Bancada petista quer que Serra explique chantagem para evitar que Venezuela presida o Mercosul

Bancada petista quer que Serra explique chantagem para evitar que Venezuela presida o Mercosul

Humberto: “Peço desculpas ao Uruguai. Estou envergonhado. O Brasil não merece essa política externa”.A Bancada do PT no Senado quer convocar o ministro interino das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), para explicar a tentativa de “compra do voto” do Uruguai para impedir que a Venezuela assuma a presidência temporária do Mercosul. A chantagem de Serra ao governo uruguaio foi narrada pelo chanceler Rodolfo Nin Novoa  ao Parlamento daquele país, conforme revela reportagem publicada nesta terça-feira (16) pelo diário El País, de Montevidéu.

O senador Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado e integrante da bancada brasileira no Parlamento do Mercosul, anunciou ao plenário a apresentação de um requerimento de convocação de Serra para que venha explicar à Comissão de Relações Exteriores (CRE) da Casa. “Parece-me uma coisa gravíssima uma denúncia feita por nada menos que o ministro das Relações Exteriores do Uruguai e que, se verdadeira, depõe muito mal contra o nosso País”, afirmou. “Peço desculpas ao Uruguai. Estou envergonhado. O Brasil não merece isso que nós estamos vendo hoje na nossa política externa”.

Segundo o chanceler uruguaio, Serra ofereceu ao Uruguai a participação em acordos comerciais que o Brasil vem “negociando com o Irã e com países da África Subsaariana” em troca de um voto simpático à posição do governo interino do Brasil, que tenta isolar a Venezuela no Mercosul.

Cruzada golpista
A cruzada pelo golpe no Mercosul que levou o ministro interino ao Uruguai teve a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e acabou como um incidente diplomático: segundo Nin Novoa, o presidente Tabaré Vazquez ficou “profundamente irritado” com a barganha proposta, que significaria a ruptura das regras que regem o Mercosul e que foram pactuadas entre todos os países membros.

“Ficou no Uruguai a convicção de que o governo golpista do Brasil tentou comprar o voto uruguaio nessa grave questão”, protestou Humberto Costa. Ele citou também a reação do presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados do Uruguai, Roberto Chiazzaro, que tratou como “abominável” a tentativa de “chantagear o Uruguai”.

Mais um vexame

“Essa não é primeira vez que o chanceler interino Serra envergonha o Brasil no exterior”, lembrou Humberto. “Em recente viagem ao México, esse mesmo chanceler teve o desplante de fazer uma piada misógina na presença da chanceler daquele país, o que causou grande impacto negativo na opinião pública mexicana”. Para o líder do PT, Serra, que não é diplomata de carreira, “parece disposto a destruir a imagem do Brasil no exterior”.

Humberto destacou que o governo interino do Brasil parece querer exportar para o Mercosul as práticas que levaram à tentativa de impeachment da presidenta Dilma, usando como pretexto o fato de que a Venezuela deixou de cumprir partes de acordos que foram firmados no Mercosul. Pelas regras do bloco, a presidência temporária é exercida em regime de rodízio, com mudança a cada seis meses, obedecendo à ordem alfabética.

“O fato se torna mais grave ainda porque o ministro de Relações Exteriores tentou comprar esse apoio, segundo palavras do chanceler uruguaio, prometendo ajuda para relações comerciais na África e também com o Irã”, lamentou o líder petista. Para ele, a postura do Brasil sob a administração interina está virando chacota internacional.

“Essa política externa dos golpistas é a negação do que sempre foi a tradição brasileira nas relações internacionais”, disse Humberto em entrevista à TV venezuelana Telesur. Ele lembrou que, historicamente, o Brasil sempre se destacou pelo respeito à autodeterminação dos povos e dos países e que jamais se utilizou de expedientes como esse relatado pelo governo uruguaio como forma de convencimento de outras nações.

senador lindbergh farias 16agoLindbergh: criticou o incidente diplomático gravíssimo que pode atrapalhar relações no MercosulGrosseria e retaliação
A denúncia do chanceler uruguaio contra Serra foi um dos temas mais debatidos na sessão plenária desta terça-feira (16) no Senado. Para Lindbergh Farias (PT), o governo interino protagonizou um “incidente diplomático gravíssimo no Mercosul”, bloco fundamental para os interesses comerciais do Brasil. “A relação Brasil-Uruguai é muito sólida”, lembrou ele, expressando preocupação de que a grosseria de Serra possa prejudicar essa ligação entre os países.

Exposto o modus operandi do governo golpista e lembrados os prejuízos que esses podem trazer ao Brasil, a reação dos partidários de Temer, Serra e companhia foi tentar retaliar a Venezuela, apresentando um requerimento ao plenário para que o Senado manifeste apoio ao boicote movido contra a presidência da Venezuela no Mercosul. O senador José Aníbal (PSDB-SP), suplente de Serra, tentou até mesmo atropelar o regimento para aprovar a proposição sem o cumprimento de qualquer trâmite. Foi travado pelo protesto de Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Esse requerimento não está na Ordem do Dia. Não foi lido, nem debatido”, alertou a senadora.

Humberto chamou a atenção para a prática recorrente dos aliados do governo interino. “Essa ideia de ficar descobrindo pretexto jurídico para assumir posições políticas, desrespeitando regras do Brasil, regras internas como a Constituição, e agora as regras do Mercosul, parece que está virando uma praxe”, afirmou o senador, lembrando que “três decretos de suplementação orçamentária e uma tal pedalada” estão sendo usados para tentar cassar o mandato da presidenta Dilma.

Um pretexto para não aceitar a Venezuela na presidência do Mercosul seria o descumprimento de algumas cláusulas do acordo que constitui o bloco. O detalhe é que esse não é um privilégio venezuelano. Nem o Brasil, nem a Argentina, nem o Paraguai cumprem integralmente as normativas do Mercosul. “E em nenhum momento alguém apareceu para sugerir que o Brasil não pudesse assumir a presidência”.

senadora Gleisi Hoffmann 16agoGleisi: superávit comercial com a Venezuela é de US$ 29 bilhões

Enfrentamento burro
Para Gleisi, é inaceitável que uma parte do governo brasileiro se coloque contra as regras estabelecidas no Mercosul, que tem um rodízio da sua Presidência. “Não é possível que este Governo interino, que está dando um golpe do Brasil, queira também exportar esse golpe para nível do Mercosul”.

Ela destacou a importância do Mercosul para o comércio exterior brasileiro. “Só com a Venezuela, nos últimos anos, nós tivemos um superávit de US$29 bilhões na nossa balança comercial. Além de tudo, é uma burrice do governo brasileiro fazer esse confronto, esse enfrentamento”.

Desculpas ao Uruguai
Integrante da bancada brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) fez questão de pedir desculpas públicas ao Uruguai, da tribuna do Senado. “A grande façanha da Chancelaria brasileira nesse momento foi conseguir se atritar com o Uruguai. A Presidência do Parlasul fica no Uruguai exatamente pelo equilíbrio desse País no concerto dos países que compõem o Mercosul e o Parlasul. Mas o nosso José Serra conseguiu um atrito, tentando negociar um voto, o que é uma vergonha absoluta para a história da Chancelaria brasileira”, concluiu Requião.

Assista ao vídeo dos senadores cobrando resposta de José Serra

 

Cyntia Campos

 

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