Dúvida na CPMI, após nova denúncia mortal contra Perillo: o que é melhor, reconvocar o governador, correndo o risco de repetição de perguntas e respostas, ou encaminhar processo ao STJ?
A repercussão da reportagem da revista Época desta semana, que denuncia acerto de contas e pagamentos irregulares na venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, para o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tornou-se o principal assunto político do dia. Além da constatação de que a reputação do governador sofreu abalo mortal, há dúvidas sobre a eficácia de nova convocação de Perillo para explicar-se diante das novas acusações.
A proposta de reconvocação do governador para explicar os diálogos e os comprovantes de pagamento que a revista publica, formando a triangulação Cachoeira-Perillo-Delta, está sendo defendida pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT). A denúncia é clara: parte do dinheiro da venda da casa de Perillo a Cachoeira, cerca de R$ 500 mil, foi pago pela Delta a Perillo que, em troca, liberou antes pagamentos de dívidas atrasadas do governo com a Delta.
A contundência da acusação da revista – sustentada pelo que já se sabe da infiltração da organização criminosa de Cachoeira no governo de Goiás – é reforçada pelas gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça. O texto não deixa dúvidas, a começar pelo título – “Como a Delta pagou Perillo”, e descreve em detalhes a ativa participação de personagens já conhecidos da CPMI, como o ex-vereador do PSDB, Wladmir Garcez, e o assessor especial do governador, Lúcio Fiúza Gouthier – dois importantes elos da associação entre o governo Perillo e a organização criminosa de Cachoeira.
A revista resume:
“A corrupção neste caso, como em tantos outros, nasce na oportunidade que o Poder Público oferece: um detém a caneta que pode liberar o dinheiro; outro detém o dinheiro que pode mover a caneta. Na simbiose entre a Delta e o governo de Goiás, Garcez e Abreu eram os sujeitos que se dedicavam a fazer o dinheiro girar, multiplicar-se. Não há caixa de campanha ou questiúncula política nessa história. O objetivo era ganhar dinheiro.”
A denúncia motivou o nascimento da proposta de reconvocação de Perillo para depor na CPMI, mas há dúvidas quanto à sua eficácia entre líderes de partidos adversários, no caso, o líder do PT, Walter Pinheiro, e o do PSDB, Álvaro Dias. Ambos temem que a vinda de Perillo redunde em repetição de perguntas e respostas já feitas no primeiro depoimento do governador – e nada esclareça. Pinheiro defende que a CPMI remeta o caso para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por intermédio da Procuradoria Geral da República (PGR).
Álvaro Dias, além do mesmo receio de que a reconvocação de Perillo repita a primeira, aponta ainda que a fila de depoentes é longa – apenas 8% dos depoimentos requeridos foram realizados – e que a vinda do governador pode fazer com que outros depoentes “ganhem tempo” para enfrentar a CPI.
Mas o líder do PSDB está com a confiança abalada após as revelações da reportagem. Abandonando a defesa incondicional do governador, Álvaro Dias subiu ao plenário do Senado nesta segunda-feira para pedir que o “PSDB tome providência”. “Vamos ouvir nosso partido. Cabe ao nosso partido tomar providências e dar explicações ao povo brasileiro”, afirmou o senador, antecipando que a bancada do PSDB “não irá se opor a uma eventual reconvocação”.
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