Neste 11 de março de 2022, completam dois anos da declaração de pandemia de Covid-19 por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde então, o novo coronavírus matou mais de seis milhões de pessoas, sem contar as subnotificações. Um dos efeitos mais fatais da doença foi registrado no Brasil: em abril de 2021, o país que tem 3% da população mundial registrou 33% das mortes por dia no mundo. E a culpa, como ficou provado na CPI da Covid do Senado, é do governo Bolsonaro. Mas, enquanto a população brasileira aguarda ansiosamente o encaminhamento do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, sobre o pedido de indiciamento de 81 pessoas sugerido pelos senadores, o vírus passa por diversas mutações que o tornaram mais transmissível e mais perigoso.
A lista de eventos que constituem uma tragédia anunciada no Brasil começa com o presidente da República, Jair Bolsonaro, em uma transmissão oficial em rede de rádio e TV negando a doença, comparando-a uma “gripezinha”. Depois Bolsonaro vira garoto propaganda de um tratamento precoce ineficaz. E segue com ataques aos governadores e prefeitos que viram os sistemas de saúde colapsando em outros países e decidiram respeitar as recomendações da OMS. A postura antagônica de Bolsonaro provou uma divisão na sociedade e, em agosto de 2020, foi registrada a grande marca de 100 mil mortos.
“Cada uma dessas pessoas abatidas pelo coronavírus tem importância. Precisamos olhar mais de perto como parte do luto que o país deve experimentar”, disse o senador Jean Paul Prates (PT-RN), à época.
Em dezembro de 2020, a primeira pessoa do mundo é vacinada no Reino Unido, após uma verdadeira corrida para decodificar o vírus e desenvolver a cura da doença. No Brasil, só em 18 de janeiro de 2021, as primeiras doses de vacinas são aplicadas, um dia após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A partir daí a vacinação começou a passos lentos, combinada com a postura negacionista de Bolsonaro que continuava estimulando os brasileiros a tomarem medicamentos ineficazes contra a Covid-19 em detrimento das vacinas. O faturamento dos laboratórios de remédios do chamado ‘Kit Covid’ explodiu: mais de R$ 1 bilhão em 12 meses. Enquanto isso, o Senado brigava para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas a base do governo operava e mantinha a investigação na gaveta. Foi preciso uma decisão ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, para que a CPI comesse a operar, em abril do ano passado.
Em quase seis meses de trabalho, a CPI da Covid colheu mais de 50 depoimentos, quebrou 251 sigilos, analisou 9,4 terabytes de documentos e fez mais de 60 reuniões. E nesse caminho, é inegável que o trabalho de investigação desempenhado pelos parlamentares ajudou a salvar vidas pelo País em meio à pandemia.
As investigações promovidas pelos parlamentares mostraram ao Brasil como o governo Bolsonaro, de forma deliberada, atrasou o processo de vacinação ao adotar a estratégia de disseminação do vírus para que a população obtivesse a imunidade natural, ou a chamada imunidade de rebanho. Na avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE), a CPI foi imprescindível para ajudar a salvar vidas.
“Graças ao trabalho da CPI, vacinas foram compradas, o calendário de imunização avançou, a população acordou para a quantidade de mentiras difundidas por esses charlatões que defendiam imunidade de rebanho e tratamentos ineficazes”, frisou Humberto.
Bolsonaro rejeitou inicialmente a compra da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantã, e perdeu a oportunidade de iniciar a vacinação ainda em dezembro de 2020, como disse na própria CPI, o diretor do instituto, Dimas Covas. Os senadores também descobriram que o governo Bolsonaro se recusou a responder mais de uma centena de e-mails com ofertas de vacina da Pfizer e da Astrazeneca. Os laboratórios confirmaram que só foram procurados pelo governo após a forte pressão do movimento pró-CPI.
“A CPI proporcionou antecipar o cronograma de vacinas, pressionou para que tivesse vacinas para todos os brasileiros, impedimos que tivesse esquemas de corrupção bilionário montados no Palácio do Planalto”, destacou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
A população brasileira esperava de um governo sério, o compromisso com a vida em meio a pandemia. Ao invés disso, Bolsonaro preferiu dar ouvidos a charlatões e avalizou a criação de um Gabinete Paralelo dentro do Ministério da Saúde. O grupo era formado por médicos negacionistas, empresários, instituições de saúde que faziam pacientes de cobaia, como a Prevent Senior, e alguns membros do governo. Foi esse Gabinete, que, por vezes contrariando as orientações até de alguns ministros da Saúde, gestou a política em torno do tratamento ineficaz – com Kit Covid –, que teve como uma das consequências mais mórbidas o caos por falta de oxigênio em Manaus, capital do Amazonas.
Sob forte pressão, o governo decidiu então comprar vacinas, mas a troco de muita propina. A CPI teve acesso a vários depoimentos e documentos que comprovam um esquema de corrupção milionário. Um dos mais emblemáticos foi a tentativa de compra da vacina indiana Covaxin, que custaria R$ 1,6 bilhão por 400 milhões de doses de vacinas, que sequer existiam, com a empresa norte-americana Davati.
“Mostramos a corrupção que grassa nas entranhas da administração, sob o nariz, a conivência e o benefício do presidente da República e de sua família. Então, acredito que a CPI cumpriu seu papel e, sobretudo, salvou muitas vidas a partir do momento em que fez esse governo desastroso se mover”, finalizou Humberto Costa.