Alessandro Dantas

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do Governo em exercício no Senado Federal, concedeu entrevista à revista Veja nesta quinta-feira (11/9), e fez duras críticas ao voto do ministro Luiz Fux no julgamento dos oito réus do núcleo central da tentativa de golpe de 08 de janeiro, que envolve diretamente o futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Na medicina, fala-se em voto teratológico: monstruoso, sem uniformidade, sem forma definida. Foi o que ele apresentou: uma decisão sem pé nem cabeça”, afirmou Carvalho, destacando a contradição do voto.
Segundo ele, a decisão de Fux absolve Bolsonaro, apontado como chefe da ordem, mas condena subordinados diretos, como Mauro Cid, e até um ex-ministro, candidato a vice-presidente, Braga Netto.
Para Carvalho, embora Fux tenha reconhecido que houve tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, a “decisão não responsabilizou quem mais se beneficiaria de um eventual golpe”.
“Ele condenou dois integrantes considerados cabeças da trama, mas não imputou o crime a quem efetivamente se beneficiaria disso. Quem se beneficiaria era o presidente Jair Bolsonaro”, declarou o senador.
Além disso, o senador ressalta que, numa estrutura hierárquica como a das Forças Armadas, é impossível dissociar os executores do mandante. “É óbvio que a ordem vinha do presidente”, disse.
Malabarismos jurídicos e a narrativa bolsonarista
Em outro momento, o senador criticou o impacto político do voto de Luiz Fux, afirmando que a decisão abre espaço para reforçar a narrativa de perseguição política utilizada por bolsonaristas. “O voto deu munição para essa narrativa. Politicamente, a fala de Fux será usada como instrumento para sustentar a tese de que o golpe não existiu e de que Bolsonaro é inocente”, alertou.
“Vi nas redes sociais a frase ‘In Fux we trust’. Isso mostra o quanto ele foi protagonista de malabarismos jurídicos lá atrás, e agora faz o mesmo neste julgamento”, acrescentou.
Contra anistia aos golpistas
Questionado sobre a discussão no Congresso Nacional a respeito de um possível projeto de anistia, Rogério Carvalho foi categórico: “não há espaço no Senado para anistiar quem tentou destruir a democracia”.
“Acredito que o Senado não terá disposição de votar anistia, pois isso abriria espaço para inocentar os mandantes da tentativa de golpe de Estado”, declarou.
Para ele, o voto de Fux, com argumentos considerados frágeis, apenas reforça a preocupação de que setores políticos busquem atenuar a gravidade dos crimes. “A grande questão é: a quem ele atendeu para apresentar um voto tão contraditório?”, questionou o senador.