Preocupado com a situação dos haitianos, Acre poder fechar fronteira

Estado diz que não tem mais como acolher
superpopulação de imigrantes

No ano passado, os senadores Jorge Viana e Aníbal Diniz – ambos do PT do Acre já alertavam em plenário e em entrevistas à imprensa, sobre a complicada situação dos imigrantes haitianos que se amontoavam por alojamentos e ruas de cidades como Brasiléia e Epitaciolândia,  próximas à fronteira com o Peru. As duas cidades fazem fronteira com a Bolívia e são as duas principais entradas de imigrantes ilegais.

Agora, o governo estadual quer  pedir ao Governo Federal que feche temporariamente a fronteira para o trânsito de haitianos, para evitar uma tragédia que se avizinha: o Acre não tem como abrigar e alimentar, em condições dignas, uma população flutuante que cresce a cada dia..

Desde 2010, a cidade de Brasileia, no sul do Acre, recebe haitianos que chegam ao Brasil pelo Estado utilizando a rodovia binacional Carretera Interoceanica. De um fluxo de 30 a 40 haitianos em meses como setembro ou outubro, o número aumenta para 70 ou 80 imigrantes por dia no mês de janeiro. Sem contratações em vista, eles vão se acumulando em Brasileia. “Quando as empresas contratam, eles chegam e vão”, afirma Mourão. “Mas, se não contratam, eles chegam e ficam.”[

A situação piora a cada dia. “Se um colchão daqueles pegar fogo, vai ser uma tragédia”, diz o secretário. A expectativa do governo do Acre é de que no próximo fim de semana 1,5 mil haitianos estejam alojados em Brasileia. Desde dezembro de 2010, quando chegou o primeiro grupo de haitianos, até hoje passaram pelo Acre 15 mil imigrantes.

Atualmente, 1,2 mil haitianos estão abrigados em um espaço onde cabem, no máximo, 300 pessoas. São distribuídas 3,6 mil refeições diariamente. “Em nome da dignidade dessas pessoas, é preciso que nós tomemos uma atitude urgente”, diz Mourão. “Da forma como está, aquilo ali é uma tragédia anunciada”. Brasiléia é uma cidade pequena, com apenas 10 mil habitantes

Situação emergencial

Há duas possibilidades de fechamento da fronteira: ou entre Assis Brasil (Acre) e Inapari (Peru) ou no Peru/Equador (entrada dos imigrantes na América do Sul). Nas duas hipóteses, são exigidas soluções diplomáticas. A alegação do secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, é que a atual situação é “insustentável” e que a “administração do caos chegou ao limite”.

O secretário já informou o governador do Acre, Tião Viana (PT), sobre a situação e sugeriu o fechamento da fronteira como medida emergencial. Ainda não se sabe quando o governo irá formalizar o pedido.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, está acompanhando a situação e marcou uma reunião para a próxima segunda-feira – com a Casa Civil e o governo do Acre – para discutir o assunto. Há em curso um plano nacional de integração dos imigrantes.

Crise humanitária e exploração 

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“A rota clandestina que os traz a Brasileia
é atividade de uma organização criminosa,
os coiotes, traficantes, que, explorando
aqueles que não têm mais como ser
explorados, fazem o translado dessas
pessoas deste o Haiti, até o Panamá,
depois para o Equador, atravessam o
Peru e chegam na fronteira com a Bolívia”

A rota que traz os haitianos ao Acre começa na vizinha República Dominicana (país que divide com o Haiti o território da ilha caribenha de Hispaniola), passa pelo Panamá, Equador e Peru. O fluxo, que em 2010 foi de 37 haitianos ingressando no Brasil pelo município de Brasileira (na fronteira com a Bolívia), não para de crescer.

Jorge Viana já alertou inúmeras vezes para o caráter humanitário da situação dos haitianos, mas destaca que a rota ilegal não faz parte do sonho de integração do Brasil com o Haiti nem é resultado de uma política proativa do País para estender a mão a um povo que sofre as conseqüências de um desastre natural e de gravíssimos problemas sociais. “A rota clandestina que os traz a Brasileia é atividade de uma organização criminosa, os coiotes, traficantes, que, explorando aqueles que não têm mais como ser explorados, fazem o translado dessas pessoas deste o Haiti, até o Panamá, depois para o Equador, atravessam o Peru e chegam na fronteira com a Bolívia”.

Ele também chama a atenção para o mau uso que os coiotes vêm fazendo da crise humanitária do Haiti, já que o acolhimento do governo brasileiro aos refugiados daquele país vem contribuindo para consolidar Brasileia como porta de entrada de imigrantes ilegais de todas as partes do mundo.

Giselle Chassot, com agências de notícias

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