“No estado mais rico do País, governado pelo mesmo partido há mais de duas décadas, está comprovada uma absoluta falta de investimento na essência da vida, que é a água. São Paulo está enfrentando isso também por conta do erro administrativo de não ter investido em água”, afirmou o petista no plenário do Senado, impressionado pela fala do presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu.
Durante a audiência, Andreu relatou que o sistema de captação e abastecimento de água que atende a região metropolitana de São Paulo não recebeu grandes investimentos nos últimos anos. Apesar do crescimento populacional e urbanístico da metrópole, não executaram obras para garantir segurança hídrica e qualificar a regulação dos recursos hídricos no Brasil, principalmente em situações de crise. “[O Sistema Cantareira foi] iniciado em 1974 e concluído em 1984, com a finalidade de transferir 33 metros cúbicos por segundo [de água] para a região metropolitana de São Paulo. Isso foi feito ainda durante o governo militar”, elucidou.
Fenômeno meteorológico
De 2004 a outubro de 2013 as chuvas nos rios que abastecem o Cantareira foram normais e regulares; com exceção de 2010, quando o reservatório chegou ao seu nível máximo pela primeira vez na histórica, em razão do excesso de chuvas. O problema da escassez, segundo o presidente da ANA, começou no último período de chuvas, porque o volume de águas foi “incrivelmente baixo”. Estudos apontam que choveu 30% menos do que no período mais crítico anterior.
“O período de chuvas corresponde a cerca de 80% da afluência de água nesse reservatório; portanto, o que aconteceu foi que a água não chegou, e as retiradas em outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro se mantiveram no mesmo patamar”, destacou Vicente Andreu. “O problema hoje está, bastante grave, porque o reservatório chegou ao zero”, completou.
Para tentar evitar o racionamento de água o Governo de São Paulo adotou algumas medidas de urgência, como oferecer bônus nas contas de água para quem diminuir o consumo; diminuir a oferta de água à noite, evitando desperdício de água que vaza pelos dutos por excesso de pressão; e interligar outros reservatórios. Além disso, há 20 dias o volume morto – águas que estão abaixo do ponto de captação – está sendo utilizado; mecanismo que preocupa a ANA. Vicente Andreu ponderou que, como o estado atravessa seu período seco e não sabe como vai ser o volume de chuvas, as águas do volume morto podem não ser suficientes.
“Se continuar até novembro o fenômeno meteorológico climático de menos chuvas, precisaremos reduzir a quantidade de água ofertada”, disse Andre. “Sem isso, na nossa visão, caso o período úmido de 2014/2015 seja muito restritivo e se avançarmos sobre praticamente tudo o que é possível ser retirado do volume morto nesse momento, estaríamos expondo a região metropolitana de São Paulo e de Campinas a um risco exageradamente alto.”
Como engenheiro florestal, Jorge Viana ressaltou que essa mudança climática é fruto do descuido com o meio ambiente: “São Paulo tem concretamente uma das maiores taxas de desmatamento. Sua cobertura florestal foi retirada”. O senador ainda lamentou a ausência de representantes da agência de abastecimento de água paulista (Sabesp) e do Ministério das Cidades. “Uma pena. Lamentável. São Paulo não pode achar que vai enfrentar esse problema sozinho”, criticou.
Na avaliação do presidente da ANA, o momento exige uma decisão cautelosa e compartilhada com a sociedade. “Nós estamos falando de uma região que representa cerca de 25% do PIB brasileiro, e que do nosso ponto de vista precisaríamos ter uma posição mais forte da sociedade sobre o que ela entende ser mais adequado, sob o risco tão significativo para o futuro.”
Catharine Rocha