No contexto dos 50 anos das relações entre o Brasil e a República Popular da China, o vice-presidente Geraldo Alckmin, titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), encontrou-se com o líder chinês, Xi Jinping, na sexta-feira (7), em Pequim. Eles participaram da cerimônia de assinatura de acordos de R$ 24,6 bilhões em concessões de crédito ao Brasil, a serem investidos em infraestrutura, incluindo obras para recuperar os danos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Uma das parcerias foi um memorando de entendimento firmado entre o Ministério da Fazenda e o Banco Asiático de Investimentos e Infraestrutura (AIIB) garantindo R$ 5 bilhões de suporte emergencial ao Rio Grande do Sul. “Tenho certeza que a reconstrução será maior que a destruição”, assegurou Alckmin.
Já o Banco de Desenvolvimento da China (CBD) vai emprestar R$ 4 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse aporte está reservado a projetos ecológicos, voltados às mudanças climáticas. Outros R$ 3,6 bilhões cedidos pelo CBD servirão para incrementar a capacidade do BNDES de investir na economia brasileira.
O Banco do Brasil (BB) também fechou acordo com o CBD para liberar linhas de crédito na ordem de R$ 2,5 bilhões. Com o Banco de Exportação e Importação da China (Eximbank), o BB acertou mais R$ 2,5 bilhões em empréstimos, visando a facilitar o comércio e as relações bilaterais entre os dois países.
Por fim, o BNDES e o AIIB protocolaram carta de intenção para negociação de crédito no valor de R$ 1,3 bilhão.
“Concluímos esta missão à China com resultados muito satisfatórios. Garantimos mais de R$ 24,6 bilhões em financiamentos para projetos diversos no Brasil, com foco significativo na reconstrução do Rio Grande do Sul”, disse Alckmin.
O vice-presidente reafirmou ao governo chinês o compromisso do governo Lula com o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente, ressaltando que o Brasil é um país estável, com economia em expansão e que, recentemente, aprovou reformas como a tributária, que facilitam ainda mais os investimentos no país.
Alckmin também destacou as parcerias em post na rede social X. “Formalizamos no Banco de Investimento em Infraestrutura da Ásia (AIIB) duas captações, que totalizam R$ 6,3 bi para infraestrutura, inclusive a reconstrução do RS. Infraestrutura sustentável, construção de resiliência climática e difusão tecnológica são três focos do AIIB, que estão em plena sintonia com os objetivos do governo do presidente Lula. Obrigado, Jin Liqun!”, disse.
Na viagem de quatro dias ao país asiático, Alckmin também deu prosseguimento, juntamente com autoridades chinesas, à Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). Os diálogos resultaram em R$ 5,7 bilhões de empréstimo ao RS, por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e na venda de 120 mil toneladas de café brasileiro (US$ 500 milhões) à maior rede de cafeterias da China, a Luckin Coffee.
Cooperação Sul-Sul
A jornalistas presentes no Grande Salão do Povo, o presidente chinês falou em aprofundar a parceria entre Pequim e Brasília. Para Xi, “as relações Brasil-China transcendem o escopo bilateral e servem como paradigma para promover a união dos países em desenvolvimento e a paz e estabilidade no mundo”, sendo imperativo “estreitar a colaboração estratégica e dotar a amizade Brasil-China de novos conteúdos”.
Desde 2009, os chineses se tornaram os maiores parceiros econômicos do Brasil, com sucessivos superávits registrados pela balança comercial brasileira. Acompanhado de cinco outros ministros de Estado, Alckmin se disse honrado por fortalecer, ainda mais, a parceria e chegou a se referir ao Brasil como “a China dos trópicos”. “A China é, para nós, inspiradora”, elogiou. “China e Brasil são parceiros e irmãos que avançam juntos com a mesma vontade e aspiração”, acrescentou.
Ambos os países integram o BRICS – grupo composto também por Rússia, Índia e África do Sul. Em 2024, cinco novos membros anunciaram integração: Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia. Em fevereiro, Dilma Rousseff (PT), presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como banco do BRICS, anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) do bloco havia superado o do G7.
O termo “Cooperação Sul-Sul” foi cunhado por estudiosos das Relações Internacionais para descrever parcerias entre países em desenvolvimento, que detêm características e encaram desafios semelhantes. Assim como o Brasil, a China está empenhada na redução das desigualdades sociais e no enfrentamento da fome e da pobreza.
Se quase 40 milhões de brasileiros pararam de passar fome durante os dois primeiros mandatos do presidente Lula, a China experimentou o maior processo de ascensão social da história da humanidade, com mais 800 milhões de pessoas deixando a linha da miséria.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, viajou com Alckmin na comitiva à China. Em entrevista ao tabloide chinês Huanqiu/Global Times, ele ressaltou estar focado nos esforços de coordenação estruturante entre os dois países ao mencionar o projeto de ferrovia conectando o Brasil ao Oceano Pacífico. “Convidamos mais empresas chinesas a participar. Facilitará o comércio entre Brasil e China, além da Ásia, reduzindo o tempo de transporte”, disse Costa.
Ao Renmin Ribao (ou Diário do Povo), principal veículo de comunicação do Partido Comunista da China, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT-SP), ressaltou que “o Brasil espera tirar experiências valiosas da prática chinesa em promover redução da pobreza e revitalização rural”.
Relações Brasil-China
As relações Brasil-China remontam ao início do século XIX, mas foram interrompidas devido à revolução liderada e vencida por Mao Tsé-Tung, em 1949. Durante a abertura política no Brasil, o governo do general Ernesto Geisel restabeleceu relações diplomáticas com Pequim, em 1974, e novas embaixadas foram criadas nas duas capitais.
Desde então, a parceria tem se baseado em princípios como a igualdade de tratamento, a não interferência em assuntos internos e o benefício econômico mútuo.
Mas as trocas comerciais começaram a se intensificar em 2004, durante o primeiro governo Lula, quando foi criada a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).
Em 2009, no segundo mandato de Lula, os dois países estabeleceram uma parceria estratégica que previa a ampliação do comércio bilateral e a cooperação em diversas áreas, como infraestrutura e tecnologia.
No mesmo ano, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil e tem sido uma das principais fontes de investimentos externos no país, com destaque para os setores de eletricidade e de extração de petróleo, bem como de transportes, telecomunicações, serviços financeiros e indústria.
Fruto desse esforço da política externa brasileira, o país alcançou, em 2023, o maior superávit comercial da sua história (US$ 98,8 bilhões), do qual o comércio com a China participou em 52%.
A China tornou-se o primeiro país a adquirir mais de US$ 100 bilhões em produtos brasileiros no período de apenas um ano, mais de 30% da pauta de exportação nacional.
Estudo do banco estadunidense J.P. Morgan antecipou que a China deve superar os Estados Unidos como a maior economia do mundo em 2027.
Com informações do MDIC e Folha de S.Paulo