ARTIGO

Não conseguirão calar o PT. Não conseguirão esconder Lula do mundo

Ao contrário do que as cabeças ignaras podem supor, o mundo árabe é bastante diverso, tanto em termos religiosos quanto políticos e culturais
Não conseguirão calar o PT. Não conseguirão esconder Lula do mundo

Foto: Reprodução

A respeito das incrivelmente desinformadas “acusações” contra Gleisi Hoffmann, por ter dado uma entrevista à TV Al Jazeera, à qual foi absurdamente associada a uma espécie de incitação a ações da Al-Qaeda no Brasil, aqui vão algumas informações básicas:

  • A Al Jazeera é a maior emissora do mundo árabe e tem sede em Doha, Catar, país bastante conservador. É conhecida por ser um espaço de comunicação democrática no mundo árabe. Antes da Al-Jazeera, o público árabe tinha, em geral, somente acesso a canais oficiais controlados por governos, com frequência autoritários. A Al Jazeera rompeu com esse oligopólio estatal, mesmo sendo também uma TV parcialmente governamental, e passou a veicular informações plurais com bastante independência.
  • Tal independência provocou reações negativas no Ocidente. Nas guerras do Afeganistão e do Iraque, por exemplo, os escritórios da Al Jazeera foram bombardeados pelas forças norte-americanas, pois sua cobertura destoava do ufanismo das TVs norte-americanas. Na ocasião, a Al Jazeera recebeu um prêmio por sua resistência à  censura. A homenagem foi do grupo britânico Index on Censorship(Índice de Censura), concedida em razão da independência da Al Jazeera e sua reputação de divulgar notícias confiáveis. O lema da empresa è “a opinião e a outra opinião”, evidenciando sua pluralidade. Até mesmo judeus são convidados para falarem na Al Jazeera.
  • Além da Al Jazeera árabe, há a Al Jazeera in English (internacional) e até uma Al-Jazeera America. O grupo tem 70 escritórios espalhados pelo mundo e, somente no mundo árabe, uma audiência televisiva de 53 milhões.
  • Quanto ao Catar, país com renda per capita superior a US$ 80 mil e dono da terceira maior jazida de gás natural do mundo, trata-se de país de política externa conservadora, muito alinhada ao Ocidente, como a dos países do Golfo Pérsico de um modo geral, mas também com boas relações com Moscou e Irã, em virtude dos interesses comuns no comércio do gás natural. Saliente-se que é no Catar que os EUA possuem a sua maior base militar no Oriente Médio. Trata-se da base aérea de Al Udeid. Tal base serve de comando estratégico para as operações que os EUA e aliados realizam no Afeganistão e no Iraque.
  • Assim sendo, associar a Al Jazeera e o Catar à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico é simplesmente ridículo. Coisa de energúmenos preconceituosos. Ou de gente de profunda má-fé, que gosta de desenvolver discursos fascistas e de ódio.
  • O interesse da Al Jazeera sobre o presidente Lula é perfeitamente compreensível. Com Lula, o Brasil aprofundou muito suas relações com o mundo árabe e o Oriente Médio, com ganhos comerciais e diplomáticos expressivos para nosso país. A corrente de comércio brasileira com o Oriente Médio pulou de US$ 3,7 bilhões, em 2002 (último ano de FHC), para US$ 18, 4 bilhões, em 2014, Ou seja, os governos do PT multiplicaram por 5 o intercâmbio comercial com os países do Oriente Médio. Além disso, houve grande aproximação diplomática e política com os países dessa região. Nesse processo, os estados brasileiros exportadores de alimentos se beneficiaram muito, já que o Oriente Médio tem produção agrícola insuficiente para suprir as suas necessidades Em 2016, ano de crise, o Rio Grande do Sul exportou US$ 1,12 bilhão para o Oriente Médio, graças esses mercados abertos pelo Presidente Lula.
  • Ao contrário do que as cabeças ignaras podem supor, o mundo árabe é bastante diverso, tanto em termos religiosos quanto políticos e culturais. Há países muitos conservadores e aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, por exemplo, e países que tem uma política externa independente ou conflitante com a da maior potência do planeta. Há também países sunitas e países xiitas. Há, do mesmo modo, cristãos, no mundo árabe. Há até mesmo judeus, nos países árabes.
  • O Brasil, sob os governos do PT, procurou, pragmaticamente, manter boas relações com todos eles, pois é do nosso interesse nacional do país que assim seja. Desse modo, mantivemos boas relações com os países do Golfo, que são conservadores e alinhados aos EUA, mas também mantivemos boas relações com a Síria, o Irã e outros países que têm uma inserção geopolítica distinta. Essa atitude não discriminatória do Brasil fez do nosso país uma autêntica liderança mundial e converteu Lula no primeiro grande líder internacional brasileiro.
  • Nosso país tem muita afinidade com o mundo árabe e recebeu, especialmente no final do século XIX e no início do século XX, um grande contingente de imigrantes árabes, provenientes do Líbano e da Síria, então sob domínio do Império Otomano, que deram inestimável contribuição à nossa formação social e cultural.
  • No que tange à questão palestina, o Brasil é um defensor histórico de um Estado palestino soberano, viável e territorialmente coeso, tal como recomenda a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947.
  • Muito ao contrário do que as mentes distorcidas e xenófobas podem supor, árabe e muçulmano não são sinônimos de “radical” e “terrorista”. A imensa maioria da população árabe e da população muçulmana é pacífica e ordeira e abomina o terrorismo. Associar uma coisa à outra implica promover discurso de ódio e discurso racista e xenófobo, crimes passíveis de punição em nossa legislação.
  • Diga-se de passagem, segundo o Institute for Economics and Peace (IEP), think thank que se dedica a mensurar e analisar o terrorismo em todo o mundo, boa parte das vítimas do terrorismo está justamente no Oriente Médio. Assim, em 2014, 41% das mortes por terrorismo ocorreram no Oriente Médio e no Magreb. Trata-se da região com o maior número de atentados e mortes por terrorismo. Portanto, a população árabe e muçulmana é a mais afetada pelo terrorismo.
  • A presidenta Gleisi, como fez com todas as outras emissoras do mundo, apenas denunciou a prisão política de Lula e mencionou a solidariedade internacional para com o único presidente do Brasil que realmente alcançou envergadura mundial. Tal solidariedade não se restringe ao mundo árabe, mas também se verifica na África, nas Américas, na Europa, na Ásia etc.
  • Os ignorantes talvez não saibam, mas o presidente Lula goza de grande prestígio internacional, de modo que há enorme interesse, por parte das emissoras do planeta, no seu caso. O mundo questiona a prisão, numa condenação sem provas, desse grande líder comparável à Mandela.
  • O movimento de solidariedade mundial ao presidente Lula cresce a cada dia e a entrevista à Al Jazeera se insere dentro dessa tendência internacional. É isso que irrita os golpistas.
  • A reação preconceituosa e beócia à entrevista da presidenta Gleisi reflete profunda ignorância histórica, diplomática e política e revela mentalidade xenófoba e autoritária, típica de quem não aceita diferenças étnicas, culturais e religiosas. Aqui dentro e lá fora.
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