A volta do Brasil ao cenário internacional representa muito mais do que a garantia de investimentos, mas a retomada de laços estratégicos para o país. Em cerca de quatro meses, o presidente Lula firmou acordos internacionais bilionários e parcerias que podem render frutos ainda maiores no futuro.
“Acho que temos um mercado extraordinário. Depois das viagens que fiz, digo que, poucas vezes na história, o Brasil teve tantas chances de atrair capital de investimento direto como agora. E podem ficar certos de que nós conseguiremos”, disse Lula aos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), que foi nomeado nessa quinta-feira (4).
Apenas em quatro dias de viagem, quando esteve na China e nos Emirados Árabes, em abril, Lula garantiu acordos de R$ 62,5 bilhões com os dois países – R$ 50 bi com os chineses e R$ 12,5 bi com o país árabe. Contudo, o presidente ressaltou que, além dos recursos financeiros, o importante é a possibilidade de novos entendimentos em diferentes áreas.
“Eu regresso para o Brasil com a certeza de que nós estamos voltando à civilização. O governo está fazendo aquilo que é sua obrigação: se abrir para o mundo e, ao mesmo tempo, convencer o mundo a se abrir para o Brasil”, disse ele, na época.
Lula se referia à retomada de parcerias estratégicas. Uma delas é com os Estados Unidos, presidido por Joe Biden. Há cerca de duas semanas, Biden anunciou a intenção de contribuir com R$ 2,5 bilhões para o Fundo Amazônia nos próximos cinco anos.
“O presidente Lula não viaja a passeio. O trabalho dele nas agendas internacionais resulta, além dos investimentos, em parcerias firmadas em cada oportunidade de relação com países”, colocou a senadora Teresa Leitão (PT-PE).
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a atuação do presidente brasileiro no exterior demonstra uma legítima preocupação em reconduzir o país ao posto de player global, “após termos sido relegados à condição de pária internacional por Bolsonaro”.
“Em viagens recentes, já trouxe investimentos superiores a R$ 62 bilhões e recompôs laços históricos, abalados pelo fascismo e obscurantismo da gestão anterior. Temos de volta uma política externa ativa e altiva, com uma visão estratégica de mundo”, destacou o senador petista.
Aliados de peso
A recomposição citada por Humberto Costa é reforçada, por exemplo, nos acordos recentes assinados com a Espanha, que assume a presidência da União Europeia a partir de julho. No dia 26 de abril, Lula assinou três acordos com o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, envolvendo as áreas de educação, trabalho, ciência e tecnologia.
De acordo com a emissora CNN, Pedro Sánchez vê a parceria com os brasileiros como uma das mais importantes na esfera global. Um dos frutos dessa reaproximação deve agilizar o acordo entre os blocos do Mercosul e da União Europeia – que receberá forte apoio da Espanha para que aconteça o quanto antes. Os espanhóis também querem a entrada do Brasil na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual são integrantes.
A celeridade do acordo entre os blocos conta inclusive com o apoio de Portugal, nação que Lula também se reaproximou recentemente. Ao todo, o presidente brasileiro firmou 13 parcerias com o país europeu, envolvendo áreas como educação, saúde, energia, cooperação espacial, produção audiovisual e turismo.
Teresa Leitão reforça que os acordos bilaterais com os países europeus foram feitos para facilitar o acesso às universidades, mobilidade acadêmica, formação de docentes e desenvolvimento de projetos científicos conjuntos entre nossos países. “Com Portugal, o Ministério da Educação acordou um mecanismo para facilitar concessão de equivalência de estudos no ensino fundamental e médio e de diplomas. Essas medidas demonstram que o Brasil está em franca recuperação da sua credibilidade diante do mundo”, disse.
Como lembro o senador Paulo Paim (PT-RS), as parcerias firmadas são fundamentais para o crescimento econômico do Brasil, além da geração de empregos e renda, o combate à fome e à miséria e a preservação do meio ambiente.
“O Brasil voltou ao protagonismo regional e global com diálogo, verdade e respeito às outras nações, acreditando sempre na paz mundial. Estamos reconstruindo o país. O pacto é com a nossa gente, com todos os brasileiros e brasileiras. O caminho é longo, precisa de unidade e perseverança, mas vamos chegar lá”, ressaltou Paim.
Na avaliação da senadora Augusta Brito (PT-CE), refazer laços diplomáticos e comerciais com parceiros importantes tem sido uma das principais marcas do novo governo de Lula, reforçando alianças com aliados de peso.
“Nos últimos 4 anos, deixamos de lado aliados importantes e alguns foram tratados inclusive com grosserias, como a China, nosso principal parceiro comercial. Lula fez o Brasil importante novamente no cenário global ao visitar países como Argentina, China e Espanha. Com independência e profissionalismo, nossa política externa colabora para a retomada do desenvolvimento e melhoria da imagem do Brasil no mundo todo”, afirmou a parlamentar.
Retorno maior do que gastos
Lula retomou nessa quinta-feira as reuniões do chamado Conselhão, que reúne 246 integrantes dos 26 estados e do Distrito Federal, incluindo empresários, ativistas e representantes de minorias.
O objetivo é promover diálogos entre o governo federal e a sociedade brasileira, garantindo aos integrantes do conselho voz para assessorar o presidente da República na formulação de políticas e diretrizes voltadas ao desenvolvimento econômico e social sustentável, além do fortalecimento da democracia brasileira.
Durante o primeiro encontro do novo Conselhão, nesta quinta, Lula lembrou de uma história de quando foi presidente entre 2003 e 2010. Na época, a imprensa fez críticas aos gastos com viagens internacionais, mas esqueciam de citar os retornos garantidos nesses eventos.
“Conto sempre uma história que nós gastamos US$ 500 mil para fazer uma feira de sapato num país árabe, que não lembro qual era. Em seguida, um jornal brasileiro estampou na manchete: Lula gasta US$ 500 mil para fazer feira no exterior. Só que não disse que nós vendemos US$ 50 milhões. Toda moeda tem que ter as duas faces”, afirmou o presidente.