Para Viana, o PIB esconde as desigualdades sociais, o mau uso dos recursos naturais e a real situação dos povos.
Dessa vez, da tribuna do Senado Federal, Jorge Viana (PT-AC) defendeu que o Brasil, ao sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em junho, deve se autoafirmar como liderança mundial. Na avaliação do senador, o evento é o plano de fundo ideal para que a presidente Dilma Rousseff proponha algumas quebras de paradigmas para atender aos interesses da sociedade moderna, especialmente a sucessão do PIB (produto Interno Bruto), como medidor de desenvolvimento econômico. “Enquanto o mundo tiver o PIB como guia, ainda estará no século passado, com consumo e atividades econômicas insustentáveis”, disse.
Para Viana, o PIB esconde as desigualdades sociais, o mau uso dos recursos naturais e a real situação dos povos. “O mundo de hoje, de sete bilhões de habitantes, tem mais de 1,5 bilhão passando fome, tem escassez de água. Então, o PIB há muito deixou de ser um instrumento eficiente, principalmente para o mundo que buscamos, da sustentabilidade. Não queremos só uma economia sustentável, queremos uma sociedade sustentável. Queremos um mundo mais justo e mais igual”, argumentou.
O petista recordou que o PIB, criado na década de 30 do século passado, já foi criticado por seu próprio criador, o russo Simon Kuznets. Dois anos após a elaboração do indicador, Simon disse que riqueza dificilmente pode ser um adequado medidor da qualidade de vida. E por isso, a verdadeira situação de um país, nação ou povo não pode ser aferida exclusivamente a partir da renda.
Ao relatar uma conversa com o filósofo e escritor Leonardo Boff, o senador disse que o pensador sugeriu a adoção do IBV (Índice do Bem Viver), como novo indicador de desenvolvimento dos países. A nova sigla, de acordo com Viana, deve deixar de ser apenas um número e incorporar a vida, as famílias, o jeito, a cultura e o acesso às questões básicas, como educação, saúde e segurança. Dessa forma, todo o planeta se verá obrigado a investir não apenas em produção e enriquecimento, mas em na distribuição da renda e inclusão social.
Se a nova bandeira de Jorge Viana vingar a ponto de pautar a Rio+20, o Brasil poderá marcar uma nova fase no Planeta, destacou o parlamentar. “Já imaginaram, depois da Rio+20, todos os países saírem com um novo indicador que possa ser eficiente do ponto de vista econômico, porque não precisa deixar de ser também um indicador econômico, mas que possa ser eficiente do ponto de vista social, para que possamos aferir melhor se as atividades econômicas estão incluindo as famílias, as pessoas, ou excluindo. E possa também ser eficiente do ponto de vista ambiental, se estamos adequadamente manejando os recursos naturais ou não”, sugeriu.
O senador Paulo Paim (PT-RS), que acompanhou o pronunciamento de Viana no plenário e o sucedeu nos discursos desta tarde, apoiou a defesa de um novo parâmetro mundial defendido pelo representante acreano. “Há uns que só olham o PIB e não olham o social. Nós temos que olhar também qual é a nossa responsabilidade com o social”, frisou.
A Conferência
A Rio+20 ocorrerá entre os dias 13 e 22 de junho de 2012. Ela acontece 20 anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), mais conhecida como Rio92. Os dois temas em foco na Conferência serão: uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável.
A Conferência será divida em três fases. Na primeira, de 13 a 15 de junho, ocorrerá a última sessão do comitê preparatório para discutir o texto final do encontro. Entre 16 e 19, haverá atividades dedicadas apenas a sociedade civil – das quais algumas pessoas serão escolhidos para atuar nas mesas de discussão e junto aos governos. E nos três últimos dias (20, 21 e 22), as reuniões serão com os chefes de Estado e Governo.
Catharine Rocha
Leia a íntegra do discurso do senador Jorge Viana (PT-AC)
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