Um brasileiro exemplar, um atleta-cidadão apaixonado pela política. Este era o Doutor Sócrates, lembrado nesta segunda-feira(05/12) pelo senador Jorge Viana (PT-AC), que ocupou a tribuna do Senado para homenagear o capitão de um dos mais perfeitos times de futebol de todos os tempos — a Seleção Brasileira de 1982— e ídolo não só do Corinthians, mas de todos os apaixonados pelo esporte.
Viana destacou o papel de Sócrates, morto na madrugada do último domingo, aos 57 anos, como líder da Democracia Corinthiana, movimento que nos Anos 80 transcendeu os campos de futebol para se constituir “num alerta, num chamado à luta por liberdade e por democracia no Brasil”, confundindo-se com a luta pelas Diretas-Já e pela abertura política no País.
“Sei que o Brasil inteiro ficou triste, neste final de semana de decisão de campeonato, vencido pelo time que sempre foi referência para o sucesso do jogador Sócrates”, afirmou o senador acreano—torcedor do Botafogo carioca. “Tenho certeza que o Brasil inteiro chorou essa perda”.
Para Viana, Sócrates foi um exemplo de “afeição pelo estudo, pela busca do conhecimento”, que lutou para alcançar a formação em medicina, “um dos cursos mais difíceis”, ao mesmo tempo em que conseguia conciliar esse esforço com a dedicação ao seu talento para o futebol.
O ex-jogador sempre expressou preocupação com a grande quantidade de crianças que, Brasil afora, sonhando em ser ídolos, esquecem-se dos estudos, até que seja tarde para se preparar para uma profissão. “O Doutor Sócrates sempre dizia que esse não era um bom caminho. Que as crianças deveriam estudar e desenvolver seu talento esportivo ao mesmo tempo”, afirmou.
Viana destacou o comportamento de Sócrates dentro e fora do campo, seu compromisso com a redemocratização do Brasil, tarefa nada fácil no começo dos anos 80. “Foram momentos muito ricos e, quando atletas que são ídolos conseguem também nos ajudar a fazer os ajustes de que o País precisa, todos temos de agradecer”, salientou.
“Sócrates viveu tanto e tão bem a vida que exagerou na dose. Literalmente, exagerou na dose”, frisou o senador — o ex-jogador sofria de cirrose hepática, que ele mesmo, médico, reconhecia ser fruto do abuso do álcool.
Segundo Viana, expressando sua condição de cidadão e atleta, Sócrates jamais escamoteou esse fato, deixando mais um exemplo, desta vez sobre a necessidade de ajustar melhor o consumo de bebida alcoólica para que outros não passem pelo que ele passou.
“Quem dera que todos nós seguíssemos esse caminho do Doutor Sócrates, de nos preocuparmos com os outros, de nos preocuparmos com o aperfeiçoamento da sociedade, com o nosso País, com nossas crianças, com a liberdade e com a cidadania. Foi isso que fez durante a sua vida curta”, afirmou Viana. “Que o Brasil possa dar a devida atenção a essa história de vida brilhante dessa figura humana fantástica”, acrescentou.