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Com voto favorável do PT, Senado aprova Gabriel Galípolo como novo presidente do BC

Galípolo garantiu que terá total autonomia de trabalho e atuação firme no combate à inflação. Nome do economista foi aprovado por ampla maioria no plenário: 66 votos a favor e apenas cinco contrários

Alessandro Dantas

Com voto favorável do PT, Senado aprova Gabriel Galípolo como novo presidente do BC

"Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar com o presidente Lula, me foi dada a garantia de liberdade na função [no Banco Central]", disse Gabriel Galípolo

A partir de 1º de janeiro de 2025, o Banco Central (BC) terá um novo presidente por quatro anos: o economista Gabriel Galípolo. O nome dele foi aprovado na noite desta terça-feira (8/10) pelo plenário do Senado com 66 votos favoráveis e apenas cinco contrários, tendo contado inclusive com apoio irrestrito do PT no Senado.

O economista vai substituir o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Galípolo ocupa atualmente o cargo de diretor de política monetária na autarquia. Antes disso, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em 2023, no início da gestão de Fernando Haddad.

Nas redes sociais, o senador Humberto Costa (PT-PE) celebrou a escolha de Galípolo como novo presidente do BC.

Mais cedo, o economista havia passado por uma sabatina que durou 5 horas na Comissão de Assuntos Econômicos, onde teve seu nome aprovado por unanimidade. O parecer favorável à indicação de Galípolo para o cargo foi apresentado pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

“O seu currículo […] revela o alto nível de qualificação profissional, a sua larga experiência em cargos públicos e a sua sólida formação acadêmica, com a devida capacitação em assuntos econômico-financeiros”, disse o parlamentar.

Ao abrir a sabatina, Galípolo destacou ter recebido a garantia do presidente Lula de que terá liberdade na tomada de decisões do BC.

“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar com o presidente Lula, me foi dada a garantia de liberdade na função. Cada ação e decisão deve se pautar no bem-estar de cada brasileiro. Reitero que todas as conversas que tive com senadoras e senadores foram no sentido de assegurar o compromisso com os cidadãos brasileiros”, afirmou o agora presidente eleito da autoridade monetária.

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A autonomia do Banco Central em relação ao governo federal é garantida pela legislação, que estabelece mandatos aos diretores e ao presidente da instituição que não coincidem com o período de mandato do presidente da República.

Quanto à inflação, Galípolo destacou que esse é um compromisso permanente do BC.

“A bola em que o Banco Central tem que estar de olho é a inflação. O que isso sugere ao BC? Que a gente deve assistir a um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Como à instituição não cabe correr risco, a função dele é ser mais conservador, para garantir que a taxa de juros esteja no patamar necessário para se atingir a meta que foi definida”, disse.

O tema também foi tratado durante questionamentos feitos pelo líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (PT-AP). O parlamentar destacou o aumento da nota de crédito do Brasil, divulgado pela agência norte-americana de classificação de risco Moody’s. O senador também questionou o motivo de especialistas lamentarem a melhora do grau de investimento do país.

Em resposta, Galípolo afirmou que a economia estar crescendo não é uma notícia ruim.

“Nosso mandato é buscar a meta de inflação, com uma economia que vem mostrando uma pujança maior que o que a maior parte dos economistas esperava na virada do ano. Isso não é uma notícia ruim, que a economia vem crescendo. A questão é como a gente consegue ter esse crescimento de maneira sustentável e que o crescimento da demanda venha acompanhado do crescimento da oferta, para que isso não se reverta em inflação e, eventualmente, em uma corrosão do poder aquisitivo das pessoas”, disse.

Na mesma linha, o senador Rogério Carvalho (PT-SE), ao falar sobre os preços administrados no Brasil, como os combustíveis, afirmou que a reindexação de preços administrados na economia trouxe inflação estrutural para o país.

O parlamentar lembrou que o Banco Central hoje conta com autonomia consolidada e que a política monetária da instituição deve estudar as variáveis econômicas, mas também “ficar de olho” nos elementos estruturais que levam ao aumento da inflação.

Elogios e questionamentos

CAE 08.10.2024

Durante a sabatina, integrantes do PT no Senado elogiaram a capacidade do economista para atuar na função, além de levantarem temas caros para o país.

A senadora Teresa Leitão (PE), por exemplo, questionou Galípolo sobre o papel do Banco Central na promoção de políticas sustentáveis e sobre suas propostas para integrar questões ambientais nas decisões de políticas monetárias e no controle dos riscos financeiros associados às mudanças climáticas.

Em resposta, Galípolo afirmou que os maiores bancos centrais do mundo fazem reuniões regulares e existem divergências sobre o quanto isso deveria ser incorporado às instituições. O economista também afirmou que o BC está atento ao tema, colaborando com o governo federal.

“Vejo para o Brasil uma grande oportunidade de se firmar como um polo [de sustentabilidade]. O Brasil tem tanto uma segurança alimentar quanto energética, contando com uma matriz energética mais limpa. Esse custo de transição seria menor, em um mundo em que você corre o risco de ter várias pressões inflacionárias”, apontou o economista.

Já o senador Paulo Paim, ao mencionar a catástrofe climática no Rio Grande do Sul, falou sobre a oferta de crédito para os estados. Paim questionou o agora presidente eleito do BC sobre de que forma a autoridade monetária pode desenhar uma política que ajude a estimular o investimento privado em infraestrutura sem gerar pressão inflacionária ou causar desequilíbrio macroeconômico nacional. 

“A regularização para obtenção de financiamentos é um tema importante. Toda a parte operacional do BC já identificou onde está o problema que foi levantado aqui. Há um processo de dificuldade de regularização justamente por falta de braços nos estados. Estudamos alternativas, dentro do BC, para saber como agilizar o processo e não penalizar o produtor, o que ocorre muitas vezes pela dificuldade do tempo de se ter a obtenção de que se está regularizando a área”, respondeu o indicado à presidência do BC.

Currículo

Gabriel Muricca Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 2009, fundou a Galípolo Consultoria, da qual foi sócio-diretor até 2022. Entre 2017 e 2021 foi presidente do Banco Fator.

Além de membro dos conselhos Superior de Economia e de Infraestrutura, ambos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), é Pesquisador Sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

Entre os anos de 2006 e 2012, atuou como professor da graduação da PUC-SP em disciplinas como Economia Brasileira Contemporânea; Macroeconomia; Economia para Relações Internacionais; Introdução à Ciência Política, História do Pensamento Econômico, Economia Política, entre outras.

A atuação no Executivo começou em 2007, quando integrou o governo de José Serra (PSDB) no estado de São Paulo, onde chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos. Em 2008, foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos e PPPs da Secretaria de Economia e Planejamento do estado.

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