A formulação de um projeto de crescimento econômico capaz de garantir a inclusão social e distribuição de renda precisa levar incorporar três dimensões da sustentabilidade — econômica, social e ambiental. É o que defende o senador Jaques Wagner (PT-BA), que vem os esforços para ampliar a reflexão sobre um “novo arranjo verde” que contribua para a conquista do desenvolvimento.
Para contribuir com essa reflexão, Wagner presidiu nesta terça-feira (5) o Seminário Grande Impulso para a Sustentabilidade, um debate sobre novas formas de compreender o desenvolvimento, à luz dos 17 objetivos propostos na Agenda 2030, um compromisso elaborado pela Organização das Nações Unidas do qual o Brasil é signatário.
Superar a desigualdade
“O maior desafio ao desenvolvimento, no Brasil, é a desigualdade”, lembra Wagner, para quem um projeto social e econômico que consiga superar essa mazela não apenas é perfeitamente compatível com a sustentabilidade, mas será mais eficaz quanto mais contemple essa dimensão.
O seminário foi organizado pela Subcomissão Grande Impulso para a Sustentabilidade, que funciona no âmbito da Comissão de Meio Ambiente e é presidida por Wagner, e pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas (Cepal).
Foram ouvidos o ex-ministro de Indústria, Energia e Mineração do Uruguai, Roberto Kreimerman, o diretor do escritório da Cepal em Brasília, Carlos Mussi, o representante da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o gerente de Sustentabilidade da empresa do setor de papel Suzano, Cristiano de Oliveira e a diretora-presidente-adjunta da empresa de energia elétrica Neoenergia, Solange Ribeiro.
Novo modelo
Um exemplo de sucesso da aposta na sustentabilidade é o Uruguai, que em 15 anos passou de importador de energia elétrica a exportador, ao mesmo tempo que vem assegurando o acesso da maioria de sua população a esse serviço com significativa ampliação de fontes renováveis e não-poluentes.
Como relatou o ex-ministro uruguaio Roberto Kreimerman, primeiro foi preciso quebrar o paradigma neoliberal que vigia no setor, com as agências reguladoras e as empresas assumindo a formulação da política energética do País.
Além disso, foi crucial a mudança radical na matriz energética, até então firmemente baseada no petróleo, que respondia por 56% de toda a produção — para o transporte e para o funcionamento das termelétricas — e onde a queima de lenha representava 17% do total.
A partir de 2005, a tarefa de formular a política do setor energético do Uruguai foi assumida pelo Estado, que passou a considerar não apenas o lucro dos empreendimentos, mas os interesses da maioria dos uruguaios. O acesso à energia elétrica passou a ser tratado como um direito humano no Uruguai, mudando a realidade, especialmente no campo.
A aposta em alternativas ao petróleo não está sendo boa apenas para o meio ambiente no Uruguai, mas também para a economia e a soberania do país, que não produz esse insumo e ficava ao sabor do mercado internacional e da variação de preços em dólar.
A aposta uruguaia foi em fontes renováveis — eólica, solar e biomassa — que hoje respondem por 63% do total da energia consumida e por e 98% da geração de energia elétrica no país.