posto lá a serviço de alguém?”, questiona.
Falta de sorte
O responsável pelas comitivas presidenciais é chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), general Augusto Heleno, para quem a apreensão da cocaína foi “falta de sorte” do sargento que transportava a droga.
“Talvez para o ministro, sorte mesmo fosse o militar ter conseguido entrar com a cocaína sem ser pego”, ironiza o líder do PT no Senado, Humberto Costa. O general que não deu sequer “um murrinho na mesa” diante da “falta de sorte” do subordinado é o mesmo que em recente momento de apoplexia espancou a mesa do café da manhã de Bolsonaro com jornalistas, exigindo “prisão perpétua” para Lula.
Imagem no lixo
Às críticas de Merkel — a quem nem mesmo Bolsonaro teria coragem de chamar de “esquerdista — o presidente Brasileiro reagiu dizendo que “a Alemanha tem muito o que aprender com o Brasil”. O general Heleno foi mais além e mandou Merkel e Macron irem “procurar sua turma”.
Se internamente Bolsonaro lidera “um governo sem norte, sem pauta, sem nada a apresentar para gerar empregos e tirar o país da crise”, como define o senador Humberto Costa, não é de se estranhar seu constrangedor desempenho nas relações internacionais.
Bolsonaro, resume Humberto, “não tem o menor preparo para o cargo que ocupa e leva a imagem do Brasil no mundo para o lixo”.